quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Sobre caminhos...

Onde está o caminho? Como sabemos se estamos no caminho ou não?
Quando a dúvida nos toma, como manter a confiança de que continuamos no caminho?

Definitivamente, enquanto estamos, estaremos em movimento. Caminhamos, mesmo que sem caminho, mesmo que não-conscientes... Ou a fazer tal caminho a partir do próprio caminhar... como uma estrada que se forma a partir das pegadas que deixamos, ela existe por onde a gente passou, e passa... mas não tem uma rota, trajetória definida... o futuro.

Talvez...

As perguntas do começo acabam, geralmente, se voltando para um anseio de avaliar as coisas, os caminhos e as escolhas e medir. Buscar por resultados, como se procuram por marcos e referências para se fazer um mapa... "um mapa do tesouro" muitas vezes. Uma expectativa de que no final daquela estrada encontraremos uma pá e um "X" no chão e um belo tesouro de pirata para desenterrarmos.

Avaliamos pelo resultado, os "frutos no caminho", as referencias encontradas, que reforça nossa convicção que estamos "no caminho certo" e encontraremos um belo tesouro ao final.

Eventualmente, se não enxergamos, porque há poeira em nossos olhos, porque estamos cansados, ou está escuro, nossa convicção é posta a prova, pela falta de méritos, pela seca de resultados... nosso caminho é questionado, o que fazemos, deixamos de fazer... como fazemos...

Mas qualquer um está em movimento, porque só por estar, já não é mais aquilo que foi, é um sempre "sendo". E mesmo que trace seu destino e tente determinar sua reta, seu caminho, as vias pelas quais percorrerá sempre serão diferentes daquilo que tinha em sua imaginação. Essa é uma das coisas mais encantadoras e duras de se perceber no mundo: A diversidade do mundo, daquilo que encontramos no não-esperado, na surpresa, a nos tirar de nossos lugares comuns...

E como nossos caminhos se alteram, as vezes sem quase nos darmos conta de que a pouco defendiamos com convicção que "isso nunca vai mudar"... mesmo quando os planejamos com todo cuidado e zelo, somos pegos de surpresa, pela nossa própria experiência no mundo. E por mais estabanada, dura, ou engraçada, essas experiências nos transformam... Ou "nelas, nos transformamos..."

A nenhuma cidade que fui (planejando ou não), as ruas eram iguais as que eu tinha imaginado antes de chegar. Nem iguais eram os momentos e as situações. E é difícil para mim julgar e estabelecer, quais foram os frutos colhidos, os méritos coletados, durante a trajetória (até por ter uma aversão a essas coleções);

"Valeu a pena?" "O que você conquistou/ganhou/evoluiu/etc... com isso?"

A importância está para quem pergunta em diferente lugar para quem a pergunta é feita.
Não sei medir a importância das pegadas deixadas na areia, muitas delas o vento já apagou,
nem consigo ver mais donde é saí. E não sei se tenho pretensão de chegar, porque também não sei pra onde vou.

É necessário pautar, nossas escolhas e caminhos, a partir de um julgamento sobre os méritos, sobre o valor de por onde passamos? Quantas medalhinhas conquistamos no caminho?


E se eu preferir olhar pro vento?


O impulso do mérito, conquistador,  é como arrancar as asas de borboletas que encontrei pelo caminho, só para provar que as vi...


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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Causa mortis...

Causa mortis é a expressão que se usa para dizer do principal fator que causou a morte de alguém. Diversas são as causas da morte de uma pessoa que aparecem nesses atestados, falência múltipla dos órgãos que pode decorrer de um câncer ou de envenenamento do sangue, de uma infecção generalizada. Pode ser esmagamento da caixa toráxica ou do crânio; Parada cardíaca, morte encefálica...

Não sei como se referem aos suicídios por ingestão de medicamentos, ou quando alguem se corta, se enforca, ou se joga de algum lugar. Também não diferenciam nos acidentes de carro, a causa mortis de quem estava tonto no volante e quem não...

A morte é por "parada cardíaca" e não de "tristeza" ou de "falta de sentido no mundo". Bom, raramente também reportamos nosso desgosto, ao ponto de deixarmos claro os motivos que tem nos matado, no atestado, a falência multipla dos orgãos, o infarto fulminante, não vão dizer do desgosto e da dor, não vão dizer da angustia.

Não se trata de querer que conste tais coisas no atestado de obito de alguém. Até mesmo porque não sabemos quando morrermos "de fato", mas morremos, um pouco, todo dia... Todo mundo morre, várias vezes na vida, antes de morrer "da vida".

Todos os dias quando volto pra casa, eu vejo pessoas nas ruas a dormir, eu vejo as pessoas no onibus cansadas, vejo pessoas a minha volta em grande sofrimento... pelas pressões, pelos acasos, pelas necessidades. O que for... aonde se olha com atenção é possível enxergar.

 Abandonos da alma, do corpo e suas misérias. Falta de tempo. Intolerância com os outros. Intolerância consigo mesmo...

Enquanto isso, há quase meio século, no Colônia, um dos principais Hospicios de Barbacena, modelo para a estruturação de escolas e prisões, matou quase sessenta mil pessoas em duas décadas.

Mortes de frio, de abandono, ou de extermínio, nada que conste na causa mortis de ninguem. Muitos dos pacientes do Colônia ali haviam sido internados com o seguinte diagnóstico: Tristeza.


[E ainda dizem vou morrer por causa da Coca.]



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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Agulhas...

Tenho uma dor.

Como mil agulhas na pele.


Por dentro,
  entre os músculos,
  encravadas nos meus ossos.


Correndo pontiagudas pelo sangue.




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