segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Sobre os poemas...

Um dia contaram para mim que eu escrevia poemas. Eu não sabia, eu quase sempre sento aqui e escrevo, n'outras horas desisto, n'outras horas olho para página em branco diante de meus olhos ou simplesmente sou distraído por outras coisas, e isso nunca teve nome... As vezes "meus escritos"... ou "os textos do blog".

Embora a prosa vá se desfazendo ao longo do tempo, nessas linhas soltas nunca foi meu intuito tornar as palavras poemas, na verdade são elas que me indicam o caminho, como a harmonia de uma música... as frases as vezes são jogadas como pedem (ou como podem), e em alguns parágrafos só cabe uma palavra, noutros, nenhuma...

As palavras e eu, nós nos pedimos mutuamente. Não poderia viver sem dize-las, e são elas que me dizem a todo momento. Me escrevem a todo momento...E a todo momento, me despertencem...

Tocam nas vidas de outras pessoas, transformar e são transformadas, magicamente, ganham outros nomes, texturas, dimensões..

Essas palavras que se pertencem, não me pertencem e por isso ganham outros nomes além dos que dei...
Porque, como para mim, "dizem muito" à outras pessoas...


Fico feliz que seja assim.

Obrigado.


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Passagens...

Passa um tempo, ou vento...

E Tudo vira calmaria.

Já não importa mais contar as dores.


No auge da angustia, todas as angustias a se desfazerem em pó.

A tristeza se cala diante do silencio...

A serenidade brota da terra devastada,

E transforma...

Aquilo que já não é


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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Ruínas...

Um Colosso de Rhodes risonho despenca de cabeça para baixo,

Cheio de trincas e rachaduras, pronto para se espatifar contra o mundo.



Segurado apenas por uns poucos fios de teia de Aranha amarrados no céu.


Desse Céu, chovem Fragatas e Galeões de guerra, com seus canhões a vomitar flores mortas.

Não há estrelas no céu porque não é possível vê-las.

O ar carregado tem cheiro de incenso,

Não há nada na Terra que permaneça,

Me lembro que a única coisa que "temiam os Gauleses"

"Era que o Céu caisse sobre suas cabeças"...

E eu, que achava isso tudo tão estranho...


Acho que entendo...



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Das coisas que entristecem...

O quanto perdemos tempo com os "resultados" e as "cobranças" e não podemos aproveitar a companhia de quem nos é importante. Como as obrigações que deveriam produzir uma vida prospera, se tornam muitas vezes, a causa da própria infelicidade...

Como deixamos de nos falar, por motivos frágeis, apegados à expectativa que tínhamos sobre os outros (e vice-versa) justificando para nós mesmos um rompimento que muitas vezes nem desejávamos.

Me entristece o poder capaz de cortar (ou silenciar) laços. Do sofrimento que surge com as insatisfações que carregamos sobre nós mesmos, com todas as nossas "culpas" e "deveres" a nos preencher como cacos de vidro...

Outdoors me entristecem. Com seus sorrisos brancos, com seu modo de vida, "consumo-felicidade", com sua reprodução exaustiva, a ponto de não ter para onde olhar que não me remeta à esse modo "shopping-center" de ser-estar.

Me incomoda a exclusividade das coisas. E as justificativas do privilégio...
A insanidade que ronda o senso comum, dessa desumanidade que muitas vezes tenta se justificar como Justiça.

O tédio de meus alunos me entristece, pois queria que amassem com fervor a vida a cada momento, pudessem a aproveita-la e descobrir como dela criar, sem serem compelidos e forçados a vivenciar esse tédio por tantos e tantos anos... Me entristece a violência com que aprendem a se relacionar.

E a terrível sensação de impotência diante do tamanho das dificuldades. Dos meus próprios problemas... Das coisas abandonadas.


Me entristece saber que a dor, a morte ou a doença, todo tipo de sofrimento que estamos sujeitos, passa desapercebido às nossas pequenas disputas diárias... Sinto saudades de pessoas que não vejo mais. E delas o meu respeito para evitar tamanha tolice.
Me entristece essa ruína de mim mesmo, que luta pra se recompor.
Esse sem-rumo, levado por uma maré de perguntas,
E os meus fracassos intermináveis... e essa intolerância toda...



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Tempo cultivado...

Com o tempo, as coisas que cultivamos,

passam também a nos cultivar.

Se tornam parte de nós e nós, delas.

Passamos assim, a viver dessa simbiose,
              daí o sentido do verbo Apropriar-se...

É a arte da simbiose com a Vida, que torna tudo o que não é igual, inédito.

Que transforma a nossa forma,
E forma.

E Cria...

 A nós mesmos.

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começo...

As mãos escondem olhos que observam, escondem sorrisos e choro.
E o coração apertado no peito, apertado de não aguentar mais - conflito e confusão.

No final, não parecem todas as exigências tão mesquinhas?
Nossas pequenas disputas cotidianas, nosso culto ao nosso "eu", à imagem que criamos de nós?
Não é estilhaçada de época em época essa vidraça, com o vento do tempo, carregado de suas intempéries?

E com que fim? Se apenas o fim é o destino?

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sábado, 7 de dezembro de 2013

A Desconfiança é um sentimento solitário...

Não desconfiamos de quem não faz diferença, de pessoas cotidianas cujos vínculos que formamos não extrapolam sua formalidade diária. Podemos até assumir para nós mesmos comportamentos desconfiados em relação ao mundo, crendo não valer à pena dar chance a ninguém, uma vez que toda e qualquer pessoa está sujeita a nos decepcionar.

Mas não raro isso é uma extensão, da desconfiança que nos importa, a desconfiança causa dessa desconfiança do mundo - e sobretudo a que mais nos fere - é aquela que nutrimos sobre quem amamos. E nem é necessário que tenham nos enganado, as vezes apenas a  frustração com algumas poucas pessoas amadas, frustrações que fazem parte da existência de qualquer um de nós, nos machuca profundamente, nos enche de dúvida.

E nesse lugar em nós das pessoas que importam, das pessoas que extrapolam a monotonia do convencional, aqui, a desconfiança é uma faca muito afiada.

Especialmente afiada, porque o engano não é antagônica ao amor, mas muitas vezes nele justificada.
 Daí sua angustia mais profunda: Justamente por sermos amados, fomos "enganados".
Essa vinculação sinistra entre Amor e Engano, nos leva facilmente a associar que todo amor pode estar maculado por essa terrível sombra do "engano justificado"... Esse medo tende a se estender e permear cada novo vinculo que criamos.

Talvez daí venha boa parte dessa desconfiança geral em relação ao mundo, afinal, uma vez que, se aqueles que mais amamos e desprendemos de nós para estar por perto, não conseguimos (ou não podemos) confiar, em quem mais poderíamos?

Os sacerdotes modernos do Desapego saúdam três, quatro, cinco vezes, a desconfiança em relação ao mundo, esse culto ao afastamento, ao "Estado Mínimo" de vínculos e pessoas à nossa volta. E boa parte de nós acredita ser profundamente sábia e racional tal atitude em relação à nós mesmos, em relação às pessoas que encontramos e que aos poucos tornamos "inextrapoláveis"...

Absolutamente presas ao cotidiano nas quais às congelamos, de nada permitimos que faça que possa nos alcançar, nos tocar, nos desequilibrar. Mais do que a elas, não nos permitimos extrapolar, arriscar não mantê-las no convencional - nos congelamos.

Esse sentimento que parece liberdade, é uma solitária. É um bloco de gelo ao qual nos encerramos na expectativa de nos "imunizar" ou repelir a dor, evitar sofrer, que acaba se tornando "evitar viver".

Essa desconfiança surgida primeiro em relação a quem amamos. Nos toma e nos devasta por dentro. Nunca estando aqui em questão, se os outros são confiáveis ou não. A partir dessa experiência frustrante, criamos fórmulas, teorias e máximas para definir a humanidade segundo as nossas aflições e passamos a suspeitar de todos, nos fechamos à possibilidade de entrega, à possibilidade do dizer francamente e do acreditar no que ouvimos e, em algum tempo, no que nós mesmos dizemos..


A Desconfiança é, deveras, um sentimento terrivelmente solitário.




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