domingo, 28 de dezembro de 2014

Alguns pensamentos sozinhos...

Perceber o vento, e o peso do corpo. Concentrar-se na respiração, é uma busca por focar a mente no presente. Não seria despertar presentificar a mente?

O esforço sem o anseio pelo resultado, o esforço mais difícil de ser realizado?

A espera pelo resultado, não é , de uma certa maneira, uma expectativa sobre as coisas incertas e impermanentes?

Pensamentos solitário me acompanham, tenho por algum tempo sido aluno-sem-professor. Por minha responsabilidade, evidentemente, desconfiado, meu pote tem muitas coisas, não está vazio...

Me atraem as coisas que são menos estruturadas, menos comprovadas, me atraí aquilo que não preocupa em se dizer verdade, e se afirmar a partir de provas.. Há para quem isso seja importante, e que bom. Porque imagino, que não é importante que saibamos de tudo e sejamos tão amplos e equilibrados, abarcar tudo em nós, é importante estar aberto à possibilidade da diferença, conviver bem com ela (e isso é com frequência bastante difícil).

Meu melhor exemplo é a escola. Muitas vezes me disseram, que minhas pretensões são utópicas, porque em qualquer meio em que eu possa vir a lecionar, a maioria dos outros professores não pensarão como eu... Antes, esse pensamento me assustava, me fazia sentir isolado e lutando contra algo muito maior... hoje eu acho bom...

Porque é a percepção da diferença, o que eu desejo comunicar... A existência de docentes e práticas do ensinar diferentes dentro de um mesmo meio, não é ruim, mas enriquecedora da experiência dos alunos, em termos da construção da percepção deles, de sua autonomia, sobre aquilo que desejam, aquilo que escolhem, aquilo que toleram...

E isso eu tomo para minha vida... de certa maneira... me afirmo dentro dos meus radicalismos e limitações... não pretendo abarcar tudo.

Me agrada o que se desfaz, o que não prende, a não verdade, a duvida...

O que mais me encantava no estudo da história, eram suas lacunas, mais do que suas palavras...

Diz muito...



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sábado, 27 de dezembro de 2014

perder o que há de melhor...

Por que carrego em mim essa impressão que o ano, foi, no geral, um ano de perdas? Só é possível de se perder aquilo que se possui... mas o que afinal, possuímos? Se mesmo meu corpo um dia se desfará em um milhão de outras coisas, se mesmo minha voz, quando soa, soa de maneiras diferentes e inesperadas... De uma certa maneira, toda mudança é um perder-se daquilo que se era antes. Mas não é nesse sentido que penso as minhas muitas perdas d'esse ano... as penso enquanto derrotas. E penso assim porque tenho em mim a falsa noção de que possuía algum tipo de controle sobre as situações ou pessoas, ou coisas à minha volta, enquanto que na realidade... controle é uma vontade recorrente, e frequentemente, ilusória.

Nem poderia prever as consequências de minhas ações, nem o que viria a seguir-se, nem poderia me dar conta dos tantos acasos e pequenos encontros e desencontros que formariam desse trajeto de tempo que chamamos de "ano" aquilo que ele foi... Ele foi o que foi, "sendo"... E a noção de derrota, de muitas perdas, vem dessa vontade, dessa crença, de que talvez ou se tivesse agido de outra maneira, as coisas teriam sido de outra forma... talvez, mas não foram, e eu estava sendo naquelas atitudes que tomei, naquele tempo em que as tomei, não tomaria outras... elas me traduzem, assim como traduzem me agora, a sensação de derrota e o questionamento à própria...

E nessa ambiguidade dialética, de um diálogo interno continuo, que eu vivo da melhor perda que há de mim mesmo. A mudança...



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sábado, 20 de dezembro de 2014

Das coisas de casa...

Oh Medo...entra, toma um assento, e conversa comigo. Sei que pretende ficar ainda por um bom tempo... sinta-se então, em casa. Cansei de me opor, então entra e tomemos alguma coisa quente, alguma coisa para os nervos...



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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

sacrifício...

Conheço um lugar, onde todos fazem grandes sacrifícios.
Todo sacrifício envolve assumir uma dor, aceitar sua presença, mas essa aceitação é condicional, e aí reside o problema do sacrifício: Criamos expectativas em torno daquilo ou de quem nos sacrificamos. E pelas mesmas expectativas, sustentando sofrimentos por longos períodos, os sacrifícios costumam cobrar caro.

Assim se afastam os amigos, que sentem que se sacrificaram muito um pelo outro, e não obtiveram resposta. Assim se tornam violentas as pessoas que se amam, porque sentem que se doam demais e não são reconhecidos. Assim acabam-se namoros e tantas outras relações...

Porque, o sacrifício tem outra tendência - ao ensurdecimento. À medida em que vamos tolerando diversas dores, na expectativa de que "as coisas melhorem", o "outro mude", "a pessoa veja", entre tantas outras expectativas possíveis. Nos tornamos incapazes de ver para onde a pessoa está realmente indo, que caminhos esta trilhando. Somos incapazes de reconhecer os sacrifícios que ela faz por nós, e quando nos tornamos incapazes de perceber isso, as duas partes sentirão esse não reconhecimento, que é um sentimento que nos faz sentir solitários, desvalorizados, como se o outro não enxergasse nosso esforço - o problema é - nossa própria expectativa nos impede de ver o esforço dos outros.

Esse outro por quem nos sacrificamos, provavelmente se sentirá , exatamente da mesma maneira..,embora por razões (e sacrifícios) diferentes.

Vivo em meio há um monte de altruístas. Desse tipo de altruísmo, que sabe muito bem se mutilar (supostamente) em nome dos outros, e cobra caro, e com juros (e juras).

Tenho tentado então evitar essa tendência ao sacrifício. Especialmente dessa natureza... até mesmo porque acredito que essa história de "ajudar o outro", ajudar e estar presente para quem amamos, não precisa envolver perder alguns pedaços de nós... até mesmo porque esse outro que dizemos amar, provavelmente nos quer bem e não nos deseja ver mutilados.

Então, como querer o bem ao outro, sem cuidar de si?
Não se encontram em diversos caminhos, o cuidar de si e o cuidar de outro?

Essa noção de sacrifício, que se mutila em nome de um proposito maior, parte da ideia de que existe uma separação clara entre eu e o outro, por isso a dor e a mutilação de nós mesmos, seriam aceitaveis para o "bem-maior" do outro, embora, muitas vezes se esqueça de perguntar a esse outro, o que ele gostaria...

E por essas e outras, me desagradam esses tantos sacrifícios.



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domingo, 14 de dezembro de 2014

Harle...

Eu contei a história de um pássaro outro dia. Creio que você teria gostado (especialmente do pássaro). Era pra dizer de como me impressiona, a rapidez, ou a surpresa com que a Morte vem e passa e leva consigo alguém. Naquele dia, aquele pássaro. Nem eu, nem ele esperávamos... Como normalmente, e vivemos, as pessoas de uma maneira geral, alheios à possibilidade da morte. Não que acredite que devamos viver com medo da morte, mas é um exercício acostumar-se com a perspectiva de que pode ocorrer, de que não sabemos quando irá ocorrer e pode ocorrer a qualquer um...

Me lembro de uma vez que ouvi, acerca de uma meditação que se faz sobre a morte, que ajuda encararmos melhor nosso dia. Nos dizemos, repetidas vezes, "talvez eu morra hoje." O objetivo não é criar desespero, mas nos atentar à percepção de que qualquer hoje é um hoje possível de se morrer...

Na época que dei aulas em Campinas, antes de ir para a escola, devido ao estresse de andar tanto tempo de ônibus e do cansaço, meu humor as vezes ficava muito ruim. Então, passei a praticar isso no trajeto, e à medida que eu ia me alinhando com a possibilidade que talvez esse fosse meu último dia dessa forma, então, evitava gritar com as pessoas, descontar nos meus alunos minhas amarguras, ou no trocador do ônibus ou em alguém que sentasse ao meu lado... Passava a prestar-lhe mais atenção, uma vez que... poderia ser que não nos vissemos mais, eu e e qualquer uma das pessoas que encontrasse.

Minha mente não era tomada por melancolia, mas por realidade. Não estava triste, mas como estava consciente da possibilidade, queria não "ir embora" mal com ninguém.

É um exercício que eu ainda tento praticar as vezes. Nem sempre consigo. Não basta pensar a frase, é preciso estar nesse pensamento, é preciso que sua consciência se alinhe com aquilo e seus gestos, a forma como você vê as situações acaba mudando, ou você pelo menos, se abre a possibilidade de que mudem...

Para você, no entanto.. essas palavras teriam sido enfadonhas, você teria corrido pro quintal e saltado o muro. E ido aonde bem entendesse... se essas palavras eu estivesse dizendo, aposto, como aposto, que você não diria nada, no máximo sairia, majestoso, como de costume.

Vou sentir falta de seus gestos ágeis, de como era forte, grande e belo.

Se faltar espaço n'outro lugar pra correr, há muito espaço aqui na minha alma por onde você sempre poderá correr, talvez, até perseguir aquele pássaro que caiu outro dia...

Longe do alcance daqueles que te fizeram mal.



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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Das muitas derrotas...

Sinto o peso de minhas derrotas a cada momento.
Parece que a cada dificuldade que se passa, outra aparece, mais ameaçadora, mais resiliente.

Aos poucos, coisas me faltam...

Cansado do que não é necessário,
          desse correr interminável,
                               das lutas sem fim,
                                               da dor que não cessa.


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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

é preciso continuar dizendo...

Tenho escrito pouco... é verdade. Das poucas pessoas que aqui vêem dar uma olhadinha, muitas encontram a pagina sem novos posts, talvez até se perguntem se desisti. Não... não creio que desistir seja uma coisa que esteja em jogo, porque este blog nunca foi um projeto, escrevo pela necessidade da escrita muito mais do que por te-la como um objetivo.

As vezes, abro a pagina, tem algo guardado, e eu quero escrever. Mas não saí, o quer que esteja dentro de mim ainda não consegue tomar forma em palavra, daí, é preciso esperar. E quando for tempo, as coisas saem...

Exatamente como agora, quando minhas mãos deslizam pelo teclado conhecido, e eu já encontro as palavras sem precisar procura-las, sem pensar, nada...

A escrita não tem sido para mim, há algum tempo, trabalho manual - de talhar textos em palavras, de escolher assuntos e montar estruturas, não...

Sou atravessado por isso, e por todas as outras cousas atrás disso...
E metade delas não sei explicar e a outra, não careço explicar.

Muito me agrada imaginar que algumas pessoas que esbarram nesses escritos, encontrem algo que os anima também a escrever... que também, atravessadas de coisas, precisam dizer...

Acho que é isso....

preciso dizer,

preciso dizer,

é preciso continuar dizendo...

Embora muitas vezes, as paginas em branco, abertas na janela do navegador, apenas continuem em branco. E eu, consciente de que insistir com algumas coisas é mais propenso a estraga-las ou transforma-las em outra coisa, escolho deixar a pagina em branco...

Se isso fosse um caderno, muitas folhas em branco.

Uma para cada vez que tentei dizer,
E não disse.

Mas não carece desespero, só não era tempo...

Agora é...


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domingo, 9 de novembro de 2014

Nervosismo e Ego...

Ontem reparei, hoje também. As cobranças de ontem, ecoam, ontem e também hoje.
Dias de ENEM, dias de passar por um exame que me permitirá ou não "fazer alguma coisa da vida", ou "dar um jeito" nela, cobranças que surgiram, cobranças que voltaram.

Essas cobranças a respeito da vida feita,em alguns casos há muito tempo. Apareceram de novo. Cheias de vigor, enchendo meus pensamentos de imagens de derrota, enchendo meu coração de medo de fracassar, me apertando por dentro em ansiedade.

O peso delas só é um indicador de que eu não as esqueci, de que continuaram aqui, vagando pela minha mente, algumas esquecidas, outras no ressentimento das pessoas que disseram, porque o que disseram feriu.

Não é culpa delas meu nervosismo, mas acredito que de meu Ego, que dá atenção às cobranças, às coisas que exigiram que eu correspondesse em determinado momento e um desejo perverso de "mostrar pra eles" como estão erradas. Esse ego que tem o desejo de se provar diante desses outros que cobraram, que através de suas cobranças feriram...

Tolamente.

De todas as coisas que ouvi, desde que abandonei a faculdade, quase todas as cobranças em relação a vida ficaram. "Mas você não faz nada da vida", "você tem que dar um jeito", "você não conseguiu terminar a faculdade", ... tantas e tantas outras... A muitas delas, quando ouvi, reagi com grosseria, me defendi e rejeitei. Mas o gesto de rejeitar, só era a evidência de que por dentro, eu brigava comigo mesmo porque já havia me dito às mesmas coisas... A defesa era a única reação suportável à cobrança existente... Porque as minhas próprias cobranças eram/são, de alguma forma, muito semelhantes ao que ouvia.

Ao menos, estou tendo a clara oportunidade de reconhecer esse ego fortalecido que existe em mim, nessa vontade de "me provar" diante do mundo e das cousas.

Mas não desejo impor a ninguém, as cobranças que ouvi, porque, pelo tempo que as ouvi, muito sofrimento me causaram, e vêm causando. Eu não tenho o direito, e não saberia prever, as consequências dessas cobranças...

Existem outros modos de dizer,

Para que possamos nos ouvir melhor,

Dentro das nossas possibilidades.





(Porque é sempre dentro dessas possibilidades que ouvimos, ou não.)





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sábado, 18 de outubro de 2014

Des pedaços

Não tenho andado. Vou caindo,

Aos pedaços,

Partes de mim, que não formam um todo.

Despedaçado...

Desforme

Desforra,

Despedida,


Vou me embora de mim...


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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Linha reta...

E eu tentei te segurar...
Me agarrava a sua perna, esperando que parasse, colocava todo o meu peso.
Mas mesmo assim, você continuava...

Então, eu comecei a te segurar pela cintura, cravar as duas pernas no chão pra tentar te atrasar, te deixar mais lento, mudar de direção, qualquer coisa...

Mas você continuou, como se meu peso, simplesmente não fizesse diferença.

Então, eu entrei no seu caminho, entrei na sua frente e tentei empurrar você pra trás.
E nós brigamos, e brigamos, e brigamos...

Eu esperava poder fazer você ver de outra maneira.
Ver outros caminhos, experimenta-los...

Por muito tempo eu acreditei ter esse poder, o poder de alterar o seu rumo.
E dolorosamente fui descobrindo que não. Fui descobrindo que até nos falarmos, já era um esforço enorme de nossas linguagens tão diferentes.

Você, e sua crença no "bem e no mal", nas pessoas boas e nas pessoas más, sua linha reta, sua organização.

Eu, e meu desleixo, todas as cores, e os infinitos de cada um...
a inexistência de alguém bom ou mau.

E o que você mudou, eu demorei muito a perceber, o que eu desejava, continuei a desejar.
Nossos conflitos tomaram outras proporções...

Você me disse que queria rumar para um abismo.
Que tudo o que desejava era seu próprio fim...

E eu via isso em você, e me desesperava.
Por tudo queria que as coisas mudassem para você.
Nem que fosse necessario mudar o eixo da Terra...

Mas... não foi possível... e depois de um tempo, de tanto nos acostumarmos à nossa oposição.

À beiras de seus abismos, você me olha, eu tento te segurar. Você caí, e me diz:

"A culpa é sua."

E desaparece...


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sábado, 4 de outubro de 2014

Em meio ao turbilhão de coisas que se partem e quebram,



E dos laços que se revoltam, desfazem ou refazem,

Em meio a todas as perguntas não respondidas

E todas as ansiedades à flor da pele...

Há uma calma que não me passa,

Uma tranquilidade, mesmo diante da tristeza, ou tensão...

Que não consigo descrever, nem mensurar...



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terça-feira, 30 de setembro de 2014

Salmoura...

"A salmoura é uma solução de água saturada de sal onde se podem conservar alimentos, como carne, peixe e conservas em geral"

Quando eu era mais novo, eu me lembro que minha mãe e meu pai tinham viajado e eu estava em casa com um amigo, estávamos tentando não deixar as coisas muito zoneadas, mas quando se está lá pelos seus 14 anos e com um vídeo-game e muitos jogos, costuma não ser das coisas mais fáceis de se fazer. Lembro-me que estávamos lavando louças quando percebi que  as plantas que minha mãe tanto gostava estavam meio murchas e que não haviam sido aguadas desde então, e tive uma ideia...

Na noite anterior tínhamos comido azeitonas até nos enfartarmos, e agora só restava o pote com aquela água temperada da azeitona, que na época eu nem sabia que tinha um nome. Curiosamente, na escola, eu aprendia sobre a crise de água no mundo... E pronto... estava armada a tragedia...

Numa intenção de alimentar as pobres plantinhas, e ao mesmo tempo não desperdiçar mais da pouca água que existia no mundo, eu tive uma ideia brilhante: alimentar as plantinhas com a água que conservava as azeitonas, porque afinal, era uma água com sais e isso ia deixa-las mais fortes evidentemente, porque "plantas precisam de sais minerais né?"

E em um ou dois dias, todas elas morreram. E minha mãe ficou muito triste. Quando lhe contei ela não ficou com raiva, mas continuava triste pelas flores, e me disse "isso que você jogou nelas era salmoura Thiago, e é super salgado, a água que a gente bebe, do filtro, já tem o que elas precisam..."

Penso nessa história quando penso sobre a ajuda que oferecemos aos outros. Aquilo que muitas vezes pensamos que pode ser o melhor para alguém pode destruí-lo. Por muitas vezes eu fui isso, ofereci "sal" aos meus amigos que estavam em "desertos" internos muito dolorosos, e ofereci consciente de que isso iria feri-los ainda mais, mas acreditando fielmente que "era o melhor para eles".

Ainda carrego algum arrependimento de como peguei pesado com algumas pessoas, amigos próximos no passado, por essa crença de que o que eu oferecia era realmente o que precisavam, que era "o melhor pra elas".

Hoje, penso que a ajuda, todo ajudar, precisa se basear no ouvir, eu não pude "ouvir" as plantas, assumi o que precisavam e lhes dei salmoura, quanto a água simples do filtro era o que precisavam, e acabei por mata-las. Da mesma maneira, o fiz com muitos amigos, o que lhes oferecia, não ouvia o que precisavam, não ouvia suas condições, e acaba por muitas vezes mais feri-los que ajuda-los. E eu me sentia tão ofendido quando eles se revoltavam comigo... Hoje entendo que estavam em grande dor, e eu acabava por ser um fator que frequentemente só a aumentava ainda mais... e pra se protegerem eles reagiam, marcavam seus limites, e eu perdia acesso...

Estender a mão pra alguém, precisa estar baseado num ouvir das condições do outro, não significa atender todos os pedidos, nem submissão, mas a capacidade de ser empático em relação à dor do outro e respeita-la em seus limites, e procurar pautar nossas ações, por essa percepção, cultivar acolhimento.

Para sermos mais água, e menos salmoura...



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sábado, 20 de setembro de 2014

Obsoleto...

Há muito tempo, comparações sempre foram coisas que me incomodaram muito. Em alguns casos me machucaram demais. Muitas vezes, nem pelo que comparava, mas por quem fazia a comparação.

Desde sempre eu ouço que meu modo de ver e viver estão "errados", de que eu "não tenho o pé no chão", ou sou "sensível demais", de que A Realidade, o Mundo, e outras coisas mais não permitem esses tipos de coisas e quando eles chegarem... "eu vou ver..."

Nem o Mundo, nem A Realidade, nem tantas outras que falaram chegaram até hoje. E sempre me dizem para ficar preparado pois irão chegar, e com eles, meu modo de vida, meu modo de lidar com as coisas não é aceitável.

Ineficiente, obsoleto. Não sou prático, não sei "ver o mundo como ele realmente é".

Me pedem um tipo de roupa, eu prefiro as mais confortáveis, e é verdade que alguns casacos meus estão bem acabados. É muito difícil me ver de jeans, ou preocupado com a camisa, mesmo quando ela está rasgada, as vezes eu gosto de uma certa camisa porque ela me lembra uma certa época, e eu a uso, porque o conforto dela é o conforto da memória. Como as antigas blusas de treino, hoje todas muito velhas e desgastadas já.

O comportamento é incorreto, porque não sou prático, não deixo pra sentir minhas dores nas "horas certas", quando elas veem, em muitos momentos, me arrebatam, e as vezes, eu simplesmente me deixo levar. Quando passam, e sempre passam, eu volto a lidar com as coisas.

Eu frequentemente me pergunto se "tem espaço pra mim nesse mundo?". Se não estou errado, e eventualmente, todos esses Algozes chegarão para cobrar seu tributo em tempo. Eu não sei, sei que não estou preparado, eu simplesmente não quero.

Mesmo no desconforto,

Nessa incerteza de ser meio...

"Obsoleto"...


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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Quando descobri que era meio de papel...

E naqueles pequenos momentos de correria,

Muitas coisas foram ficando para trás,

E as primeiras coisas que meu coração e minhas mãos buscaram:

-Um dvd de alguma comédia romântica água com açucar.

- Livros e mais livros, algumas paginas de caderno com anotações velhas,

- E os textos de meus alunos...

E descobri que era meio de papel.


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sábado, 30 de agosto de 2014

Da dúvida...

As perguntas se soltam no ar, se desprendem de mim,
não as faço, sou-atravessado.

Estão Inevitavelmente expressas.

Em qualquer pedacinho, ou lugar.

Num convite que espera e ao mesmo tempo, hesita - duvida.

E para.

Quase louco como perguntar por que se respira, ou por que o coração bate, mas ainda assim, ali.
Quase tangível, quase palpável, absolutamente impossível de ser esquecida.
Quase uma ofensa, por querer saber de si mesma...


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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Ponteiros...

Os ponteiros do relógio caminham devagar, os dias passam vagarosos, como se quisessem deixar claro para mim cada segundo de sua existência. Existência. Sou acompanhada pelo tédio como se fosse minha sombra, e possuo um cansaço, não de quem se exercitou, mas de quem foi - partida - e colada, mais ou menos às pressas. E nessas horas, eu olho de novo pro relógio. Como se o olhar insistente o fizesse correr mais rápido, ou sarar as feridas, tornar inteiro o que está quebrado, dissipar esse tédio que me acompanha como sombra...

Mas os ponteiros me provocam e andam ainda mais devagar, e a cada olhar, tudo o que faço, é relembrar minha condição...


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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Apegos...

Minhas mãos se fecham...

Tentando segurar,

Os últimos fiapos de Sol,

Que alumiam no meio escuro...

Com força se fecham minhas mãos,

Até anoitecer...


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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Fôlego...

As vezes eu me sinto gritando, como se fosse pra te lembrar...

Como alguém, que grita pela vida, enquanto você vai...

Como se te visse pelo vidro da janela carro que passa, ou seria de um vagão de metro?

Não sei, você vai tão rápido...

Grito, como alguém grita quando sente que não consegue mais nadar...

Grito em meio ao mar, já sem fôlego, com  você muito à frente, nadando a todo pique...

Não sei se você ouve. Grito de novo...

E de novo...



e de novo...






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sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A Inveja...

Engraçado como as vezes nos pensamos imunes à certos tipos de sentimento.  Eu nunca imaginaria sentir de maneira tão palpável quanto sou capaz de sentir por esses tempos... Inveja.

Escrevo essas palavras com o intuito de lançar luz sobre o que sinto, suas raízes prováveis e suas consequências. Não para estabelecer um certo ou errado, nem dar lição de vida pra ninguém, é no limite, uma tentativa de auto-compreensão, que se faz no fazer-se dessa própria escrita...

Me lembro da sensação. Senti uma fisgada nas costas, atrás do coração. Minha mãe falava bem de meu irmão à mesa de almoço, de suas altíssimas médias escolares, de todo amplo futuro que tem pela frente. Eu, acordando ansioso como em muitos dias, me sentia uma das piores criaturas do mundo, senti aquela pontada... minha mãe não estava nos comparando, apenas tecendo um elogio a respeito de meu irmão, seu caráter sólido, e o modo direto como encara as coisas, sua dedicação, coisas que eu reconheço nele e também admiro... Mas naquele curioso contexto, a admiração se tornou em algo a mais...

Digo que veio da admiração, porque creio que existe na inveja essa admiração, que vem em contraposição a uma profunda insatisfação com a própria vida. Começamos a enxergar nossa vida como extremamente difícil, e pensaríamos que em qualquer outra existência, poderíamos nos sentir melhor.

Então, suas raízes se calcam nessa frustração, na não-aceitação da condição em que se encontra. Nesse "não-aceitar", criamos uma perspectiva de que nossos problemas são maiores que os dos outros, que outras existências, são, de alguma maneira mais simples, gostaríamos de poder existi-las. Mas na realidade, desconhecemos essas outras existências, profundamente, em suas alegrias e misérias... desejamos algo que não conhecemos, porque no final das contas, nosso único desejo real, não é ser outro, ou ter o do outro, é "não sermos nós". Não estar na condição em que existimos, existir em outra condição...

Não é tanto do lugar pro qual olhamos, com devaneios de tranquilidade,
Mas pro lugar em que nos sentimos estar...

E ali na mesa de almoço e em alguns outros momentos, em relação às mais diferentes pessoas, eu senti aquela fisgada. E pensando, depois de um tempo, eu percebi que não conhecia as "misérias" daquelas pessoas, via a capa e, as vezes, tinha mais ou menos noção dos problemas de um ou outro. As vezes até quando me sentia "fisgado", porque naquele momento, eu acreditava que nenhuma condição seria tão ruim quanto a minha... E aí eu descobri outra coisa, tanto curiosa, que não sabia sobre mim, que era o orgulho de "ser aluno da Unicamp", e da tremenda frustração que era, dessa maneira, "não conseguir" concluir o curso. A minha expectativa sobre mim mesmo, aquela imagem cultuada e cultivada, do meu "projeto de ser", contrariada pela própria realidade vivida: faculdade abandonada, retorno difícil ao lar, crises de ansiedade, desgosto.

A Inveja é outra maneira de ressentir a própria vida. Da inadequação de nossas expectativas com o lugar aonde chegamos, uma forma da decepção comigo mesmo, de meu enorme orgulho, e dos meus grandes projetos, todos falidos...

E agora, diante de mim, há uma cidade de sonhos feita em destroços.

Uma grande vastidão de entulhos.

E a perspectiva de (re)começar, vem marcada pelo medo de repetir...

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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Ansiedades...

As mãos escorregam para fora do casaco com dificuldade, há frio, e uma sensação de que comi algo insosso, como uma barra de ferro, ou grãos de areia e por isso, meu estomago se revira e se revira, e de repente, vem a tosse, e todos os cheiros parecem facas...

Todo frio é muito, e também todo calor, não há conforto. E em meus pensamentos não cabem coisas diferentes... Medo de não conseguir, medo de não dar conta, medo de decepcionar, já sentindo que estou decepcionando... E isso é do que ansiedade se alimenta.. do próprio medo de que aumente...

Tento, com algum esforço, soltar de mim essas palavras, para ver se desgarram de mim esses sentimentos e se desfaça esse nó na garganta. Quase todas as palavras, só me relembram das minhas exigências...

E ah! Essas exigências! Quão afiadas elas não podem ser.

A esperança escorre por entre os dedos frenética, buscando alguma paz de espírito, num dizer pro outro...

Num pedido de ajuda...

De quem tenta, errante, acertar a direção...


Sem confiança.


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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Militância e Expectativa - Parte 3

Em 2011, a chapa "Independência ou Marte" assumiu o CACH. Estavamos felizes, embora soubessemos que muitos dos votos que recebemos tinham vindo da repulsa que existia aos grupos organizados no instituto, e isso nos preocupava, ainda assim viamos como uma boa oportunidade para construir um tipo diferente de C.A.

Entretanto, de cara, nossos desafios eram numerosos. Primeiramente, o rechaço dos grupos que compunham a reunião ordinária do C.A. tornaram o espaço insosso, a experiência extremamente desgastante, de ser exposto frequentemente, aos ataques dos grupos, que ora ou outra tivessem coerência , estavam fundamentados em um objetivo: Por inviabilizar o trabalho da gestão, ganhar respaldo político para se elegerem na eleição seguinte. Manter uma forma de operar do espaço de reunião, e assim continuar com o mesmo tipo de lógica política que vigorava no C.A.

Pouco a pouco os espaços em que tínhamos para construir nossas propostas não eram mais os espaços de reunião do C.A., mas os espaços onde nos reuníamos enquanto gestão. O que era uma dificuldade, uma vez que desejávamos que nossas propostas pudessem ser tocadas pelo C.A.enquanto que lá, só encontrávamos grande resistência e enfrentamentos, pouco dispostos ao diálogo.

Para ser bem claro, os grupos políticos organizados, quase que como sintoma, estão mais preocupados em sua própria construção do que em política. Os grupos que existiam em presença no C.A. viam a nós como uma proposta despolitizadora, que no limite, precisava ser "combatida".

Boa parte da minha critica às organizações partidárias, militantes, veio a partir dessa experiência. Da absoluta impossibilidade de sermos ouvidos, porque "essencialmente" estávamos errados, porque partíamos de um pressuposto que os grupos ali presentes não consideravam válido. E como eles, dotados de uma verdade política superior, se sentiam não só no direito, mas no dever de nos rechaçar politicamente.

Porque o objetivo desses grupos é maior, e por esse objetivo, romper o diálogo, criar todo tipo de ambiente hostil e nesse sentido desgastar os membros da chapa, estavam entre as possibilidades válidas para nos invalidar enquanto gestão.

Tenho plena consciência de que sou muito critico à essas organizações presentes no M.E. da Unicamp, ou atuantes no IFCH,  não pretendo aqui isenção, nem estou postulando uma verdade acerca dessas organizações, é uma impressão, baseado em meu limitado leque de experiências.

Nossa construção "por fora" visava escapar essa luta hostil e sem fim, e não nos permitir paralisar. E aí encaramos nosso segundo obstaculo, que, em vários aspectos teve um impacto bem maior que o primeiro.

Mudamos em muito as formas, propusemos espaços alternativos para vivência universitária, corremos atrás de grupos e coletivos, visando possibilidades de encontro que pudessem florescer em iniciativas e que dessem vitalidade ao instituto. Uma organicidade política que não dependesse mais tanto de uma passagem em sala de aula, em sempre ter alguém lembrando de alguma reunião, mas uma participação baseada no reconhecimento no espaço...

Se reconhecer no espaço te torna parte dele, mesmo que você discorde de como ele normalmente funciona. A grande dificuldade para uma construção ampla do movimento estudantil no IFCH é (ainda é) a falta de reconhecimento das pessoas no espaço do instituto. Aquele espaço e aquelas experiências comuns como algo pelo qual possamos nos reconhecer...falta de reconhecimento de si enquanto sujeito político.

Mas criar possibilidades que permitam essa percepção, não faz com que esse reconhecimento ocorra, ele continua como possibilidade. E nossa grande frustração era a pequena participação nos espaços que criávamos, nos nossos esforços de construir esses pontos de encontro que possibilitassem esse "Se reconhecer no espaço" e consequentemente "reconhecer ao outro" que permitisse um reconhecer do "Nós".

A expectativa de que seriamos correspondidos amplamente nos feriu.E em alguns momentos a discussão tomou o rumo de culpabilizar os "ausentes", como já é comum há muito tempo no movimento estudantil...

Hoje, parando para analisar, creio que caminhávamos por um bom caminho, e que esse é um caminho que vale a pena de ser trilhado, mas é fundamental abrir mão das expectativas - que é no fundo, abrir mão da vontade de um resultado, dessa ânsia pela eficiência.

Mas Eficiência e Produtividade (resultados), ainda são capitais políticos muito valorizados nesse movimento estudantil de esquerda.

É difícil abrir mão da vontade de ver os espaços políticos que construímos darem certo (resultado), mas talvez, quanto mais esforço empenhamos, mais somos tentados a culpar os ausentes, posto que nos sentimos sacrificados à causa e temos apenas por resposta o silêncio, assim, mais tendemos a fechar essas possibilidades, partindo para um discurso de culpabilização dos outros e abraçando a mesma lógica política comum do movimento estudantil, a divisão entre lideres e liderados.


Libertário, então, seria se pudêssemos abrir mão dessas expectativas, construirmos esses espaços, sem a necessidade do sacrifício, que seria construir em outra temporalidade, mais lenta, despreocupada com resultados, mais aberta a encontros...

E talvez, do nosso não esforço de trazer as pessoas para a política. Elas pudessem, simplesmente, vir.


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Militancia e Expectativa - parte 2

Essa parte é um relato de impressões, que dá continuação à primeira parte do texto "Militância e Expectativa".

Me lembro que quando eu me envolvi seriamente com a política no IFCH, muitas de minhas experiências anteriores mostravam para mim certas coisas que eram relativamente comuns. Para além da predominancia da participação dos partidos e das organizações, mas sobretudo, a concepção de política.

A política era (e ainda é) tratada de uma maneira geral como conhecimento erudito, livresco e portanto restrito ao domínio de alguns, que possuem uma certa coleção de experiências e outra de leituras. A política nessa concepção se dissocia da vida, conhecer as relações da política envolve estudo e não participação.

Assim havia um modo de estar-ser no movimento estudantil, um modo de agir, e um modo como o próprio movimento estudantil se organizava pronto, aparentemente "desde sempre".A famosa "tradição do movimento estudantil"... a permanência dessa tradição (e o invocar dela em vários espaços de reunião e em várias assembleias) marcava o status do poder, diferenciava aqueles que sabem daqueles que não sabem, aqueles que supostamente deveriam liderar o movimento e os liderados...

Minha participação não veio sozinha, foi nesse ambiente que conheci muitas pessoas que partiam de outros pressupostos de política, ou mesmo não possuiam um definido (como eu mesmo) e foram construindo aquilo que imaginava que seria "política" e o "agir político" nesse próprio processo de questionar o que estava definido enquanto político.

Em um aspecto não nos diferenciávamos de quem questionavam: Procurávamos por ampliar a participação das pessoas, uma questão que bem antes de nós já era uma das principais preocupações do Movimento Estudantil, provavelmente não apenas na Unicamp.

Para nós o problema era da ordem do diálogo, que era falho em muitos aspectos, que de alguma maneira vinha dessa concepção de política, trabalhamos muito em tentar construir "outros espaços",em ampliar as possibilidades de vivência do espaço da Universidade.

De alguma maneira, para alem dos chapas e grupos que fizemos parte, essas noções adiquiridas nessa construção em conjunta, passaram a pautar a maneira como lidavam com política, mesmo depois de não estarmos mais compartilhando dos mesmos espaços políticos. Isso se deu tanto em 2009, quando participei de uma chapa pro DCE da Unicamp que se chamava "Não Sou Massa de Manobra", e em 2011, quando fizemos uma chapa para o CA de história e ciências sociais do IFCH que se chamava "Independência ou Marte".

Passamos um tempo juntos, trabalhos juntos, construímos coisas juntos e depois, mesmo quando não existiam mais essas chapas, as noções, os diálogos, as experiências conjuntas continuavam a nos influenciar (tanto que frequentemente me reencontrei com as pessoas que  compartilharam comigo dessas experiências). 


Durante o ano de 2011, o grupo que fazia parte da "Independência ou Marte assumiu o C.A. de Ciências Sociais e Historia...


segunda-feira, 14 de julho de 2014

Militância e Expectativa - parte 1

Em todo o tempo de minha participação no movimento estudantil, antes da Unicamp e durante o período que estive lá, uma preocupação sempre foi comum: A participação das pessoas.

O movimento estudantil é composto por aqueles que estão dispostos a se envolver com ele, é dependente da participação das pessoas, seu poder de influência dentro dos espaços políticos em que se encontra depende fortemente da participação das pessoas, seja no âmbito de um instituto, de uma universidade, ou de um Estado ou País.

E, desde sempre, faltam pessoas.

Essa carência de pessoas, essa "falta de pernas", é encarada de diversas maneiras, a mais comum imputa àqueles que não participam uma culpa pelas dificuldades que o movimento encara, transformando esses "ausentes" em representações generalizantes.

O problema do estereótipo, lembrando Chimamanda Adichie ( "Os Perigos da História Unica"), é que não são mentirosos, mas sobretudo, incompletos. Pode se dizer que há muito pouco interesse pelo movimento estudantil, mas daí a entender essa falta de interesse como um alinhamento com o status-quo? A incompletude da generalização, propaga a "arrogância esclarecida" dos muito que se intitulam militantes.

A propagação desses tipos incompletos, cria uma barreira de preconceitos, as vezes até uma cara bonitinha: considerando os "outros", os "não-presentes", simplesmente enquanto ingênuos, pessoas enganadas por um "sistema", "cultura", "modo de produção", e não estão conscientes de si mesmas (ora, são alienadas)... mas que não deixa de expressar toda a carga de diferenciação que se cria entre
 1) Aqueles que detêm um certo tipo de conhecimento e estão aptos para fazer acontecer a mudança 2) Aqueles que ainda não compreenderam uma certa verdade que as tornaria pessoas do tipo 1.

Esse pensamento esvazia as pessoas, aqueles que não ouvimos e não conhecemos, fortalece as barreiras que nos impedem de alcança-los. Chegando ao ponto de se tornar um fatalismo, que corrobora para a ideia de que a construção política é do domínio de uns poucos, concepção essa que não se restringe aos aspectos do movimento estudantil.

Mas em seu cerne está centrado na expectativa que existe nessa militância da participação das pessoas. E na realidade aqueles "ausentes", alvos das generalizações bobas à que nos apegamos, são apenas nossa maneira de expressar que na realidade, queríamos apenas que esses ausentes, não fossem assim tão ausentes...







sexta-feira, 6 de junho de 2014

A Noite fria...

Um senso frio de realidade lhe atravessara o peito trazendo sua atenção para o ar gelado que baforava e a noite de céu estrelado lá fora. Lá de fora, de um longe inexplicável, algo lhe apertava o peito e engasgava na garganta. Sentia as pontas dos dedos dormentes, enquanto cores difusas brincavam diante de seus olhos, não sentia dor,  mas ainda assim, seus sonhos insistiam em escorrer pelo rosto;

Tentava segura-los num esforço fútil,
Já não havia mais...

força...

Nem dor  
                                                            [ E o brilho das luzes
                                                                               
                                                                                   Refletidas nos seus olhos,
Nem som                                                                
                                                                                   Aos poucos,
                                                                                 
                                                                                                      Desaparecia...]



Nada.





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quarta-feira, 4 de junho de 2014

Apetite...

Quando a ansiedade come por dentro...

Não resta mais nada pra comer por fora.

Essa sede apressada de vida,

Fome voraz cheia de pressa,

Tão faminta,

que enjoa...


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quinta-feira, 22 de maio de 2014

Sem sentidos...

Trezentos e alguns e-mails não lidos. O celular cheio de contatos de pessoas que não conheço a cor favorita, o mesmo se repete... Listas de e-mails velhas, redes sociais. Propagandas preenchem todos os espaços vagos, a todo momento vejo uma oferta de fone de ouvido, para que possa escutar minhas musicas favoritas em "qualquer ocasião" do meu dia, quarenta e duas novas notificações, duas mensagens, ambos de pessoas que estão no mesmo lugar que eu, mas não conseguimos nos encontrar.

Hoje vai ter Assembléia no instituto, essa Soberana, Voz de todos os estudantes - e de nenhum deles!
Decidirá sobre que rumos prático-políticos tomaremos, dentro daquele espaço de tempo onde criamos nossa atmosfera tanto esquizofrênica, tanto pessimista, disso que acreditamos ser realidade;
Não faltam autores, nem convicções , nem referências, não faltam palavras, nem falas, nem falatórios.
Oradores se esbanjam, num ritual de perseverar na vaidade militante...
Não há nada de novo nisso que se diz "revolucionário"...

Num desespero de fuga, procuro fugir pra longe, pro mais profundo buraco dentro de mim mesmo, na esperança de me afastar desse mundo. É que a perspectiva da Assembléia se assemelha a consultar a caixa de e-mails, o mesmo sem numero de excessos, sem a opção de poder marcar o que não se quer ler e jogar fora;

Tantas coisas ditas que muito pouco resta de vontade de dizer.


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quinta-feira, 15 de maio de 2014

Fazer que se pode...

Escolher depende de que nossas alternativas sejam escolhas possíveis.

Cada possibilidade de escolha precisa que possamos acolhe-la, abraça-la, aperta-la, gostar dela, andar de mãos dadas na rua e tudo mais. Se não podemos fazer isso, é importante nos perguntar se aquela escolha nos é possível.

Não há nada de errado nisso. É apenas uma questão do que podemos naquele tempo e naquela condição em que estamos. Quando se trata de escolhas sobre o material, as limitações materiais se impõem previamente às nossas escolhas: Se eu estiver preso atrás de barras, é pouco provável que eu fique muito tempo me perguntando se não deveria escolher não estar atrás delas, mas se não é possível atravessa-las, então eu sequer as penso enquanto uma alternativa.

Mas existem prisões e outras coisas mais, que não são físicas. São modos de pensar e nos sentir no mundo, e nossa relação com as coisas que nos acontecem e as escolhas que precisamos fazer, mesmo que aparentemente não haja escolha.  Tudo é uma questão de poder assumir as possibilidades que existem, ou não.

Algumas possibilidades, que antes assumíamos muito bem, começam a se figurar como coisas que não conseguimos mais assumir. Por muitas vezes, nos apegamos a esse estado anterior, onde aquela escolha nos satisfez, nos trouxe felicidade e orgulho, ainda que temporários, e não conseguimos entender que, de um momento para o outro, assumir aquela escolha, deixou de ser... mudou...

Não importam tanto as causas (os por quês?) de uma escolha que antes assumíamos com orgulho, se tornar algo que não podemos mais assumir. Mas fundamentalmente, a percepção de que essas coisas acontecem...

É parte daquele momento, daquele tempo de nós e das nossas possibilidades. Não é o fim do mundo, só um outro tempo, em que temos, talvez, outras perguntas e possivelmente outras escolhas para assumir...

Enquanto nos focamos apenas naquilo que não conseguimos assumir. Como poderíamos ver outras coisas?




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Ansiedade...

Esse aperto que não desaperta no peito,
Não dá pra ser desfeito, na força bruta ou no machado. 

Quanto mais forçamos, mas apertado fica, menos espaço temos.

É uma daquelas coisas que se desfaz por não fazermos...

Se tentamos resolver Ansiedade, partimos da ideia que precisa ser resolvida, aí, já nos sentimos errados desde o início, afinal, já estamos ansiosos. Quanto mais nos esforçamos, maior percebemos nossa própria ansiedade, maior nossa sensação de fracasso ao enfrenta-la, então maior nossa ansiedade. 

Ficar ansioso por estarmos ansiosos, em geral, nos deixa mais ansiosos

É como água de um rio que foi represada em nós por muto tempo, precisa correr...
Crises de ansiedade são barragens que se rompem e transbordamentos de nós dentro de nós mesmos, o importante é aprender a não-fazer e apenas observar enquanto aquela água vai embora.

Podemos perguntar sua origem, mas sem a ilusão que conhecer-lhe a origem o resolverá, porque a expectativa de que se resolva, buscar a origem da ansiedade, fará com que nos afoguemos ainda mais em sua poderosa torrente.

Importante é saber não reagir a ansiedade. Senti-la, entende-la como parte daquele momento nosso e deixa-la passar.

E passa... 

Pode até voltar,

Mas passa.


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quarta-feira, 7 de maio de 2014

O frio deixa as janelas opacas...

 enrijece as pernas, fecha os casacos. Distraído, desenho no vidro gelado com os dedos, meus olhos abertos não enxergam nada, mesmo com a luz. Me levanto devagar, pra sentir o ar fora do onibus, pra esticar as pernas duras, sentir o vento... ou só andar...

A escuridão da estrada contrasta com aquele lugar luminoso no meio do nada. Apesar de parecer enorme, diante de tanta escuridão, não deve parecer mais que um pequeno ponto de luz. Os carros passam ocasionalmente, trazendo algum brilho de onde vem e para onde irão, mas normalmente, todas as estradas são escuras...

Se olhar pra trás não conseguiria ver da onde vim, e olho pra frente. Com certeza de que não sei nada de pra onde vou. Mesmo que o caminho seja conhecido, e aquela rodoviaria já me seja familiar, mesmo que certos trechos da estrada eu já conheça mesmo no escuro...

Eu não sei...



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quarta-feira, 16 de abril de 2014

Promessa...

Na Promessa incerta do futuro...

Perder nosso Presente...

(e o que era perder o presente, se não tudo?)

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sexta-feira, 4 de abril de 2014

Quebra-me..

Com o impossível, o inalcançável;

Tinge minhas roupas,
Com o Intangível Inodoro

Sacode minha vida de leve
Lava toda minha c'alma,
E seca-me à sombra do Mar...

De me abraços abertos para o Céu,
Onde meus olhos atentos me distraem,
E meus ouvidos que já não ouvem,  ladram;

Nesse par sozinho morro toda noite
Para acordar mais bobo em outro dia;


Com estrelas No pé do ouvido...


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terça-feira, 25 de março de 2014

Fervura...

Tenho os nós dos dedos em sangue,
De nós na garganta apertados,
E disso tudo um engasgo...
 
Tenho a boca presa entre dentes,
Que arranham e arrastam impacientes,
Mas que sobretudo, calam...

Tenho fervura que me corre pelas veias como ferro derretido;

 Indginidades que me saltam pela pele,
Nada que não seja refletido pelos olhos...


Apenas.
Todas essas feridas,
E só.




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sábado, 8 de março de 2014

Areias...

Meu rosto arde, areia da praia, posso sentir vento do mar e seu gosto salino por toda parte;
Minhas vestes ensopadas, meus cortes ardidos...


Todos os músculos e ossos doem, ouço o mar a se quebrar contra rochas e contra si mesmo;
Devagar, abro meus cansados olhos para reconhecer velhas formas novas...

Me viro para vê-lo e os restos de madeira espalhados por todo lugar;
Não há vida nem destino, só eu ali, acordado, diante do mar;


Algo de hipnótico em seu som, algo que leve me surge;
Como os ventos que mudam de direção,
E as rochas que se derretem ao chocar continuo das ondas...


Por um instante, não mais que um instante,



sou apenas essa areia, essa rocha desfeita de vento, água e sal;


a ouvir, como um pequenino grão,


a melodia do Oceano;




[em silêncio]




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quinta-feira, 6 de março de 2014

Desesperos...

Nas minhas burrices e mentiras, nas 'verdades' e 'realidades' que esbarro por aí;
Saio do protocolo;
Perco meu tempo, perco meu modo;

Eu grito, porque "é muito burro",
Por não ouvir, e arriscar a perder, não um, mas três filhos.

E sua falta de gentileza me dá nos nervos.
Tanta coisa sua me tira do sério afinal, não?

Justifica seus metodos num objetivo que poucos estão aptos a cumprir.
E nas tuas próprias palavras - "Você pra mim é uma grande decepção, só isso."

Palavras feitas pra ferir sem dúvida, talvez nem seja o que você pensa mesmo.
Novamente sustentadas nessa justificativa de que para me ensinar certas coisas
vale a dureza das tuas palavras, das tuas ausências, fechadas com chave de ouro em ameaças.

Você canta muito de galo à própria morte, e usa como defesa as contrafeitas a ti;
E parece estar num carro a duzentos por hora, correndo em direção a um muro;
Te vejo a cada cigarro, a cada desfeita, a cada ódio ou desprezo cultivado, um suicídio diário.

E eu odeio, amo

e me desespero.

"Tu é burro?";

Eu sei, não é a melhor maneira de dizer...
Estou cansado de ouvir o quanto eu decepciono,

Mas eu não me engano e bem sei,
que meu ressentimento faz fronteira com saudade...
E que minha raiva vem da minha falta de pai...

Mas você não aparece... parece continuar querer morrer;

Fica atrás dos teus protocolos, modos e medos...
A mandar e emitir juizos, a saber de todas as coisas,
sempre tem algo a dizer, sempre vê mais verdade sobre a vida dos outros do que elas próprias...
Corre com a vida em desafetos, há 200 por hora em direção ao muro...


Vê problema em tudo, menos nisso, se faz de surdo...

"As vezes o problema não está nas coisas que a gente vê, mas nos óculos que a gente usa..."


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quarta-feira, 5 de março de 2014

Burrice...

"É preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã...
Porque se você parar pra pensar... na verdade, não há."

Educar-educador;

Começa no olhar e se estende pelos braços, as pontas dos dedos (das mãos e dos pés). Começa com o carinho ou dureza nos olhos, e se andar é andar mesmo, ou se é algo mais parecido com marchar. Se a voz soa, como trovão, ou amena como o vento as vezes...

Horas nossos olhares são duros, mas não precisam, para isso, perder o carinho;


Horas nossos passos são apressados e duros, mas sem perder o compasso;

Horas gritamos, falamos como trovões, disparamos raios, mas não precisamos de esquecer  com quem falamos...

A burrice rígida é o esquecimento do carinho; É achar que ser duro, justifica o 'fim' de tornar um ser "educado", seja lá o que isso for. Educar acontece, muitas vezes "a parte" da presença ou do conselho dos nossos mestres, quando não na contra mão desses "conselhos", dessa "educação"; Quando se esquece esse carinho, esse cuidado, deixamos de ser pessoas, nos tornamos métodos

Mas a gente não aprende com métodos, aprende com pessoas.

"A Terra tá soterrada de violência, de guerra, de sofrimento, de desespero..."

Educar é a possibilidade de encontro, entre almas diferentes, que pode colorir de muitas maneiras nosso mundo. Pais ou professores só gozam da possibilidade de terem mais tempo juntos com seus pressupostos "educandos" (e na real, têm tanto a aprender), se vão ensinar, se vão ser compreendidos... já é outra história...

Burrice do professor (ou do pai), que se acha, fonte do conhecimento, provedor da razão; Que para todos os seus métodos duros, se justifica no aprendizado do aluno, que já não enxerga e se tornou apenas um meio para um fim, e assim tornou seu próprio aluno - algo incompleto.




[Riqueza dos olhos vivos (e corpos) dos bagunceiros ]



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P.S: Como pode ser tão burro?

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O que estamos fazendo?

Outro dia pipocaram as surpresas de minha saída da Unicamp. As perguntas vinham rápidas, e com um tempero de receio: "Mas e agora, o que você vai fazer?", não eram feitas com maldade, mas com uma preocupação sincera, mas ao mesmo tempo, desentendiam qualquer possibilidade que não fosse "terminar a faculdade custe o que custar".

Eu não me dei com essa ideia do "custe o que custar". E na onda de se falar sobre "não deixar o que se pode fazer hoje para amanhã", eu começo a perguntar (para mim e para os outros): "O que estamos fazendo?"

A pergunta tem em si um elemento que as vezes me parece faltar nessa perspectiva de não "deixar nada pra amanhã". A questão do o que eu deixo, e o que não... é que Algumas coisas ficam para amanhã, inevitavelmente... Ou nem para amanhã ficam, ficaram... pro ontem, e não serão retomadas jamais pelo meu próprio esforço, mas o ponto é que sempre estaremos fazendo alguma coisa, ainda que seja lamentar a impossibilidade de continuar nossos projetos.

Grande exemplo pra mim é quando encaramos restrições para a prática daquilo que gostamos ou temos como objetivo: Kung Fu por exemplo, ou natação; Quando nos lesionamos, somos tomados, muitas vezes, por uma terrível impaciência com nós mesmos, nos apegamos ao futuro da nossa recuperação pra voltar a praticar essas atividades diversas que tanto significam pra nós, Kung Fu ou natação são só exemplos, pode-se aplicar essa ideia a quase tudo.

Ficamos doentes, ou passamos por uma situação familiar que nos tira o equilíbrio necessário para realizar algumas tarefas, nos machucamos, enfim, encaramos uma série de impedimentos que interrompem, na maior parte das vezes temporariamente, nossos "projetos"...e nos afogamos em frustrações...

 E muitas vezes, diante dessas restrições ocasionais, insistimos (quantas distensões poderiam ser evitadas...), o que pode resultar num problema ainda maior, um impedimento mais grave ou permanente daquele "plano-projeto" que pretendíamos seguir...E daí, nossa frustração pode tomar uma dimensão ainda mais profunda e destruidora em nossas vidas...

 Me lembro quando eu ficava muito ansioso no treino de kung fu, ao ponto de passar mal e ficar impedido de treinar e o quão grande era minha frustração por aquilo, e em vista da expectativa minha e de meus próprios amigos sobre meu papel ali dentro, o impedimento era sério, mas eu enfrentei varias vezes, o que resultava em diversas vezes que eu passei mal e precisei voltar pra casa e fiquei mal o resto do dia por causa das crises ansiosas...

Piorou até, porque passei a ter "medo de passar mal", e projetar nas ações futuras, a possibilidade de eu pirar, o que me colocava um problema presente: Ficava ansioso, antes mesmo de me expor a qualquer situação que me pudesse levar a ficar ansioso, as crises pioraram...

A restrição, no entanto, me fez aprender a ver as coisas por outra perspectiva: Não posso fazer hoje. Não se trata de "deixar para o amanhã", simplesmente de reconhecer que seria mais danoso insistir e, sobretudo, não era a única coisa para se fazer... Nunca é...

O importante não é o projeto ou o que eu poderia estar fazendo, mas o que faço ou o que posso fazer, independentemente do que seja, mas no hoje, nesse "presente" que é o agora. E talvez isso não siga os planos esperados, os  grandes projetos, e talvez contribua muito pouco para esse tão esperado "futuro"...

Existem mil coisas para se dedicar diante da restrição de não treinar, de não poder fazer, que é no mínimo um treinamento da paciência para respeitarmos esse tempo de recuperação e retomarmos nossos (tão apressados) projetos... ou... revê-los.



quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Esconderijos...

Quando pequeno, bem me lembro, na casa de minha avó, ou em minha propria casa, gostava as vezes, me esconder dos mais velhos, de minha vó, meu avo, minha tia, mãe ou pai, meu esconderijo favorito eram guarda-roupas.. Assim que gritavam meu nome, eu já me punha a procurar logo um bom lugar pra me esconder...


Escondido eu ficava por muito tempo, de me apertar a bexiga e suar as mãos. De ficar até com medo de ficar preso no armário, de até achar que todo mundo tinha ido embora... é... quando paravam de me chamar, a brincadeira perdia a graça...

Nos meus esconderijos, mesmo nos que eu mais me esforçava para inventar, o que eu mais queria mesmo... era ser encontrado.



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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

fracassos...

"Não conclui o curso, larguei a faculdade."

Frase difícil, agarrada na garganta. Soa como uma vergonha enorme, ou doença, que me tomou por completo. Falo devagar e mansinho, com medo das reações e cheio de vergonha da situação constrangedora...

"E agora, como você vai fazer?" Diz o interlocutor espantado, se afastando alguns centímetros, afinal, vai que é contagioso.

As pessoas procuram por objetivos em mim a cada pergunta que fazem, como se tivesse acabado de matar alguém. Eu mesmo me sinto assim as vezes, como se tivesse cometido algo terrível.

Não, eu simplesmente não consegui. E não quis continuar tentando...

Ser esfolado vivo nunca foi meu modo predileto de morrer e continua não sendo.

À porta de minha casa solitária fixaram a Placa "Fracassado - mantenham distancia".

Como se o peso de minhas próprias duvidas e inseguranças não fosse suficiente.
Resignado, fecho a porta.

Não vou brigar com estes "de Sucesso", essa estirpe de novos-vencedores, que lançam sua sombra sobre o mundo. Quem sou eu, reles desistente, para tentar desafiar-lhes o espírito? Para desafiar seus inumeros sucessos e sacrifícios feitos. Sacrifícios de Afeto, Sangue e Tempo... como eu poderia chegar aos pés de tamanha oferenda?

Sentado em minha cadeira, dentro de meu pequeno lar interior, eu penso, sobre os tantos que "fracassam", sem ter a chance de tentar. Eu penso sobre os meus "fracassos", e me salvo uma fagulha viva ao qual posso acender uma lareira para me aquecer:

Não sacrifiquei ninguém, nem a companhia dos meus queridos, nem meu sangue, nem meus afetos, em nome desse Deus Sucesso.

E me entristeço ao lembrar, dos tantos envergonhados-fracassados como eu, que tomados pela culpa e pela angustia, ofereceram a este deus-glutão, não mais que suas próprias vidas...
E penso comigo mesmo "A este, não vou servir nunca".

E quando as cartas chegam , a se empilhar em minha porta... perguntando acerca de meus objetivos - objetivos - objetivos - como vou fazer agora - o que vou oferecer ao Sucesso? Ao Futuro?

"Não sei, acho que Nada, apenas gostaria de aprender a tratar as pessoas melhor."

E ao fundo... vou ouvindo alguém cantando...

"Qual é a paz que eu não quero aceitar pra tentar ser feliz..."

Olho no espelho, e me vejo, curtindo um som, com 11 anos.

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