sábado, 30 de agosto de 2014

Da dúvida...

As perguntas se soltam no ar, se desprendem de mim,
não as faço, sou-atravessado.

Estão Inevitavelmente expressas.

Em qualquer pedacinho, ou lugar.

Num convite que espera e ao mesmo tempo, hesita - duvida.

E para.

Quase louco como perguntar por que se respira, ou por que o coração bate, mas ainda assim, ali.
Quase tangível, quase palpável, absolutamente impossível de ser esquecida.
Quase uma ofensa, por querer saber de si mesma...


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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Ponteiros...

Os ponteiros do relógio caminham devagar, os dias passam vagarosos, como se quisessem deixar claro para mim cada segundo de sua existência. Existência. Sou acompanhada pelo tédio como se fosse minha sombra, e possuo um cansaço, não de quem se exercitou, mas de quem foi - partida - e colada, mais ou menos às pressas. E nessas horas, eu olho de novo pro relógio. Como se o olhar insistente o fizesse correr mais rápido, ou sarar as feridas, tornar inteiro o que está quebrado, dissipar esse tédio que me acompanha como sombra...

Mas os ponteiros me provocam e andam ainda mais devagar, e a cada olhar, tudo o que faço, é relembrar minha condição...


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segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Apegos...

Minhas mãos se fecham...

Tentando segurar,

Os últimos fiapos de Sol,

Que alumiam no meio escuro...

Com força se fecham minhas mãos,

Até anoitecer...


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sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Fôlego...

As vezes eu me sinto gritando, como se fosse pra te lembrar...

Como alguém, que grita pela vida, enquanto você vai...

Como se te visse pelo vidro da janela carro que passa, ou seria de um vagão de metro?

Não sei, você vai tão rápido...

Grito, como alguém grita quando sente que não consegue mais nadar...

Grito em meio ao mar, já sem fôlego, com  você muito à frente, nadando a todo pique...

Não sei se você ouve. Grito de novo...

E de novo...



e de novo...






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sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A Inveja...

Engraçado como as vezes nos pensamos imunes à certos tipos de sentimento.  Eu nunca imaginaria sentir de maneira tão palpável quanto sou capaz de sentir por esses tempos... Inveja.

Escrevo essas palavras com o intuito de lançar luz sobre o que sinto, suas raízes prováveis e suas consequências. Não para estabelecer um certo ou errado, nem dar lição de vida pra ninguém, é no limite, uma tentativa de auto-compreensão, que se faz no fazer-se dessa própria escrita...

Me lembro da sensação. Senti uma fisgada nas costas, atrás do coração. Minha mãe falava bem de meu irmão à mesa de almoço, de suas altíssimas médias escolares, de todo amplo futuro que tem pela frente. Eu, acordando ansioso como em muitos dias, me sentia uma das piores criaturas do mundo, senti aquela pontada... minha mãe não estava nos comparando, apenas tecendo um elogio a respeito de meu irmão, seu caráter sólido, e o modo direto como encara as coisas, sua dedicação, coisas que eu reconheço nele e também admiro... Mas naquele curioso contexto, a admiração se tornou em algo a mais...

Digo que veio da admiração, porque creio que existe na inveja essa admiração, que vem em contraposição a uma profunda insatisfação com a própria vida. Começamos a enxergar nossa vida como extremamente difícil, e pensaríamos que em qualquer outra existência, poderíamos nos sentir melhor.

Então, suas raízes se calcam nessa frustração, na não-aceitação da condição em que se encontra. Nesse "não-aceitar", criamos uma perspectiva de que nossos problemas são maiores que os dos outros, que outras existências, são, de alguma maneira mais simples, gostaríamos de poder existi-las. Mas na realidade, desconhecemos essas outras existências, profundamente, em suas alegrias e misérias... desejamos algo que não conhecemos, porque no final das contas, nosso único desejo real, não é ser outro, ou ter o do outro, é "não sermos nós". Não estar na condição em que existimos, existir em outra condição...

Não é tanto do lugar pro qual olhamos, com devaneios de tranquilidade,
Mas pro lugar em que nos sentimos estar...

E ali na mesa de almoço e em alguns outros momentos, em relação às mais diferentes pessoas, eu senti aquela fisgada. E pensando, depois de um tempo, eu percebi que não conhecia as "misérias" daquelas pessoas, via a capa e, as vezes, tinha mais ou menos noção dos problemas de um ou outro. As vezes até quando me sentia "fisgado", porque naquele momento, eu acreditava que nenhuma condição seria tão ruim quanto a minha... E aí eu descobri outra coisa, tanto curiosa, que não sabia sobre mim, que era o orgulho de "ser aluno da Unicamp", e da tremenda frustração que era, dessa maneira, "não conseguir" concluir o curso. A minha expectativa sobre mim mesmo, aquela imagem cultuada e cultivada, do meu "projeto de ser", contrariada pela própria realidade vivida: faculdade abandonada, retorno difícil ao lar, crises de ansiedade, desgosto.

A Inveja é outra maneira de ressentir a própria vida. Da inadequação de nossas expectativas com o lugar aonde chegamos, uma forma da decepção comigo mesmo, de meu enorme orgulho, e dos meus grandes projetos, todos falidos...

E agora, diante de mim, há uma cidade de sonhos feita em destroços.

Uma grande vastidão de entulhos.

E a perspectiva de (re)começar, vem marcada pelo medo de repetir...

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