segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Sobre uma ausência essencial ou...

sobre um certo charme que possui a ausência...

Estive a pensar sobre o assunto, na verdade, pensei quase sem saber que pensava, quando vi, já tava quase pensado - haviam coisas e mais coisas que comunicavam ao assunto, eu apenas precisava alinhava-las.
Antes, acho que até pouco tempo, eu não gostava da sensação de falta, quase que fanáticamente preenchia a falta de um modo bem geral. Hoje, em entre tantas entrelinhas, entre tantas conversas e agora entre tantos vazios que se encontram, não cabe em mim a limitação de me enfartar.
Uma das coisas mais importantes para aprender a sair de casa foi conseguir mais uma falta, e não superar a falta de casa - essas coisas a gente não supera - na verdade, vivo já a um tempo entre duas saudades - a de lá quando estou cá, a daqui quando estou lá.
Mas é de ganhar uma saudade e uma falta é que eu ganhei o "tempero" - É como comer arroz todo dia, não é especial, porque se torna tão comum, você nunca tem nada de novo a dizer ao seu arroz, exceto se está bem temperado, ou se queimou.
Agora eu pauto as diferenças e as singelidades, dou lhes significado, e é sempre uma sensação gostosa abrir a porta de casa - antes, tão trivial, tão sem sentido - hoje, o frio que faz na minha cidade, e aquele tempo fechado, com neblina e chuva-em-pó, é quase como um abraço, um aviso, que ela me dá - "Olha, seja bem vindo de volta, está em casa".
Hoje, quando estou em casa, a andar pelas ruas, reparo nas mudanças, ou na lentidão com que o tempo parece fluir em Ouro Preto e lá, me lembro de cá, e saudosamente me recordo das boas manhãs cantinando pelo IFCH, ou dormindo na Arcádia, caminhando pela dois tomando chuva, acordando na parte de cima do beliche.
E olha, ainda nem comecei a falar das pessoas - mas é que é estranho assigna-las a um lugar, o que na verdade acabo fazendo, quando estou lá em Ouro Preto, morro de saudades de Allan "meu pai", da Jaque, do Werner, da Isa, da Raquel, ixi... quanta gente!
E não me levem a mal, mas nem vou começar a citar as lembranças de Ouro Preto, de Minas, tampouco aquelas que transcedem fronteiras - de Estado , de Espaço e tempo - no limite, todas elas.

E se me perguntarem:

Copo meio vazio ou meio cheio?

Responderia:

Porque não as duas coisas?

Eis o que encontrei: uma Ausência que também faz parte de minha Completude.


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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Sobre uma teória de transformação...

Aproveitando para escrever um raciocínio que tenho a um tempo.

Eleições de DCE na Unicamp, faço parte de uma Chapa - "Não sou massa de manobra", este nome não é a toa, representa algo que vem acontecido dentro da Unicamp a algum tempo, uma insatisfação com a dominação dos espaços de representação política da Unicamp por grupos minoritários, geralmente comprometidos com o discurso de alguns partidos políticos.
O problema não está em absolutamente no que defendem, concordo com a maioria das pautas, concordo inclusive com a "una-realidade" que defendem, porém, não a tenho por verdade, tampouco interesse em propaga-la por aí, como um religioso, pois é, nada na ortodoxo.
Questiono o quanto é positivo que um espaço de representação de estudantes, possua em seu cerne, um discurso tão fechado com pressupostos pre-determinados comprometidos com uma causa partidaria, ou seja sem construção com o coletivo dos estudantes.
Mas não é nisso que vou me focar, o assunto é possibilidade de transformação:

Ao ler as propostas das Chapas, algo sempre me cutuca o pensamento, leio a proposta: "lutar por mais bolsas..." , me vem imediatamente a pergunta : Como? Não sei de que adianta apontar um milhão de direções (lutar por isso ou por aquilo), um milhão de pautas justissimas (contratação de professores, por exemplo), se a única função que aparentam ter, nesse momento, é uma auto-promoção eleitoreira - um comprometimento que não diz a respeito das formas de construção sobre a possibilidade de efetivar essas propostas.

Onde estão as formas para se conseguir tais benefícios?

A ordem de poder dentro da Universidade concentra poder por demais nuns poucos orgãos burocráticos , na figura do Reitor e de uns diretores que o rodeiam, não é uma malha fácil de se comprender, mas se percebe o desnivel de poder e a pouca propensão ao diálogo dentro da estrutura aparentemente "piramidal" da Unicamp - poucos com poder demais, muitos com quase nenhum poder - porém, essa é uma leitura dentro da óptica oficial das coisas , dentro "do regimento". Digo, no limite, a autoridade do reitor, o poder deste e dos orgãos da Unicamp estão ligados puramente à crença que estes orgãos podem realmente exercer poder sobre uma comunidade de mais de 30 mil.
A fragilidade deste tipo de poder está aí, apesar de suportados pela lei, como poderia haver um mínimo pressuposto de ordem interna caso um terço desses 30 mil decidisse que não iam mais aceitar as regras que os regem, tal ordem de poder? A mobilização massiva desestrutura as bases do poder dentro desse tipo de instituição, obriga os pólos de poder, os orgãos burocráticos, a reitoria e o reitor (no caso da Unicamp) a negociarem para obter estabilidade institucional.


Mais do que propostas, em minha opinião, é preciso criar condições para se construir uma mobilização que gere a possibilidade de uma desestruturação do poder a tal nivel. Nesse sentido não acredito que um movimento de minorias, como o que caracteriza as mobilizações na Unicamp de uns anos para cá em geral , seja capaz de construir condiçoes mínimas para uma mobilização desse porte, porque além de não abalar a estrutura do poder oficial pode fortalece-lo , e aqui frequentemente o faz, porque faz com que muitas pessoas que estão também na base legitimem o poder da Reitoria - em seu discurso fechado conseguem afastar pessoas, que congregadas, dariam a possibilidade de que se somassem forças o suficiente para tal construção, e ainda fazem com que estas forças se tornem avessas a esse tipo de construção.

O movimento de minorias é aquele que não se pretende em maioria, que não abre pressupostos ideológicos que tornem o diálogo mais amplo, mais plural, um discurso que não possui perspectiva de crescimento, pois gera insatisfação entre aqueles que são afetados pelo poder das instituições representativas nas mãos dos grupos de minoria - greves votadas à revelia de quorum, legitimidade, discussão , etc... - e frustração em vários daqueles que participam: contam com poucos, e nesse tipo de estrutura de poder, pertencentes "a base da pirâmide" e "em minoria", possuem pouquissimas chances de conseguirem mudar algo efetivamente, mudar não pontualmente, mas a lógica por trás do poder, essa falta de alcance é frustrante, ambas fortalecem um discurso pessimista e de certa forma a apatia que nos rodeia.

Porém, como congregar um número tão grande de pessoas?

A predisposição para uma mobilização desse tamanho necessita de autonomia. Boa parte da luta será impulsionada pelo reconhecimento da própria base de seu poder dentro do espaço, da possibilidade de desestruturar a ordem de poder que em muitos aspectos não age em seu favor e é pouco disposta ao diálogo - aqui na Unicamp isso é bem forte - através de sua organização e da subversão que se fizer necessária para colocar a ordem de poder, sua lógica e pressupostos em xeque.

O reconhecimento de unidade depende do rompimento com o discurso de isolamento, excessivamente individualista que existe dentro da Unicamp, preconceitos entre cursos, areas do conhecimento, preconceitos de discursos políticos, todos, no limite, preconceitos entre pessoas.
Romper com esse discurso é romper inclusive com as acusações sobre o individualismo alheio, e a proposição de espaços de encontro, de possibilidades outras, que permitam novos pensamentos, outras lógicas criativas, outros discursos. A partir do reconhecimento de unidade, é possivel desconstruir os pressupostos de poder, dentro dos próprios espaços de encontro, dando possibilidade de uma autonomia, de pessoas e em relação a sua unidade dentro do espaço.
Essa autonomia é um fator importante, porque ela torna a comunidade envolvida mais pronta para agir, e sem a necessidade de lideranças fortes, e talvez até mesmo de lideres.

Se trata de uma mudança "cultural" e possivelmente a longo prazo, e ainda se configura apenas como possibilidade, nunca como certeza.
Mas que se for uma possibildade real, nos dará um potencial de transformação importante, não só no quadro da Unicamp.

É preciso considerar que as bandeiras que um movimento desse pode erguer são restritas de certo modo, e no momento presente de forma ainda mais acentudada: Uma repelência crassa entre os discursos de "esquerda" e "direita" que impedem um discurso consonante. É possivel que algumas pautas importantes para o discurso da esquerda não sejam possiveis, o mesmo ocorrerá com algumas pautas da direita, mas essa construção de "meio termo'", mas que se comprometa na preservação do que é a Universidade pública, fruto de um diálogo, poderá trazer benefícios importantes à medida que pode congregar mais pessoas a sua volta, um discurso mais amplo.

Dentro dessa possibilidade é de se esperar que a ponta da pirâmide- a reitoria por exemplo- associada a um poder social oficial - a lei - abram espaço para o diálogo, e a partir daí construir aquilo que se almeja conquistar, utilizando as forças do próprio poder oficial, tanto da reitoria como dos orgãos associados a lei - isso dará corpo as conquistas.


Ao longo prazo, a "convivência" desses discursos em "lutas comuns" possivelmente irá transforma-los, em discursos menos polarizados em "direita e esquerda" e talvez até possa-se parar de usar esse vocabulário. A autonomia frente o reconhecimento e de uma perspectiva de política mais cotidiana dá nos a possibilidade de não precisarmos de lideranças, isso revigorará os espaços de representação e discussão. A partir daí existe a possibilidade efetiva de uma mobização capaz de desestruturar a ordem de poder surgir.


Isso é tudo uma possibilidade, teoria, um cheiro.

Mas eu nem preciso me valer de verdades para querer tentar.


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