quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

perguntas...

abertas para cortar o silêncio.
pra que me responda o que bem entender.

por que não tenho perguntas de verdade...

Só quero ouvi-la dizer.

só quero ouvir alguma coisa

qualquer...

coisa.

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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Velho Con...

                Subíamos um morro cheio de paralelepípedos quando o pequeno Rudi despontou correndo lá na esquina em direção ao nosso pequeno grupo. Con era um velhinho simpático, muitas rugas, quase nenhum cabelo  um grande bigode que ainda estava meio castanho, meio grisalho e uma boina cinzenta que deveria ter uns vinte anos. Rudi não tinha mais que seis anos, e o velho o pegará pra criar, uns diziam que o garoto era orfão de guerra, outros diziam que era só mais uma das gracinhas que Con fizera por aí, ao longo da vida, de qualquer maneira, para os dois, eram pai e filho. O garoto era bem moreno, olhos grandes e negros, como os cabelos, que eram encaracolados e a alegria na sua expressão era evidente como o Sol nascendo, usava uma camisa azul que já não lhe servia tão bem e uma bermuda que era branca e hoje estava mais para vermelho-terra ou marrom-encardido.
               O menino parou diante do velho, fechou os olhos e estendeu as mãos, mostrando as palmas como quem espera alguma coisa. Por um breve momento o Velho Con pareceu não entender, sorriu, e estendeu as mãos sobre o garoto, enquanto recitava palavras, fórmulas mágicas, para o garoto, breve, estalou os dedos e lhe disse com sua voz grossa:
             "Agora, meu pequeno, só poderá dizer a verdade". O tom profético de sua fala soava para mim como uma maldição, de só "poder dizer a verdade" por causa de algum feitiço, mas para Rudi parecia algum  tipo super poder, ele ria  e ria, e subiu o morro disparado na nossa frente, provavelmente para fazer uso dele. O velho Con o acompanhava com o  olhar quando minha namorada me interrompeu:
             "Eu não acho saudável! Esse tipo de brincadeira... é uma mentira! E ainda mais vinda dele!". Ela e o velho não se davam bem, bom, ela não se dava bem com ele, porque duvido que o Velho Con conseguia se dar mal com alguém, mas ela não gostava... Con era um trambiqueiro, um gatuno por excelência, vivia de pequenos truques e enganações, talvez muitas delas bem menos nobres que seu truque de mágica para Rudi, e ela reprovava, profundamente.
           Eu já achava que aquilo era mais um divertimento para o Velho Con do que um trabalho, ele gostava e se divertia, e ele e Rudi não passavam uma vida luxuosa. Eu sabia que ele adorava pagar de guia turístico  mesmo não sendo dali e as vezes dava a contar histórias em voz alta, pelas praças ou coretos da cidade...
         "Como é que alguém que vive de mentiras e ainda fazer uma mágica! Uma mágica, Thiago! Para dizer que o garoto só podia dizer verdades, quando tudo isso era uma mentira!" O desabafo dela era, em alguma medida, preocupação com Rudi, mas minha paciência já havia se desvanecido:
        -É por isso que é mágico...
"Meu pai foi enfermeiro na Primeira Guerra, e só não foi para segunda porque não estava apto, depois da primeira guerra não conseguia mais trabalhar como enfermeiro, não tinha se ferido, mas não conseguia. Passou o período da Segunda Guerra sem conseguir arrumar emprego, arranjando o que podia, até que começaram os truques e as pequenas enganações. Quando eu era pequeno, cuidava de mim, quando me machucava, ou ficava doente, nunca entendia de verdade porque ele não era mais enfermeiro. O que o machucou não feriu mãos ou pernas, não mutilou seu corpo, mas ele nunca mais trabalhou com uma das coisas que mais gostava de fazer."
      Eu olhava para aquele simpático velho, suas magias e truques, suas mentiras e enganações, suas controvérsias, Rudi, sua vida. O que a ela parecia um absudo, era para mim um retrato do mundo...

E um dos mais bonitos.



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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

vento quebrado



O mundo trivial se torna a meta...

Todas as forças necessárias pra acabar

Mundo arco e seta

Fugir pra poder respirar

Prender o ar e soltar a alma

[desalcançamentos me acalmam...
               ...derrota por definição]


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