domingo, 26 de setembro de 2010

Chuva.

Gosto do cheiro que vem quando a chuva vai chegar, e da forma como ela nos deixa bobos, correndo apressados, como abre espaços nas ruas e nas calçadas, gosto da forma como ignora nossa seriedade e esforços para nos mantermos certinhos, e chega, sem pedir licensa, caindo e nos molhando a todos. E abrir os braços e olhar pra cima, enquanto a chuva caí, e correr, e gargalhar.
Mãos dadas na chuva! Gosto de ver as gotas de água refletidas contra a luz, e caindo com seu fluxo caótico, e quando acertam as lentes do meu óculos.

chuva das primeiras brincadeiras, os primeiros passos de espaço, suspiros de liberdade, lugar das minhas fugas.

Hoje e quem saberá até quando.


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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

22 do vinte e dois.

Eu tenho certeza que vou demorar alguns meses a me acostumar com a idéia de 22 anos, hora vou dizer 21, talvez até 20 se duvidar. É que no limite a gente nem envelhece mesmo de um dia pro outro, a ponto de mudar algo que consiga realmente perceber como 21 para 22. Quando eu era mais novo nem fazia tanta diferença, aniversário só era bom pela bagunça, pela festa pela ruptura com aquela rotina chata de sempre, por comer bolo, ganhar presentes, correr e brincar sem muito que se preocupar com tempo.
Quando mais velho, foi mudando. Passou a ser uma espécie, primeiramente de momento de mim mesmo. Não existe um 22 de setembro, desde 2004 provavelmente que eu não fique profundamente reflexivo. É simplesmente algo a mais pra se fazer, pensar em trajetórias, comemorar memórias, no limite, é isso o que significa para mim o aniversário, de uma maneira geral, uma celebração da memória e da existencia daqueles que de alguma forma amamos.
É a celebração da trajetória de cada singularidade, e nesse sentido também, daquela própria singularidade.

Engraçado ser justo nesses tempos, onde algo no mundo, chama profundamente por uma afirmação de mim mesmo, sobretudo, para mim mesmo.

Foi um 22 agradavel, com presentes curiosos adiantados. Com muitos abraços e palavras gostosas, de pessoas que compõem aquilo que sou, e que nesse sentido, é preciso celebrar a elas todas também.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Sobre a igualdade humana.

Eu não aprecio o marxismo, ou sou entusiasta do Comunismo porque são "lógico", porque está "provado" que o atual sistema em que se organiza a sociedade é desigual, injusto etcetera.
Todas essas reflexões, quando as penso em mim, me arremeto mais a meu incomodo com a condição do outro, meu incomodo de criança ao ver outras crianças vivendo embaixo de um viaduto em BH, imagem que tenho clara na mente até hoje, em resumo, antes de ser leitor de Marx, eu sou um profundo amante da humanidade, e da idéia de que somos iguais.
Creio que esse é um campo ao qual a esquerda me parece pouco acostumada, e vejo raras vezes em nossas discussões, terrivel pensar, mas muitas vezes nos falta pensar o humano.

A idéia básica da possibilidade de uma sociedade igualitária, precisa se fundar na percepção dos seres humanos como iguais, está mais ligado aos sentires, não aos pensares.

A identidade humana está no sentimento não na razão. As soluções "racionalizadas" estão aí. Racionalização essa ligada a um forte discurso de distancia, pensamos a diferença, mas somos incentivados a não senti-la, pela propagação de diversos discursos na sociedade que buscam construir essa diferença, que vão desde a consideração de que "quem é pobre é pobre porque quer", até o forte medo propagado sobre estes. Assim, criamos uma curiosa situação: capazes de belissimos discursos sobre a desigualdade, capazes de ligar pro criança esperança e doar um agasalho uma vez por ano, mas incapazes de permitirem-se sentir os mundos daqueles que estão em uma situação de desigualdade muito intensa. Ajudam, assim, restringido pela razão, e portanto limitados mais fortemente pelos discursos da sociedade.

Mas não existe argumentar no campo dos sentires do mundo, a única coisa que posso sugerir, é que tentar, antes de dar esmola a um mendigo, olha-lo, com os olhos a mesma altura, permitir que se esbarrem ali os universos que os compõem, e depois tentar responder se: existe mesmo, essa profunda diferença entre vocês dois, legitimada na profunda desigualdade social que os separa?

As forças que precisamos para mudar as coisas, não estão contidas na lógica de um pensamento, elas estão nos corações das pessoas, na nossa capacidade de nos reconhecermos como iguais, e que essa diferença que nos separa e divide é absurda.

É no sentimento de que somos iguais, que o mundo em que estamos se torna insuportavel, que se torna insuportavel não fazer nada para muda-lo, e para encerrar relembro, ao Che...

"Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros."





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terça-feira, 21 de setembro de 2010

lugar vazio...

Aquele caminhar na chuva, sem ninguem para acompanhar.
O lugar vazio na poltrona durante as viagens, o lugar vazio na cadeira a frente da mesa. São os bons dias e boas noites que eu não ouço, os abraços espontaneos e as surpresas que não recebo, os comentários que não ouço, as besteiras e singelices que desconheço. As idéias que eu não comento, as besteiras que eu não falo, as gargalhadas que não dou.
A presença que não sou. A singularidade ausente.
O não-beijo, o não-sexo. Não-olhares. Não ouvires, nada.
É olhar o mar, as flores, as arvores, as cores, é ver borboletas e as pessoas, e não ter quem mostrar.
Nem ver do diferente e os sentires que não sinto.
Quem falta nas fotos, fotos que nem são.
São aquelas coisas dificeis que eu deixei de lado, e o pior de mim que também sou.
E aquele comentário que eu deixei de fazer, a dança desacompanhada.
O afagar onde não há nem cabelos, nem corpo, olhos ou bocas.
É o espaço vazio do meu abraço. A falta do ar no suspiro.
E somente o barulho dos meus próprios passos, que acompanham minha sombra singular, e minha mãos dadas... pro vazio ao meu lado do meu lado vazio.


Não que eu não seja, nem que não esteja feliz. É só o causo de mais uma dessas solidões, revestidas de outras cores.
De alguem que entende que o mundo faz sentido quando é compartilhado.
Mundos em mim, que hoje só existem no chão da pele, e nela nascem e morrem, sem florescer, mas renascem, dentro de seu ciclo incompleto.

Esperam pelas primaveras da alma.




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terça-feira, 14 de setembro de 2010

teria mais o que fazer mas...

Peripécias dos meus próprios fantasmas.
E justo hoje a garganta ia ficar travada, e o nariz entupir denovo, sufocante. Como sufocante é o medo. Agora o labirinto.
Chegam a ser óbvias as minhas próprias reações das coisas que me ocorrem. Sentir-se sem ar, não conseguir colocar a cabeça no travesseiro e respirar tranquilo não é? Quase literalmente, e sentir as vias respiratórias congestionadas, um incomodo forte na garganta, que desce até se perder no meio do peito.
Eu queria só ir deitar mesmo. E se não tinha um "tag" pra falar diretamente disso agora tem.
É muita irônia me deixar sem ar justo agora, não me deixar dormir justo hoje.
Vá pro inferno!


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sábado, 4 de setembro de 2010

É possivel perder-se de si?

Até hoje, eu acredito que sim.
Apresentados ao mundo, somos educados na cultura a aprender "nosso lugar" e a nele nos sentarmos e só irmos aonde nos é permitido ir. Na minha opinião, chegamos a um nível de controle tão severo onde nosso 'eu' é totalizado pelo que aqui chamo de cultura. Uma cultura totalitária, ela promove a dominação total do ser, o insere em centenas de padrões e convenções que se seguirmos um mínimo deles nos desfaremos em tantas milhões de partes que, primeiro: nos discernir será profundamente díficil, segundo, não faço idéia daquilo que significará o "eu".
Como um manequim, a única coisa diferente entre nós, nesse extremo da dominação, seria a roupa com a qual nos vestem (nem nos vestimos mais), e no fundo no fundo, manequins ocos, desprovidos de um "eu" que tenha cores próprias, que se afirme, desprovido de "vida vivivel".

Algumas horas eu temo que caminhemos para isso. Mas essa distopia só viria a tona se cedesse a nossa resistência. Aquilo que penso por "eu" é algo que resiste, resiste a adaptar-se e a caber no mundo que lhe é imposto, resiste por meio da sensação - de maneiras tão variadas, dentro da história, e da experiência de cada indivíduo, mas felizmente, resiste.

Bom, quem me conhece, vai perceber que pra mim, faz um danado de um sentido pensar assim.
Não me garanto razão, apenas penso sobre a idéia.

Nesse jogo de forças entre o "eu" do individuo e o "mundo", criamos nossos meios de nos mantermos nós mesmos, e ainda, estarmos no mundo. Mas a sociedade de controle está longe de ser um local propício a expressão das coisas que mais nos dizem, própricio a plenitude do ser.
Assim, resistir é uma dimensão necessária, a adatpação uma porta para um terrivel tormento, que é a possibilidade de não ver sentido pela anestesia dos sentidos do mundo, que existem em cada um de nós.

Questionar e mudar essa cultura do medo, essa cultura da dominação, se faz necessário.
Rejeitar o controle totalizante do ser.
E a energia dessas tantas multilações que sofremos, como a força que precisamos para mudar, tudo.


Desacreditar o poder. Desacreditar o controle.
Nada existe por sí só, fazemos o mundo.


Revolução do ser. Revolução do mundo. Mundos.



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