quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O que estamos fazendo?

Outro dia pipocaram as surpresas de minha saída da Unicamp. As perguntas vinham rápidas, e com um tempero de receio: "Mas e agora, o que você vai fazer?", não eram feitas com maldade, mas com uma preocupação sincera, mas ao mesmo tempo, desentendiam qualquer possibilidade que não fosse "terminar a faculdade custe o que custar".

Eu não me dei com essa ideia do "custe o que custar". E na onda de se falar sobre "não deixar o que se pode fazer hoje para amanhã", eu começo a perguntar (para mim e para os outros): "O que estamos fazendo?"

A pergunta tem em si um elemento que as vezes me parece faltar nessa perspectiva de não "deixar nada pra amanhã". A questão do o que eu deixo, e o que não... é que Algumas coisas ficam para amanhã, inevitavelmente... Ou nem para amanhã ficam, ficaram... pro ontem, e não serão retomadas jamais pelo meu próprio esforço, mas o ponto é que sempre estaremos fazendo alguma coisa, ainda que seja lamentar a impossibilidade de continuar nossos projetos.

Grande exemplo pra mim é quando encaramos restrições para a prática daquilo que gostamos ou temos como objetivo: Kung Fu por exemplo, ou natação; Quando nos lesionamos, somos tomados, muitas vezes, por uma terrível impaciência com nós mesmos, nos apegamos ao futuro da nossa recuperação pra voltar a praticar essas atividades diversas que tanto significam pra nós, Kung Fu ou natação são só exemplos, pode-se aplicar essa ideia a quase tudo.

Ficamos doentes, ou passamos por uma situação familiar que nos tira o equilíbrio necessário para realizar algumas tarefas, nos machucamos, enfim, encaramos uma série de impedimentos que interrompem, na maior parte das vezes temporariamente, nossos "projetos"...e nos afogamos em frustrações...

 E muitas vezes, diante dessas restrições ocasionais, insistimos (quantas distensões poderiam ser evitadas...), o que pode resultar num problema ainda maior, um impedimento mais grave ou permanente daquele "plano-projeto" que pretendíamos seguir...E daí, nossa frustração pode tomar uma dimensão ainda mais profunda e destruidora em nossas vidas...

 Me lembro quando eu ficava muito ansioso no treino de kung fu, ao ponto de passar mal e ficar impedido de treinar e o quão grande era minha frustração por aquilo, e em vista da expectativa minha e de meus próprios amigos sobre meu papel ali dentro, o impedimento era sério, mas eu enfrentei varias vezes, o que resultava em diversas vezes que eu passei mal e precisei voltar pra casa e fiquei mal o resto do dia por causa das crises ansiosas...

Piorou até, porque passei a ter "medo de passar mal", e projetar nas ações futuras, a possibilidade de eu pirar, o que me colocava um problema presente: Ficava ansioso, antes mesmo de me expor a qualquer situação que me pudesse levar a ficar ansioso, as crises pioraram...

A restrição, no entanto, me fez aprender a ver as coisas por outra perspectiva: Não posso fazer hoje. Não se trata de "deixar para o amanhã", simplesmente de reconhecer que seria mais danoso insistir e, sobretudo, não era a única coisa para se fazer... Nunca é...

O importante não é o projeto ou o que eu poderia estar fazendo, mas o que faço ou o que posso fazer, independentemente do que seja, mas no hoje, nesse "presente" que é o agora. E talvez isso não siga os planos esperados, os  grandes projetos, e talvez contribua muito pouco para esse tão esperado "futuro"...

Existem mil coisas para se dedicar diante da restrição de não treinar, de não poder fazer, que é no mínimo um treinamento da paciência para respeitarmos esse tempo de recuperação e retomarmos nossos (tão apressados) projetos... ou... revê-los.