segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Sobre os poemas...

Um dia contaram para mim que eu escrevia poemas. Eu não sabia, eu quase sempre sento aqui e escrevo, n'outras horas desisto, n'outras horas olho para página em branco diante de meus olhos ou simplesmente sou distraído por outras coisas, e isso nunca teve nome... As vezes "meus escritos"... ou "os textos do blog".

Embora a prosa vá se desfazendo ao longo do tempo, nessas linhas soltas nunca foi meu intuito tornar as palavras poemas, na verdade são elas que me indicam o caminho, como a harmonia de uma música... as frases as vezes são jogadas como pedem (ou como podem), e em alguns parágrafos só cabe uma palavra, noutros, nenhuma...

As palavras e eu, nós nos pedimos mutuamente. Não poderia viver sem dize-las, e são elas que me dizem a todo momento. Me escrevem a todo momento...E a todo momento, me despertencem...

Tocam nas vidas de outras pessoas, transformar e são transformadas, magicamente, ganham outros nomes, texturas, dimensões..

Essas palavras que se pertencem, não me pertencem e por isso ganham outros nomes além dos que dei...
Porque, como para mim, "dizem muito" à outras pessoas...


Fico feliz que seja assim.

Obrigado.


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Passagens...

Passa um tempo, ou vento...

E Tudo vira calmaria.

Já não importa mais contar as dores.


No auge da angustia, todas as angustias a se desfazerem em pó.

A tristeza se cala diante do silencio...

A serenidade brota da terra devastada,

E transforma...

Aquilo que já não é


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quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Ruínas...

Um Colosso de Rhodes risonho despenca de cabeça para baixo,

Cheio de trincas e rachaduras, pronto para se espatifar contra o mundo.



Segurado apenas por uns poucos fios de teia de Aranha amarrados no céu.


Desse Céu, chovem Fragatas e Galeões de guerra, com seus canhões a vomitar flores mortas.

Não há estrelas no céu porque não é possível vê-las.

O ar carregado tem cheiro de incenso,

Não há nada na Terra que permaneça,

Me lembro que a única coisa que "temiam os Gauleses"

"Era que o Céu caisse sobre suas cabeças"...

E eu, que achava isso tudo tão estranho...


Acho que entendo...



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Das coisas que entristecem...

O quanto perdemos tempo com os "resultados" e as "cobranças" e não podemos aproveitar a companhia de quem nos é importante. Como as obrigações que deveriam produzir uma vida prospera, se tornam muitas vezes, a causa da própria infelicidade...

Como deixamos de nos falar, por motivos frágeis, apegados à expectativa que tínhamos sobre os outros (e vice-versa) justificando para nós mesmos um rompimento que muitas vezes nem desejávamos.

Me entristece o poder capaz de cortar (ou silenciar) laços. Do sofrimento que surge com as insatisfações que carregamos sobre nós mesmos, com todas as nossas "culpas" e "deveres" a nos preencher como cacos de vidro...

Outdoors me entristecem. Com seus sorrisos brancos, com seu modo de vida, "consumo-felicidade", com sua reprodução exaustiva, a ponto de não ter para onde olhar que não me remeta à esse modo "shopping-center" de ser-estar.

Me incomoda a exclusividade das coisas. E as justificativas do privilégio...
A insanidade que ronda o senso comum, dessa desumanidade que muitas vezes tenta se justificar como Justiça.

O tédio de meus alunos me entristece, pois queria que amassem com fervor a vida a cada momento, pudessem a aproveita-la e descobrir como dela criar, sem serem compelidos e forçados a vivenciar esse tédio por tantos e tantos anos... Me entristece a violência com que aprendem a se relacionar.

E a terrível sensação de impotência diante do tamanho das dificuldades. Dos meus próprios problemas... Das coisas abandonadas.


Me entristece saber que a dor, a morte ou a doença, todo tipo de sofrimento que estamos sujeitos, passa desapercebido às nossas pequenas disputas diárias... Sinto saudades de pessoas que não vejo mais. E delas o meu respeito para evitar tamanha tolice.
Me entristece essa ruína de mim mesmo, que luta pra se recompor.
Esse sem-rumo, levado por uma maré de perguntas,
E os meus fracassos intermináveis... e essa intolerância toda...



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Tempo cultivado...

Com o tempo, as coisas que cultivamos,

passam também a nos cultivar.

Se tornam parte de nós e nós, delas.

Passamos assim, a viver dessa simbiose,
              daí o sentido do verbo Apropriar-se...

É a arte da simbiose com a Vida, que torna tudo o que não é igual, inédito.

Que transforma a nossa forma,
E forma.

E Cria...

 A nós mesmos.

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começo...

As mãos escondem olhos que observam, escondem sorrisos e choro.
E o coração apertado no peito, apertado de não aguentar mais - conflito e confusão.

No final, não parecem todas as exigências tão mesquinhas?
Nossas pequenas disputas cotidianas, nosso culto ao nosso "eu", à imagem que criamos de nós?
Não é estilhaçada de época em época essa vidraça, com o vento do tempo, carregado de suas intempéries?

E com que fim? Se apenas o fim é o destino?

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sábado, 7 de dezembro de 2013

A Desconfiança é um sentimento solitário...

Não desconfiamos de quem não faz diferença, de pessoas cotidianas cujos vínculos que formamos não extrapolam sua formalidade diária. Podemos até assumir para nós mesmos comportamentos desconfiados em relação ao mundo, crendo não valer à pena dar chance a ninguém, uma vez que toda e qualquer pessoa está sujeita a nos decepcionar.

Mas não raro isso é uma extensão, da desconfiança que nos importa, a desconfiança causa dessa desconfiança do mundo - e sobretudo a que mais nos fere - é aquela que nutrimos sobre quem amamos. E nem é necessário que tenham nos enganado, as vezes apenas a  frustração com algumas poucas pessoas amadas, frustrações que fazem parte da existência de qualquer um de nós, nos machuca profundamente, nos enche de dúvida.

E nesse lugar em nós das pessoas que importam, das pessoas que extrapolam a monotonia do convencional, aqui, a desconfiança é uma faca muito afiada.

Especialmente afiada, porque o engano não é antagônica ao amor, mas muitas vezes nele justificada.
 Daí sua angustia mais profunda: Justamente por sermos amados, fomos "enganados".
Essa vinculação sinistra entre Amor e Engano, nos leva facilmente a associar que todo amor pode estar maculado por essa terrível sombra do "engano justificado"... Esse medo tende a se estender e permear cada novo vinculo que criamos.

Talvez daí venha boa parte dessa desconfiança geral em relação ao mundo, afinal, uma vez que, se aqueles que mais amamos e desprendemos de nós para estar por perto, não conseguimos (ou não podemos) confiar, em quem mais poderíamos?

Os sacerdotes modernos do Desapego saúdam três, quatro, cinco vezes, a desconfiança em relação ao mundo, esse culto ao afastamento, ao "Estado Mínimo" de vínculos e pessoas à nossa volta. E boa parte de nós acredita ser profundamente sábia e racional tal atitude em relação à nós mesmos, em relação às pessoas que encontramos e que aos poucos tornamos "inextrapoláveis"...

Absolutamente presas ao cotidiano nas quais às congelamos, de nada permitimos que faça que possa nos alcançar, nos tocar, nos desequilibrar. Mais do que a elas, não nos permitimos extrapolar, arriscar não mantê-las no convencional - nos congelamos.

Esse sentimento que parece liberdade, é uma solitária. É um bloco de gelo ao qual nos encerramos na expectativa de nos "imunizar" ou repelir a dor, evitar sofrer, que acaba se tornando "evitar viver".

Essa desconfiança surgida primeiro em relação a quem amamos. Nos toma e nos devasta por dentro. Nunca estando aqui em questão, se os outros são confiáveis ou não. A partir dessa experiência frustrante, criamos fórmulas, teorias e máximas para definir a humanidade segundo as nossas aflições e passamos a suspeitar de todos, nos fechamos à possibilidade de entrega, à possibilidade do dizer francamente e do acreditar no que ouvimos e, em algum tempo, no que nós mesmos dizemos..


A Desconfiança é, deveras, um sentimento terrivelmente solitário.




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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Sobre caminhos...

Onde está o caminho? Como sabemos se estamos no caminho ou não?
Quando a dúvida nos toma, como manter a confiança de que continuamos no caminho?

Definitivamente, enquanto estamos, estaremos em movimento. Caminhamos, mesmo que sem caminho, mesmo que não-conscientes... Ou a fazer tal caminho a partir do próprio caminhar... como uma estrada que se forma a partir das pegadas que deixamos, ela existe por onde a gente passou, e passa... mas não tem uma rota, trajetória definida... o futuro.

Talvez...

As perguntas do começo acabam, geralmente, se voltando para um anseio de avaliar as coisas, os caminhos e as escolhas e medir. Buscar por resultados, como se procuram por marcos e referências para se fazer um mapa... "um mapa do tesouro" muitas vezes. Uma expectativa de que no final daquela estrada encontraremos uma pá e um "X" no chão e um belo tesouro de pirata para desenterrarmos.

Avaliamos pelo resultado, os "frutos no caminho", as referencias encontradas, que reforça nossa convicção que estamos "no caminho certo" e encontraremos um belo tesouro ao final.

Eventualmente, se não enxergamos, porque há poeira em nossos olhos, porque estamos cansados, ou está escuro, nossa convicção é posta a prova, pela falta de méritos, pela seca de resultados... nosso caminho é questionado, o que fazemos, deixamos de fazer... como fazemos...

Mas qualquer um está em movimento, porque só por estar, já não é mais aquilo que foi, é um sempre "sendo". E mesmo que trace seu destino e tente determinar sua reta, seu caminho, as vias pelas quais percorrerá sempre serão diferentes daquilo que tinha em sua imaginação. Essa é uma das coisas mais encantadoras e duras de se perceber no mundo: A diversidade do mundo, daquilo que encontramos no não-esperado, na surpresa, a nos tirar de nossos lugares comuns...

E como nossos caminhos se alteram, as vezes sem quase nos darmos conta de que a pouco defendiamos com convicção que "isso nunca vai mudar"... mesmo quando os planejamos com todo cuidado e zelo, somos pegos de surpresa, pela nossa própria experiência no mundo. E por mais estabanada, dura, ou engraçada, essas experiências nos transformam... Ou "nelas, nos transformamos..."

A nenhuma cidade que fui (planejando ou não), as ruas eram iguais as que eu tinha imaginado antes de chegar. Nem iguais eram os momentos e as situações. E é difícil para mim julgar e estabelecer, quais foram os frutos colhidos, os méritos coletados, durante a trajetória (até por ter uma aversão a essas coleções);

"Valeu a pena?" "O que você conquistou/ganhou/evoluiu/etc... com isso?"

A importância está para quem pergunta em diferente lugar para quem a pergunta é feita.
Não sei medir a importância das pegadas deixadas na areia, muitas delas o vento já apagou,
nem consigo ver mais donde é saí. E não sei se tenho pretensão de chegar, porque também não sei pra onde vou.

É necessário pautar, nossas escolhas e caminhos, a partir de um julgamento sobre os méritos, sobre o valor de por onde passamos? Quantas medalhinhas conquistamos no caminho?


E se eu preferir olhar pro vento?


O impulso do mérito, conquistador,  é como arrancar as asas de borboletas que encontrei pelo caminho, só para provar que as vi...


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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Causa mortis...

Causa mortis é a expressão que se usa para dizer do principal fator que causou a morte de alguém. Diversas são as causas da morte de uma pessoa que aparecem nesses atestados, falência múltipla dos órgãos que pode decorrer de um câncer ou de envenenamento do sangue, de uma infecção generalizada. Pode ser esmagamento da caixa toráxica ou do crânio; Parada cardíaca, morte encefálica...

Não sei como se referem aos suicídios por ingestão de medicamentos, ou quando alguem se corta, se enforca, ou se joga de algum lugar. Também não diferenciam nos acidentes de carro, a causa mortis de quem estava tonto no volante e quem não...

A morte é por "parada cardíaca" e não de "tristeza" ou de "falta de sentido no mundo". Bom, raramente também reportamos nosso desgosto, ao ponto de deixarmos claro os motivos que tem nos matado, no atestado, a falência multipla dos orgãos, o infarto fulminante, não vão dizer do desgosto e da dor, não vão dizer da angustia.

Não se trata de querer que conste tais coisas no atestado de obito de alguém. Até mesmo porque não sabemos quando morrermos "de fato", mas morremos, um pouco, todo dia... Todo mundo morre, várias vezes na vida, antes de morrer "da vida".

Todos os dias quando volto pra casa, eu vejo pessoas nas ruas a dormir, eu vejo as pessoas no onibus cansadas, vejo pessoas a minha volta em grande sofrimento... pelas pressões, pelos acasos, pelas necessidades. O que for... aonde se olha com atenção é possível enxergar.

 Abandonos da alma, do corpo e suas misérias. Falta de tempo. Intolerância com os outros. Intolerância consigo mesmo...

Enquanto isso, há quase meio século, no Colônia, um dos principais Hospicios de Barbacena, modelo para a estruturação de escolas e prisões, matou quase sessenta mil pessoas em duas décadas.

Mortes de frio, de abandono, ou de extermínio, nada que conste na causa mortis de ninguem. Muitos dos pacientes do Colônia ali haviam sido internados com o seguinte diagnóstico: Tristeza.


[E ainda dizem vou morrer por causa da Coca.]



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quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Agulhas...

Tenho uma dor.

Como mil agulhas na pele.


Por dentro,
  entre os músculos,
  encravadas nos meus ossos.


Correndo pontiagudas pelo sangue.




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domingo, 6 de outubro de 2013

Três meses...

Chegou simpático, dizendo sobre o frio que deve fazer hoje a noite. Carregava um cobertor verde e preto, camisa, branca e azul, uma calça jeans simples e sapatos, alguns cabelos brancos se insinuavam a partir da têmpora indo até atrás de sua orelha, o restante era castanho, mas quase meio acinzentado. O rosto e era magro, como magro era o homem, sentou-se ao meu lado.
Eu concordei, falei algo sobre a mudança de tempo, e ele comentou que a noite seria brava...

"Uai, brava por quê?"
"Ah, vou passar a noite no hospital"
"Oh, tá com alguém internado lá?"
"Não, não, vo só passar a noite lá mesmo. Amanhã tento conseguir carona pra Taubaté."

 e continuou...


"É Cancêr, no figado, no pulmão, hepatite C, não sei o que mais... Agora não tem mais jeito."

Me falou que trabalhou 5 anos com veneno em Minas, e que Minas e Góias eram muito parecidos, que ele foi muito bem recebido nos dois lugares. Olhava para longe, para o tempo, alguma lembrança lhe passava diante dos olhos enquanto dizia aquelas frases, lembranças que eu só acompanhava de fora.

Gostava de dormir no galpão da fábrica que trabalhava, em três corações. Dizia que era mais fresco, melhor, mesmo que o veneno ficasse ali, todo exposto. Não tinha mais os pais, nem nenhum parente próximo, a dúvida me tomava à medida em que conversávamos... "Por quê Taubaté?"

Ele era dali de perto, de uma cidadezinha proxima a Aparecida do Norte.  Mas não  era pra familia que retornava, disse que ia fechar um negocio de uma firma, e talvez conseguir algum dinheiro. Tinha vindo parar em campinas internado, quando descobriu do que se tratava... decidiu abandonar o tratamento.

Assinou a documentação que o declarava responsável por não seguir com o tratamento que poderia lhe ceder alguns meses mais de vida. Carregava um baita sorriso enquanto dizia:

"Ah, finalmente, poder descansar em paz."

Olhei, meio assustado, não sabia se se referia ao hospital, onde passaria a noite. Ou se se referia à propria morte, que não tardará muito a chegar. Acho que era mais minha recusa em ver, porque no fundo eu sabia, que ele se referia a seu próprio fim...

"Eu não tenho medo não, muita gente que ouve não acredita, mas eu não tenho medo. Por que que eu vou ter medo?"


"Viver até os oitenta, para quê? A gente já tem que passar por tanta coisa até os trinta. É tanto sofrimento no mundo..."

E disse do nosso desespero em estender nossa longevidade e da tolice que acreditava ser aquilo.


Confessou, no entanto - sua ansiedade, com as palavras, as mãos e os olhos. Citou para mim alguns trechos da Biblia, apesar de não seguir nenhuma religião. É que queria estar mais próximo de Deus já que seu fim estava anunciado.

 Disse as frases de alguns profetas... que diziam sobre a vida maior, que vinha depois da vida, que nossa vida - essa vida - não passava de um sopro de grãos de areia contra o vento.... que não era mais que "como contar histórias, onde mal se começa e já está terminando"...



Hoje eu conto a sua, sabendo que em breve, mal começada, acabará..
Toda a areia soprada contra o vento...
O encontro com nosso destino comum.



E ele, "seu" Sérgio, seguiu para o Hospital, e em segredo, lhe dedico essas palavras.






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quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Os descaminhos...

E estou aqui, com a ficha de inscrição na mão. Vestibular. Unicamp. 2014...
História, denovo? É... parece que sim, mas pra deixar em aberto a opção noturna é educação física. O que seria interessante também.

Diante da possibilidade real de ser jubilado (de novo), decidi me inscrever normalmente nesse inferno que é o vestibular. Não sei nem se tenho condições para passar... "mas se não passar e for jubilado, vai fazer o que?"

Não sei, sinceramente, a princípio quero sentir o impacto dessa realidade me tomar por completo, se for este o caso, é claro. Normalmente até preferiria passar... mas e se não? Qual problema?

Minha formação não depende que eu a termine exatamente nesse momento. E talvez existem outras coisas na minha formação que neste momento estejam mais importantes, do que as leituras, os trabalhos, a mesmice da acadêmia, e em especial da Unicamp. Estou cansado do IFCH, gosto das pessoas, e são o que mais me mantém por perto, as pessoas que conheci e posso vir a conhecer, os bons amigos e amigas encontrados por aqui. É o vinculo que me faz rastejar aqui dentro, quando meu coração já está fora... longe... nem sei aonde...

Meus olhos se perdem numa estrada pra qual não sei a direção. Não está no sentido daquela que estava percorrendo... O "trem do progresso" da universidade Estadual de Campinas, tem me dado nauseas, suas paisagens e palavras repetitivas. Recebi hoje um e-mail do Sistema de Apoio ao Estudante, me convidando para uma palestra cujo o título era: "Ser ou não ser, eis a questão: Como se tornar um leitor estratégico e potencializar sua aprendizagem?"

É uma versão auto-ajuda em palestra (não que já não existam) na versão "para estudantes universitários perdidos". Eles (ou um programa de computador) devem ter uma espécie de sorteio (um bingo!) pra chamar os aluninhos mais ou menos perdidos, ou totalmente perdidos, para tomar uma boa dose de auto-ajuda em palavras, ficar tudo bem e seguir produzindo/produtivo e - naturalmente - com um CR mais decente, trazendo mais orgulho, pra instituição, pra sim e pra família...

No semestre passado, já prevendo o meu fracasso acadêmico, eles (ou essa máquina) me mandaram um sobre "Como aproveitar melhor seu tempo e obter maior eficácia nos estudos?". O que me causou uma sensação de "taylorismo" inexplicavel... mas não fui a palestra... não me tornei mais eficiente... Acho que os únicos  recordes que atingi foram os recordes de ineficiência. Ou não... já que seria um paradoxo ser eficiente em ser ineficiente...

 "Tenho muitas perguntas para suas respostas..." me mandaram outro dia. A frase continuou voltando pra mim, semana passada e essa semana inteira. Estou cheio de perguntas... de dúvida... Se perder nunca é uma tarefa fácil, ao contrário do que muitos pensam. É ir contra o que é sóbrio, racional, com o que muitas vezes é considerado "correto"... é ter que lidar com a reprovação constante de suas atitudes... e a sua própria culpa... não o libertando de ser atingido por quase tudo o que houve... No final das contas, é realmente difícil não se importar com o que os outros dizem.. e me pergunto até que ponto é desejavel cultivar a proeza de "não ouvir..."

Acho, no entanto, que ouvir não implica em conceder. E aí está o conflito. Meu coração está cheio de dúvidas, eu nunca sei, nem terei como saber se este é "o melhor caminho pra mim"... no fundo, não sei se importa tanto que seja... mas a reprovação de pessoas que respeito, admiro... amo... é difícil de lidar.

Por outro lado, a culpa muda muito pouco a atitude. Eu não tenho certezas, nem argumentos para defender minha posição, poderia até escavar alguns, para me defender do que ouço vez ou outra (sobretudo, do que ouço de mim mesmo, ecoando na minha cabeça)... não quero. Sem justificativas... Estou cansado.

Quando tudo se torna difícil demais para lidar, eu vou pro quarto e durmo. Esqueço por um tempo. Melhoro um pouco, mas logo que acordo... me lembro... de toda forma, acabo...

Continuo...



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terça-feira, 10 de setembro de 2013

Sombras na parede...

Fico a imaginar, que seria de minha vida contigo?
O que seria de tua vida pra ela?

Sua sombra enorme sobre a parede tem formas que
assombram nossos sonhos e nossos pesadelos...

 És uma pequena sombra fantasma a nos pregar peças nas horas distraídas.
Será mesmo sombra? Ou assombração?

 Não... não serias a sombra, mas sua criadora.
Incógnita a projetar outra sobre nossas vidas...
Vida a se projetar sobre nossas incógnitas?

perguntas escondidas.
respostas não dadas.
surrussos e vozes baixas...


 Não carece preocupar,
São apenas as sombras na parede..
A nos pregar peças...
                                   [distraídos...]




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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Vó...

Ontem alguém me disse que quando alguém está muito doente, as vezes, só está esperando por um filho que ainda não conseguiu estar por perto, ou um neto quem sabe. Pra depois poder ir...

E você ainda me deu um tempinho pra chegar em campinas, descansar e ajeitar as minhas coisas. Espero que se encontre com Vô logo e de-lhe um abraço forte. Também com o Bisavô que tu tanto sentia falta, e com a Bisa, que me esperou também, antes de ir...

Leve as notícias daqui. Vá tranquila.

 Já estou com saudades.


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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

As respostas...

Os caminhos estão ali, apontados.
Prontos, definidos e separados.

Não faltam vozes para aponta-los;
Não faltam direções.
                                                     [e eu inteiro, descaminho.]

"Faça isso", "Por aqui", "é disso que você precisa"...

Sabem o que me falta, mais do que eu sei de mim mesmo.
Sabem para onde devo ir, mais do que eu mesmo.
Sabem respostas de perguntas que não fiz.

Repetem. Repetem e repetem...

As Respostas são, no geral, apenas uma máxima, que, se seguida seriamente, resultará de maneira inevitável
no alívio de qualquer angustia, de qualquer mágoa ou ferida. E a continuidade de qualquer misérias, seria fruto apenas da "falta de comprometimento" assíduo com essa verdade dita.

Olho com desconfiança para as linhas traçadas, para essas respostas dadas.


Minhas perguntas são tortas...
E nem sempre as conheço.




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quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Ecos da rua...

[Me perco, vou parar num bairro onde não conheço. Ao longe, ouço a briga de um casal, coisas arremessadas e gritos; O motorista e a cobradora do ônibus, me indicam gentilmente qual ônibus pegar pra voltar pra barão, estão insatisfeitos, porque andam cobrando-lhes passar sempre no horário - com algum infeliz que fica parado em algum ponto específico, marcando o horário que o ônibus passa... e o comentário vem claro: "é por isso que ninguém gosta de trabalhar aqui, manda vir com a gente fazer o que a gente tem que fazer, passar pelo que a gente passa". De volta ao ônibus correto, paramos num sinal, onde percebo pessoas que dormem ao relento, no chão de uma praça... ouço, sem vontade, o "jornal do Senado", numa espécie de programa de rádio que toca em todas as estações: 'a voz do Brasil', tal como na ditadura... inclusive... a trilha sonora não me parece ter mudado... Um senador fala de lideranças... e de que a "rua pode trazer a indignação" mas são as "lideranças que fazem"... O sinal abre... e aos poucos aquelas pessoas ali deitadas somem do meu campo de visão... O senador... continua falando...
"as ruas trazem a conformidade e a desconformidade"... e o onibus continua...

Chego em casa  com a lembrança curiosa de que se por acaso minha passagem custasse 30 centavos a mais... eu estaria numa encrenca, nao muito grande... mas em alguma. Me lembro de tudo que vi... e sento pra escrever... e lembro da frase, de São Paulo, escrita em vermelho sobre o fundo preto:
"Não é só por 20 centavos..."]

E a frase continua a ecoar...

sábado, 27 de julho de 2013

De perto... de longe...




















Perto da gente...

Gente que passa e que chega.

Uns que foram embora sem se despedir,
outros que viraram silêncio,


De uns que fui embora,
e d'Outros que fui silêncio,

Olho com olhos curiosos...
Para os que foram se me avisar...


Mas de certa forma os entendo, nas minhas idas.

                   (Só não deixa de lado minhas saudades)


Palavras ressoam...
                                (Estar um tempo junto, pra depois não...)

Como nos tornamos esse ir e vir,
Encontro e despedida.
(Reencontro? As vezes, quem sabe...)

De perto, me lembro
De longe;

Há tanto tempo, tão inesperado

Quem foi, e quem chega.



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domingo, 21 de julho de 2013

Opostos...

Escuridão e luz, são opostos?
Fogo e água? Ar e terra?

Amar pode ser odiar,
E ressentimento, saudade, falta, carência...

Só pode se encontra quem um dia esteve perdido.
 E só se mata a sede de quem a tem...

A morte é a ausência da vida?


Onde estão essas fronteiras, senão nos olhos que as enxergam?

No final, talvez.. a Luz e a escuridão, nunca se viram... nem se falaram.
Se tornaram inimigas por nossas palavras... mais do que nas suas diferenças, tão parecidas..

Os opostos, muitas vezes são parecidos.
E em algumas vezes, semelhantes...
Ao ponto de me perguntar..

"Existem mesmo esses opostos?"

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quarta-feira, 10 de julho de 2013

dia

(...) fecha a porta da casa, deixando assim todos os barulhos do mundo pra fora.
senta-se apoiando as costas na porta, só pra ter certeza de que nenhum barulho
tentará passar.

E assim fica, por algum tempo... (quanto tempo mesmo?)

(...)se levanta, meio sem jeito, o corpo inteiro doí. Mas outras coisas conseguem doer ainda mais.
tira o calçado com desleixo e deixa os pés sentir o frio do chão de pedra.

Pega o telefone... disca uma, duas, três vezes.. sem resposta,
ou sem resposta que ouvisse...
Deixa o telefone fora do gancho... e saí.

Ali no quintal, esse pedaço de refugio a céu aberto, a Lua cheia e as estrelas contemplam o mundo à distancia. O vento frio arrepia-lhe a pele, recostada na porta de metal, observa a grama, meio umida, imaginando que tipo de bichinhos andariam por ali àquela hora... e quais seriam , afinal, suas preocupações.
(teriam eles, essas preocupações?)

Ela se levanta e saí, olha pro telefone fora do gancho. Fica ali, olhando...


[saí... entra no quarto e fecha a porta.
até amanhã]


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domingo, 16 de junho de 2013

uma carta para o inverno.

Venha frio e cheio de sabores.

Quebra o vento em estilhaços de sereno.
Sopra sempre, novos cheiros de momento.
E canta distante, sem som, sem voz...

Junta as mãos, a se esfregar e a soprar pra se aquecer...

Aproxima os abraços, estreita laços, para fugir dos deus dedos finos...
Dos seus filhos gelados, que passam correndo por nós a todo momento...


Me desperta com a claridade alva da neblina,
A minha preguiça de sair da cama,

Junte todos os travesseiros e cobertas,
e alguns amigos também...

Venha só pra que eu possa ter um pretexto qualquer,
para mais abraços inesperados ou um chocolate quente,
Ficar escondido embaixo das cobertas, dizer umas palavras a mais.


E vá... não deixe de trazer seu manto de brumas,
recorte uns pedaços e deixe para a próxima que te seguir.
E abre espaço para o que possa florir.

E retorne...
ao ciclo,
ao lar.


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De passagem...

"Não lembrar é diferente de esquecer"

Quase não lembra, não necessariamente esqueceu, mas pode guardar, com cuidado, em algum lugar.
Quem não esquece, não dorme, não descansa... Não pode "se lembrar" porque não aprendeu a esquecer.

E há certas lutas que só se "vence" , perdendo. Deixando estar, largando tudo, seguindo adiante, abandonando as bagagens ao lado da estrada de ferro, seguindo a pé, em uma sem-direção qualquer.
Virando a mesa, chutando o balde, perdendo a conta, as estribeiras, a compostura...


Sem explicações ou respostas,
Sem perguntas...


Silêncio dos tempos que já não são.
Pra ficar sem palavras, com o que há adiante...

Não ser. Só estar...


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terça-feira, 11 de junho de 2013

Ilusão do desapego...

"Ah, é melhor não se apegar, a gente só se machuca."

Bobagem...

No fim das contas, a gente precisa dos outros.
Ninguém nasce sozinho, e para as mais básicas coisas
precisamos de alguém. Sozinhos, morremos...
(de fato, de falta ou de afeto)

O outro ar, o outro calor,  o outro pessoa, o outro alimento, o outro água...
Nos são indispensáveis cada um a seu modo.
E de cada um deles temos a chance
de nos permitir construir belos quadros da vida...

Precisamos tanto, mas tanto...
que ate precisamos,
que precisem da gente.


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segunda-feira, 27 de maio de 2013

Brincares.../3

"Não caímos para aprender a andar? E nossas brincadeiras? Esfolar os joelhos, as vezes até rachar alguns ossos, não fazem parte? Alguns tombos de bicicleta definem o seu aprendizado. E aprender a dançar acaba envolvendo alguns pisões no pé...

E se nas nossas brincadeiras infantis o importante era brincar, estar junto ali, naquele momento. Naquela inconsciencia infantil, alheio a qualquer tombo possivel, alheio até mesmo ao fim da brincadeira. Por que é tão díficil em relação ao amor? Em relação às pessoas? Por que não levamos essa expectativa para nossas vidas?

Não é todo encontro de nós um infinito acaso?

Se somos assim tão vastos, como esperar que tudo dê tão certo?

Desentender talvez seja fundamental pra gente se entender...
Se entender nas nossas diferenças...

E tolerar é poder perceber que o mais importante talvez seja...

Estar junto."

 (E ainda continua sendo...)



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domingo, 26 de maio de 2013

Verso em Flor;

Que a medida da tua surpresa,
Que a demora dos seus suspiros,
Que a intensidade das suas emoções,


Sejam sempre um bilhete vivo,

da sua beleza;



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segunda-feira, 20 de maio de 2013

Anestesia...

ou [Of course we are free, but don't go spill your guts all over there, bleed outside]

Mundo curioso o nosso;
Tão intolerante assim a dor, tão afobado em não sofrer;

Sofrer se tornou um dos sete pecados capitais, e nossa sociedade, analgésica;

Para toda boa dor, há um bom remédio, se está doente ou seus musculos doem por ter feito exercício,
"Não se preocupe, só tome este comprimido e ficará tudo bem";

Para isso também se fazem remedios para alma;
Os primeiros e até bastante criticados, psicotrópicos,
produzem seu alivio temporario para as mentes e corpos quebrados;
(quebrados, no mundo e no tempo e que agora precisam ser consertados...);
O segundo é o conseho, as normas, um repertório semelhante há uma oração,
incessante e repetitivo; "Não desista", "Siga em frente", "esforce-se mais"...

 Qual proposito desse se esforçar do que continuar no mundo?
Do que continuar fazendo o que se tem que fazer: continuar produzindo?
(E retornar à máquina-do-mundo, que não cessa dia e noite,
que nos toma por completo, que nos quebra em mil pedaços...)

 "A frente" gritam os sacerdotes da modernidade,
o "progresso" é o caminho e a meta o "sucesso";
Nossa promssa de vida eterna - de superar a dor;

E a dor continua fazendo seus estragos,
Alimentada pelo próprio mundo que a tenta suprimir;
Porque o fim da dor não seria lucrativo...

Mas sobretudo, porque a dor se tornou um absurdo,
O sofrimento profundo tem se tornado cada vez mais,
uma espécie de estigma, que te diminui ante o brilho dos alegres e
sorridentes que dão a volta por cima;

Sentimos dor, absurda e paralisante;
E não raro, nos sentimos mal por nos sentimos assim;
E logo, o conselho e as vozes não demorarão a aparecer,

nos dando de bandeja uma resposta óbvia, que teimamos em aceitar;
"Olha, aqui está a receita, é só seguir à risca..."
Um palavreado infinito d vozes a se repetir formulas e soluções;

 A dor é uma realidade do mundo, inescapavel;
Desnecessaria de ser cultuada, perigosa de ser abominada;
Através da dor se fortalece o corpo , nos exercícios;
Se quebra um corpo (e uma alma) através da dor da tortura
E também a dor pode levar alguém a buscar desesperadamente alivio na morte;
Ou é componente essencial, da nossa expressão, ao escrever, pintar, desenhar...
Ao gritar..

Não é maligna a dor;
 E talvez não precise ser resolvida...
 Extraída como um cancer numa operação médica;
Anestesiada e proibida;

Talvez, o entendimento de sua existência;
Aceitação, no sentido de "não-repulsa", 
O entendimento de que abominar sofrimento,
causa sofrimento;

Nos leve por um caminho mais tranquilo;
Onde não é necessário sentir mal por estar mal.
Nem abrir mão da empatia de estar junto,
mas talvez da cobrança por uma resposta, de si ou do outro;
Da incessante e afogada busca por soluções;

Talvez mais a companhia siolenciosa de alguém;
Ao eterno-ruído do mundo no qual vivemos;


Tempo para a dor,  para vive-la e senti-la;
Para entende-la...

O que se faz daí em diante, é diferente;
É caminho de cada um, de cada nós,
uns param, uns gritam, outros correm;


Antes de tudo,  o que preciso é de um espaço para a dor;


[O mesmo mundo que quebra-humanos, é o mesmo que o médica, que o remenda,
e o põe na linha de montagem do mundo; Somos livres, é claro, nessa esteira;
"Somos livres, é claro; Só não vá derramar suas entranhas por todo lado aqui, sangre lá fora..."]







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quarta-feira, 15 de maio de 2013

Falta de ar...

Falta ar ao meu coração,

E os pulmões já esquecem de respirar;

O que resta de mim
                       é susurro,
 Do corpo inteiro
                          que suspira...

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domingo, 12 de maio de 2013

A loucura dos dedos.

Loucuras me escapam,

Pelas pontas dos dedos caçam na pele,

As feridas que não podem cicatrizar...

As feridas que não deixam cicatrizar.

E abrem, e abrem...

Como se enterrado ali, em meio a carne e o sangue,
alguma solução para um desarranjamento na alma.

A pior coisa de todas é que a maldita loucura faz sentido,
e enquanto os dedos cavam e escavam a pele, deixando seu rastro
de feridas incuráveis (que dizem respeito a outras ferida não-curadas),
por mais absurdo que a mente se absurde, o gesto continua,
a rasgar e a rasgar e quando a dor é forte demais para continuar no mesmo lugar,
a procurar por outros, mesmo no sonho, mesmo no sono...

A vergonha da loucura a faz piorar. Abre mais feridas, torna as mãos mais agitadas.
Controlar o impeto de rasgar a pele é um esforço tremendo, e a angustia de tudo isso,
é a sensação de que não vai acabar;

Ah, as feridas... meus dedos nunca acabam de arranhar.
meus medos nunca param...

E por cansaço e frustração, acabo parando,
se dependesse dessa angustia eu viraria uma grande ferida aberta e só.

Mas as unhas se quebram, o corpo se cansa ou a dor é forte demais.
A mente, inquieta, é obrigada a centrar-se em outra coisa e apaga,
não descansa, só desliga...

Pra depois voltar à mesma maldita rotina.



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sexta-feira, 3 de maio de 2013

Desarranjos... (ou "Para alcançar o céu com os dedos")

Acordo, o coração disparado.
                                    (do fundo de um mar...)
Outra decepção me vem a memória... e outras.
O coração nada, forte, pra não se afogar em lembranças...
de sal e gosto amargo.

Sobre os mares agitados de mim, paira um opressivo silêncio.
Uma calmaria, num céu puro, sem nuvens e um Sol Eterno...
Inclemente, a tostar as almas e o Tempo.
                                                  (E moer memórias...)


Tudo parece tão solene e hostil,
Entediantemente igual e distante.
E os Ecos repetidos num oceano sem Vento.
Gritam abafados...
     "Não há nada novo por aqui"

Mas minhas marés insandecidas
continuam a querer rasgar o céu, e o Sol.
E inverter os rios e as cachoeiras.

Apagar todas as velas do mundo.
Inaugurar um Dia Longo de Noite
Uma Ode à escuridão...

Com Lua cheia e Estrelas...
E todas as Cores do Universo...

Com todos os lapsos do sangue,
e as células da alma,
e todos os corpos da mente...

Cultivar um Sol em Chuva

de Peito Aberto...



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segunda-feira, 22 de abril de 2013

Assim, tão especiais...

Aqueles que se fecham na alta classe de diferenciados, não dizem assim... é feio.
Apenas são "raros", "de personalidade", "criticos", "pensadores", "sensíveis"... Hahaha
É uma fração da humanidade salva da degradação e da decadência que nos toma quase por completo.

 Nos circulo próximos , os amigos exortam as qualidades, a raridade das pessoas que ali se encontram, em oposição a um mundo saturado por sua violência e degradação e cheio, pululante, de pessoas que não valem a pena.

E por aqueles sobre quem pensam, são pensados, tão podres também...

Ser especial é uma lança que usamos pra nos afastar e diferenciar.
Vivemos em guarda, em defesa, cercado por "poucos que valem a pena"...

Ser especial se tornou a Norma...

Esse tipo de diferenciação, desses tão lúcidos seres, é prima da intolerância.
E filha do desconhecimento.

[E assim, tão assustados,  todos nos ameaçam,
exortamos a nós mesmos, para nos levantar a moral,
para crer que existe luz nessa escuridão que se tornou
O Mundo e suas pessoas...
E do outro lado da colina, da rua, na casa ao lado, na rua ao lado, na pessoa ao lado.
A mesma angustia se passa, a mesma ameaça é sentida...
E todos se armam

Ao som sinistro de uma Ode à Intolerância...]



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terça-feira, 9 de abril de 2013

nós na garganta...

Tenho dificuldade em escrever...
 Ausências costuradas entre os dedos,
[e na garganta].

 As meias-palavras (mal)ditas,

E todas as outras - caladas...



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segunda-feira, 18 de março de 2013

Abraços de Outono...

Vem Outono, estende seus braços de vento sobre o mundo,
com tuas mãos gélidas, cata as folhas quasi-mortas das árvores,

 Tece um arrepio na pele que se encosta.
Faz um belo tapete marrom-amarelado, para mim;
                                                                             
                                                                                          [desvergonhe as Árvores]
E com seu sorriso de noites geladas...

                                                         [cabelos e as saias...]

E torna só o Sol, choramingando saudades de Verão,

                                              [e tudo seja esquecimento]

 Invejando os beijos estalados que tu distribui por aí,

                          [levados a-braços de vento]

 pálido, de paisagem, que Sol nos alcance com as pontas dos dedos.

 [beijos na nuca...]

 Outro arrepio.



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quarta-feira, 6 de março de 2013

divisões...

Guerra civil...
Se espalha pelo continente de mim.
Guerra fria , crua, de extermínio.

Traições e tréguas,
Mas sem visão de fim.
E a cada novo dia, o medo é o mesmo.
E a desconfiança, também.

Não sei quando nos traímos,
eu e eu mesmo, assim
Tão profundamente,
definitivamente.

Talvez não seja quando,
Talvez não seja onde.

E talvez, não haja porque.
Porque as fronteiras, as divisões,
são mitos criados pelo olhar...

Porque eu , e eu mesmo, não nos traímos.
Só discordamos, um pouco, levemente, na medida do que somos:
Um todo.

[O medo que se tem, de encarar o que há adiante,
de pular, ir, cair ou o que for...
Trocar qualquer coisa pelo que não seja,
Esse brinde diário à autodestruição...
Escolher.]

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

partidas...

(...) eu seguro a porta do seu carro, você com as duas mãos no volante, óculos escuros, sequer me olha. Meus olhos já estão cheios d'agua e eu sei o quanto você acha isso tão idiota. Mas sua indiferença construída fixa teus olhos no painel do carro e você dá a partida e sua expressão fixa no rosto. Eu seguro firme e te digo não sei quantas coisas... todas as coisas que eu não deveria dizer, todas, em uma frase... e eu seguro, firme...mas você acelera, sem nenhuma palavra...


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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

perguntas...

abertas para cortar o silêncio.
pra que me responda o que bem entender.

por que não tenho perguntas de verdade...

Só quero ouvi-la dizer.

só quero ouvir alguma coisa

qualquer...

coisa.

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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Velho Con...

                Subíamos um morro cheio de paralelepípedos quando o pequeno Rudi despontou correndo lá na esquina em direção ao nosso pequeno grupo. Con era um velhinho simpático, muitas rugas, quase nenhum cabelo  um grande bigode que ainda estava meio castanho, meio grisalho e uma boina cinzenta que deveria ter uns vinte anos. Rudi não tinha mais que seis anos, e o velho o pegará pra criar, uns diziam que o garoto era orfão de guerra, outros diziam que era só mais uma das gracinhas que Con fizera por aí, ao longo da vida, de qualquer maneira, para os dois, eram pai e filho. O garoto era bem moreno, olhos grandes e negros, como os cabelos, que eram encaracolados e a alegria na sua expressão era evidente como o Sol nascendo, usava uma camisa azul que já não lhe servia tão bem e uma bermuda que era branca e hoje estava mais para vermelho-terra ou marrom-encardido.
               O menino parou diante do velho, fechou os olhos e estendeu as mãos, mostrando as palmas como quem espera alguma coisa. Por um breve momento o Velho Con pareceu não entender, sorriu, e estendeu as mãos sobre o garoto, enquanto recitava palavras, fórmulas mágicas, para o garoto, breve, estalou os dedos e lhe disse com sua voz grossa:
             "Agora, meu pequeno, só poderá dizer a verdade". O tom profético de sua fala soava para mim como uma maldição, de só "poder dizer a verdade" por causa de algum feitiço, mas para Rudi parecia algum  tipo super poder, ele ria  e ria, e subiu o morro disparado na nossa frente, provavelmente para fazer uso dele. O velho Con o acompanhava com o  olhar quando minha namorada me interrompeu:
             "Eu não acho saudável! Esse tipo de brincadeira... é uma mentira! E ainda mais vinda dele!". Ela e o velho não se davam bem, bom, ela não se dava bem com ele, porque duvido que o Velho Con conseguia se dar mal com alguém, mas ela não gostava... Con era um trambiqueiro, um gatuno por excelência, vivia de pequenos truques e enganações, talvez muitas delas bem menos nobres que seu truque de mágica para Rudi, e ela reprovava, profundamente.
           Eu já achava que aquilo era mais um divertimento para o Velho Con do que um trabalho, ele gostava e se divertia, e ele e Rudi não passavam uma vida luxuosa. Eu sabia que ele adorava pagar de guia turístico  mesmo não sendo dali e as vezes dava a contar histórias em voz alta, pelas praças ou coretos da cidade...
         "Como é que alguém que vive de mentiras e ainda fazer uma mágica! Uma mágica, Thiago! Para dizer que o garoto só podia dizer verdades, quando tudo isso era uma mentira!" O desabafo dela era, em alguma medida, preocupação com Rudi, mas minha paciência já havia se desvanecido:
        -É por isso que é mágico...
"Meu pai foi enfermeiro na Primeira Guerra, e só não foi para segunda porque não estava apto, depois da primeira guerra não conseguia mais trabalhar como enfermeiro, não tinha se ferido, mas não conseguia. Passou o período da Segunda Guerra sem conseguir arrumar emprego, arranjando o que podia, até que começaram os truques e as pequenas enganações. Quando eu era pequeno, cuidava de mim, quando me machucava, ou ficava doente, nunca entendia de verdade porque ele não era mais enfermeiro. O que o machucou não feriu mãos ou pernas, não mutilou seu corpo, mas ele nunca mais trabalhou com uma das coisas que mais gostava de fazer."
      Eu olhava para aquele simpático velho, suas magias e truques, suas mentiras e enganações, suas controvérsias, Rudi, sua vida. O que a ela parecia um absudo, era para mim um retrato do mundo...

E um dos mais bonitos.



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quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

vento quebrado



O mundo trivial se torna a meta...

Todas as forças necessárias pra acabar

Mundo arco e seta

Fugir pra poder respirar

Prender o ar e soltar a alma

[desalcançamentos me acalmam...
               ...derrota por definição]


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