quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Uma outra estoria de Buda...

Muitos achavam que já havia deixado esse mundo, e que seus pés caminhavam por outro mundo, ou nenhum. Caminhava, entretanto, sob o Sol forte e vento que agitava suas surradas vestes.
Se afastara outra vez, voltaria? Encontrara o caminho para a superação da dor, mas em seu peito ardeu, por um instante, uma fina dor. E a deixou vir. Chorou e andando, tropeçou.
Quando caiu, bateu as mãos no chão e o joelho em uma pedra, o caminho, árido, encheu sua mão de pequenos ferimentos e no joelho um hematoma se formava.
As dores se misturavam e as lagrimas lhe lavaram o rosto, sentou-se e sentiu, tudo aquilo que se passava.
Olhou para os ferimentos. Se levantou, seu olhar recobrava algo que não era possivel de ser dito.
E mesmo doída, inquieta alma, aserenou-se...



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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Cartas inacabadas...

Palavras perdidas, pedaços de mim deixados por aí,
Em folhas e cadernos sérios, despedaçadas...

Palavras órfãs por falta de coragem ou inspiração, tentativas de reencontros, tolhidas pelo medo, palavras que morriam no peito, em angustia, mesmo antes de nascerem em papel.

Palavras de euforia incontida ou desespero de saudade,
Sorrisos que disfarçavam insegurança, palavras pela metade...

Palavras tolhidas, mutiladas, seguradas na ponta da língua e da alma,
Algumas, umas tantas, fugindo pelas pontas dos dedos e depois cortadas - palavras e dedos...

Pedaços (in)acabados de mim.

Descabidas no papel...

Incompletas.


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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Outra história de sonhos...

Ele tinha vários filhos e filhas, onze se não me engano. E eu, espectador esquecido e desatento, acompanhava, de longe, sua história. O abandono de seu pai o marcara muito, a vida toda, fizera se assim, homem duro e cheio de arrependimentos, nunca a resolver-se com seus filhos, mas determinado no trabalho, nas coisas para as quais "devia" se dedicar.

Era bem sucedido, usava terno, camisa clara e calça social, mas aos 40 seus cabelos já eram todos grisalhos, e estava sendo afetado por uma curiosa doença...

Começara a se esquecer de tudo. Dos referênciais, das pessoas, de tudo, das poucas coisas que lembrava, não raro lhes dava outro sentido. Sua doença agravou sua revolta contra seu pai, contra sua vida, agravou o distanciamento de seus onze filhos e de quem quer mais o acompanhasse.

Já mais fraco e mais velho, numa amargura muito grande... Num louco impeto... Invadiu o cemitério onde seu pai havia sido enterrado. Chovia bastante, nosso "héroi" cavava furiosamente o tumulo de seu pai, com o intuito de sabe-se lá o que, sua revolta contra seu progenitor e contra "Deus" jorravam de suas palavras furiosas a cada pazada, até que, por fim, não havia mais o que cavar e não encontrara nada...

E de subito se esqueceu... Porque viera, e que tivera um pai, e sua revolta contra "Deus".
Então achou que a cova era sua. Deitou-se confortávelmente em seu tumulo e fitou o céu...

"Não tenho arrependimentos, só espero que na proxima a playlist seja mais longa"

Morreu sorrindo, de olhos fechados, a cabeça pendendo para trás, babando, a pá ainda em suas mãos.


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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Fatos Criados...

Temores encarnados, insuportáveis.

Que nos recusamos a viver, que não conseguimos aceitar.

Abismos do mundo que não mais são que abismos de nós.
Existem porque deles nos defendemos.

Por acreditarmos,

Os criamos.


"Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você." F. Nietzsche