domingo, 24 de junho de 2012

conheceres...

Conhecer pra mim é a forma como se transformam as nossas cores, 
No tempo, em nossa experiência e no mundo. 
Criatividade e esquecimento, florescer e secar. 
Para ser quem sou hoje, me esqueci de quem era quando tinha seis anos, algumas cores de minha infância ainda restam, são significativas para mim, mesmo assim, alteradas por todos os outros esbarrões que tive por aí... 
Essa criança de seis anos, guardada na memória como um espectro fragmentário daquilo que um dia fui, coloria o mundo e a si mesmo com outras tintas, que já não me lembro quais eram, nem como as usava...

Hoje já sou outra coisa, e uso colorir o mundo de outras maneiras com outras cores, que nem sei bem quais são.

E Sei menos, bem menos ,
do que sabia antes,

ser uma criança de seis anos...



.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

professor...

E eu nem me dei conta de como isso foi acontecendo. Mas de um dia pro outro comecei a ouvir, "Ah professor, então..." ou "Professor Thiago...", acho que minha ficha só caiu por agora. E as memórias me vêm que já datam de cerca de oito anos, nove talvez, quando as primeiras idéias sobre educação - e os primeiros encantos vieram.
Não, certamente não "nasci pra isso", como tudo em mim se constituiu ao longo da minha experiência no mundo. E tal como o gosto pela docência foi uma construção, aprender a dar aulas está sendo outra. Desde o projeto de educação de jovens e adultos na moradia, às aulinhas dadas, por acaso, na escola do estágio, ou agora, assumindo aulas numa escola pública do Estado de São Paulo, se quiser posso colocar a origem em outro lugar, talvez nos treinos de kung fu, ou na monitoria de inglês no terceiro ano.
As coisas em si não tem necessariamente um nexo que me leva a tal lugar, o acaso fez muito, não vejo "vontade maior", "destino" ou o que quer que chamem me tocando pra lá ou pra cá, vejo apenas "acasos e escolhas".
Enfim... tanto faz... Só quero contar um causo.

Descobri que sonhava com algo que sequer tinha dimensão do que seria, talvez algo de mágico nos sonhos esteja justamente nesse desconhecer. Engraçado essa mágica da dimensão desconhecida do sonho e o medo que eu tenho agora, que me agita por dentro, de começar - de viver isso.
Estou procurando me desarmar: muitas expectativas, muitos preconceitos. Tanto das minhas expectativas quase "salvacionistas" acerca da educação, quanto os comentários que ouço frequentemente acerca da "desgraça que é" ser professor.

Com o perdão da palavra mas... Vão a merda.

Eu já estou suficientemente nervoso pelos meus próprios anseios, medos e perspectivas, não preciso mesmo do coro melancólico da degradação do ensino público ecoando na minha cabeça. Esse barulho é tão frequente que se tornou banal.

Ficou fácil demais falar (mal principalmente) da educação, ficou fácil depositar nela a culpa pela desgraça atual das coisas e por outro lado ver na mesma uma possibilidade de "salvação" singular, como nenhuma outra - ou melhor, como se as "outras" simplesmente fossem incapazes de "salvar" e a educação aquela que "ainda é capaz". Me poupem dessa bagaceira...

Metade dos "arautos da educação" que dizem demais nunca viveram, nunca tentaram, nunca nem cogitaram. Se tornou um baita de um "senso-comum", e essa martirização-canonizante, me mata de preguiça...

Não estou indo ser professor por "uma causa maior", uma cisma de "salvador", ou de "missionário do mundo contemporâneo", ou pra dar uma de "martir da educação".

Eu gosto disso, quero conhecer alunos, professores, lidar com a realidade das escolas.

Quero descobrir afinal, com o que é que eu estava sonhando?


.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

pessoas...

Nos esbarramos por aí,
      nesses acasos que nos encontram...

Disso se faz as nossas vidas
    e disso a gente se faz.

Ninguém nunca é.

Somos, com cada um que encontramos,
    e esse errático encontrar,
   
Simplesmente, acabamos "sendo'.

cor.
contorno.
mistura.  
acaso.
encontro e movimento.


Um poema em cores...



.

sábado, 9 de junho de 2012

Deixar ser...

Dor é rio que nos corta a alma inteira.
Sempre correrá por dentro de nós, as vezes, tentamos impedir.
E como quando se tenta parar o fluxo de um rio, nossa alma se inunda.
Assim é com a dor, assim é com muitas outras coisas que sentimos ou lidamos.

Muitas doutrinas religiosas, muitas doutrinas políticas, muitas pessoas
se valem cotidianamente de uma vontade profunda da superação da dor.
Fui espírita por muito tempo, e como no budismo, o ciclo de reencarnação é doloroso.
Viver e sentir dor estão profundamente associados. A dor é coisa do mundo.
Os sagrados em geral negam a dor - não há dor no Paraíso, nem dor para os espíritos perfeitos,
não há dor para os que transcendem.
Muitas coisas no mundo dizem que felicidade é algo parecido à ausencia de dor. Compramos e esquecemos a dor, ou se não compramos um analgésico e aí ela obrigada a se retirar. Para os que doem da alma, há calmantes e anti-depressivos à vontade. Os comerciais estão repletos de pessoas sorrindo, e é de bom grado responder "tudo bem" quando alguém lhe pergunta "Como está?".

Conheci muitas pessoas aqui, e lá em Ouro Preto, e por tantos outros cantos, que associam aproximar-se das pessoas com dor. Não se tocar, porque tocar pode se machucar - o apego é algo feio, que deve ficar guardado num canto escuro das coisas que não nos admitimos (o fato de nos apegarmos às pessoas).

Quantas vezes não ouvi depois de um dia de treino, com o corpo doído: "Toma um remédio pra dor menino".

Remédio pra dor?

Será que existe alguma religião, doutrina ou filosofia que não precisem lidar com a dor dessa maneira?

Não sei sabe? Mas to fazendo minha própria. Roubando palavras de Confucio e Lao Tsé, de pessoas que conversei em viagens de onibus, ou encontrie no mercado, de meus irmãos, pais e amigos e até de umas pessoas que eu inventei.

Despreendimento é diferente de supressão...
Quero colocar os pés em cada rio, atravessa-los, a nado, andando, ou pulando entre as pedras.
Sentir cada pedacinho de dentro de mim e só.

Não endurecer para não sentir, mas esvaziar pra me sentir inteiro.

Assim também com a ansiedade, a tristeza, a felicidade ou o amor...


As vezes, pra passar, é importante deixar ser...
As vezes pra viver é importante deixar ser...

Em que medida viver não é passar?
 
Até que não ser mais, até nada mais seja,

No mar das águas passadas...



.


quinta-feira, 7 de junho de 2012

Roxas flores...

Elas estavam ali, o ano todo, estranhamente.
Se não estavam, não sei, lembro do inverno e do verão passado,
Quando estavam. E as vejo agora, diante dos meus olhos,
flores roxas por toda parte, tão roxas, tão bonitas.

Aquela arvore florida o ano inteiro...
Talvez não, que importa?
Flores o ano inteiro, roxas todas, sim...

Em mim.
                         [o ano inteiro]

.

Fluído...

E as palavras me vêm, semi-derretidas, fluem lentamente,
Um fio de magma que escorre lentamente. Das profundezas de mim mesmo.
Ilumina em fogo tudo em seu caminho, para queimar tudo o que foi...
Das arvores secas em formas distorcidas pelo pequeno filete de luz, e um tapete amarelo e marrom de folhas secas e endurecidas, meus velhos momentos, monumentos.

E em cada palavra desdita, em cada gesto impensado, em cada pedaço, meus inteiros.
As vezes trincados, noutros nem tanto..

Tudo se desfaz, tudo se silencia, e escurece.
E agora se refaz, ao som do calor, luz e fogo - palavras em metal derretido

Sou essa escuridão, e essa luz.

Minhas mortes são invernos,
seguidos sempre da primavera...


.