quinta-feira, 22 de março de 2012

A Garota que esperou...

(Para Joana Fraga/Satine Black)

Poderia olhar para esse céu e me encantar por hoje e a cada hoje. E morreria a contempla-lo, e assim, o continuaria contemplando...
Pois que a morte nem me passaria pela pele, nem me lembraria do que fui, nada superaria a beleza da profundidade azul e do brilho de todo infinito diante mim...
Nele, eu me perderia, para ja-mais ser denovo...
Para a noite-ser...
Por dentro.

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sábado, 17 de março de 2012

Para jantar com os monstros...

Selo uma carta para cada um deles, um convite formal, enviado para os quatro cantos.
O jantar seria dado em minha casa, com toda pompa que poderia reservar a estes ilustres convidados. Serviria a eles muito bem passados , ou mal passados, a depender do gosto de cada um.
O primeiro a chegar, seria uma criança de oito anos, cabelo cortado em cuia, chorosa, com olhos muito avermelhados, estaria usando uma camisa um pouco curta, para dentro de uma bermuda também não muito grande, deixando exposta as varias feridas na perna, feridas que eventualmente ele insistiria em coçar, em comer seus pedaços e beber de seu sangue, apesar de todas as iguarias à mesa, eu tremeria diante de sua presença.
Os segundos a chegar seriam meu pai e minha mãe, feridos, andariam mancos pela casa, observando e criticando cada móvel, lançando olhares para mim, brigariam antes da janta começar, apesar dos lugares separados que eu havia deixado para eles na mesa.
Os terceiros também viram juntos, meus irmãos, de mãos dadas, ririam para mim, com suas roupas manchadas com respingos de sangue, incautamente causados quando deixarei um pouco dos mal passados cairem no prato, apesar de todo cuidado e alegria de servi-los. Eles ririam do sangue, sentariam entre meu pai e minha mãe, seus olhos, seriam os meus olhos.
E em meio ao jantar, eu iniciaria um longo discurso, sobre o motivo pelo qual os havia reunido ali, jantaríamos todos os pedaços de nossos passados, pedaços de mim passados. E nunca havia me passado pela cabeça o quanto seria um jantar antropofágico.
Minha barba estaria toda vermelha, meu rosto lambuzado, minhas vestes sujas. Eu desabaria - desabo - a chorar diante deles, dos convidados, que se transformavam em cada pessoa que eu conheço, que se transformariam inclusive nas pessoas que ainda não conheci. E eu me levantaria assustado, em outra crise de ansiedade, vomitaria-me diante deles, maus pedaços de mim, e os olharia com olhos de culpa, meus dentes seriam serrilhados, minhas unhas longas demais. Todos eles se deformariam diante de minhas deformidades, se formariam.
De frente para mim mesmo...
Jantava a frente de um espelho, o prato, estava vazio, a muito , passado.
E meu convidado, ali refletido, me olharia com espanto, assim como eu...



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terça-feira, 13 de março de 2012

Trivialidades...

Eu gosto de deitar no chão da casa, com o gatito no colo e dormir ouvindo musica... Me perder nos acordes do violão, cantar desafinado, pra mim mesmo... Gosto de andar de noite, mesmo que aqui seja um cado perigoso as vezes, pegar uns filmes, ou só caminhar... Prestar atenção nas arvores quando volto do mercado, E me perder mais ainda, nos emaranhados dos meus devaneios... Me agrada o silêncio e a companhia de mim mesmo... Estou meio cansado das pessoas mesmo das que me encantam, mas sobretudo Com saudade de mim mesmo. [Fui ao cinema sozinha ontem] .

sexta-feira, 9 de março de 2012

Contraditório..

Queria fugir do mundo.
Encostar só com as pontas dos dedos,
como já tantas vezes me disseram - preservar-me.
Meus mergulhos no mundo, cessariam,e eu me recolheria às vastidões de mim mesmo. Sozinho
Mas sou um bobo, um incorrigível apaixonado.
Como pode não se trair, um , que o que mais lhe encanta no mundo
São as cores e mundos de tantos?

Sou assim, encantamento e medo...

Descanso na contradição, a minha coerência...
E em nós, eu brindo a isto...

Essa loucura que nos compõe, como canções e que nos tinge em vários tons.
E o meu medo, é também meu encantamento...

Diante de meus abismos, sempre me traio...
Insisto em pular, apesar do medo de altura.



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sexta-feira, 2 de março de 2012

Por mim... por você...

Eu não sei dizer onde está a tenue linha que separa,
aquilo que faz daquilo que faço por mim, ou por você.
Duvido dessas cisões. Queria saber por que você foi embora, sem dizer uma palavra, sem sequer acenar. Porque todo esse tempo e todo esse empenho em me manter afastado.
Não quero salva-la de si mesma, vou porque quero ir, porque sinto sua falta, porque é importante. Simplesmente, me deu na telha.

Nem todos os dias é assim
mas são realmente bem poucos os dias sem você,
A maior parte na forma de sua ausência.


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