quarta-feira, 28 de março de 2018

Fé.../1

Fé feita de fibra, de humano sofrimento,
Encharcada de memórias e encontros,
De fora dos livros e dos templos,

Fé de distâncias que buscam proximidades,
Das histórias vividas, das histórias ouvidas,  de histórias contadas,
Das que prefiro não lembrar e das que encontrei sem querer,
Do chão da rua, de dentro de casa, das cidades que fico ou que passo,
De assentos de ônibus, noites em rodoviárias, em estradas desconhecidas, 
Em gente - que nem sei ou nem lembro o nome - e aquelas que não vou esquecer nunca.

Fé que está nos olhos e nas mãos, 
Nos sorrisos, abraços apertados e choro, 
Suor, sujeira e no que não cabe nas palavras,
Que está no sangue, na dor e na morte.

Fé crua, feita de fugas, de rugas, de desarranjos, sem luz
Do descontentamento com as respostas excessivas,
Da inconveniência do Inferno, 
Aconchegada nas sombras.


Fé sem Deus, mas sem necessidade de contesta-Lo,
Que consegue admirar a fé desses que possuem um Senhor,
Mas não se aproxima, observa, mas não partilha, 

Fé de cantos escuros,
Não-respostas sobre o Além-túmulo,
Posto que tenho, nessa fé, perguntas por demais,
Dos sofrimentos deste mundo.

Confortável nas ausências,
Parcial e incompleta,
Plena de silêncios,



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Coleções...

Esse blog é uma colcha de retalhos, um amontoado de desencontros tecidos,
De promessas não cumpridas, de textos mal-escritos, de palavras-traídas.
Uma coleção de memórias de pessoas que já foram, de momentos que marcaram,
de confusões e pensamentos perdidos, de muitos testes - e certamente, de mais fracassos do que de acertos.

Remanesce, a despeito da minha vergonha de alguns desses escritos, a regra que criei quando decidi começar a escrever: Não apagar nada que for publicado.

Já quis e as vezes, relendo, quero muito, mas deixo. Embora seja embaraçoso é gostoso também, pra mim, escrita é trabalho, não talento. É bom deixar isso marcado, um caminho, uma trajetória.

Existem permanências, no final das contas prefiro os textos menores, em especial os que não se preocupam com exatidão. Quanto mais sólido o texto, maior a minha preguiça - e maior a chance de ser um texto ruim. Aqui não faltam destes, ainda sim, ao reler, depois da vergonha me causam algum divertimento

São como fotografias de um determinado momento. Cada vez que leio vejo um retrato de um tempo, das pessoas que encontrei, das coisas que pensava, algo que já não é mais ou se é acaba sendo de forma tão diferente que nem parece a mesma coisa.



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terça-feira, 20 de março de 2018

À margem...

Ah, eu certamente gostaria partilhar da tua felicidade,
É tão fácil me perder em teus sorrisos, mesmo distantes...
Ainda mais sabendo o que sei de teus caminhos, dores, sonhos e luta...
Talvez já nem saiba tanto assim...

Nesses silêncios e esquecimentos,
Nas perguntas ausentes, nas distâncias e impedimentos...
No tempo que falta,

Oceanos de justificativas...

Dor de saudade...

Olhos distantes.

À margem...

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