terça-feira, 30 de setembro de 2014

Salmoura...

"A salmoura é uma solução de água saturada de sal onde se podem conservar alimentos, como carne, peixe e conservas em geral"

Quando eu era mais novo, eu me lembro que minha mãe e meu pai tinham viajado e eu estava em casa com um amigo, estávamos tentando não deixar as coisas muito zoneadas, mas quando se está lá pelos seus 14 anos e com um vídeo-game e muitos jogos, costuma não ser das coisas mais fáceis de se fazer. Lembro-me que estávamos lavando louças quando percebi que  as plantas que minha mãe tanto gostava estavam meio murchas e que não haviam sido aguadas desde então, e tive uma ideia...

Na noite anterior tínhamos comido azeitonas até nos enfartarmos, e agora só restava o pote com aquela água temperada da azeitona, que na época eu nem sabia que tinha um nome. Curiosamente, na escola, eu aprendia sobre a crise de água no mundo... E pronto... estava armada a tragedia...

Numa intenção de alimentar as pobres plantinhas, e ao mesmo tempo não desperdiçar mais da pouca água que existia no mundo, eu tive uma ideia brilhante: alimentar as plantinhas com a água que conservava as azeitonas, porque afinal, era uma água com sais e isso ia deixa-las mais fortes evidentemente, porque "plantas precisam de sais minerais né?"

E em um ou dois dias, todas elas morreram. E minha mãe ficou muito triste. Quando lhe contei ela não ficou com raiva, mas continuava triste pelas flores, e me disse "isso que você jogou nelas era salmoura Thiago, e é super salgado, a água que a gente bebe, do filtro, já tem o que elas precisam..."

Penso nessa história quando penso sobre a ajuda que oferecemos aos outros. Aquilo que muitas vezes pensamos que pode ser o melhor para alguém pode destruí-lo. Por muitas vezes eu fui isso, ofereci "sal" aos meus amigos que estavam em "desertos" internos muito dolorosos, e ofereci consciente de que isso iria feri-los ainda mais, mas acreditando fielmente que "era o melhor para eles".

Ainda carrego algum arrependimento de como peguei pesado com algumas pessoas, amigos próximos no passado, por essa crença de que o que eu oferecia era realmente o que precisavam, que era "o melhor pra elas".

Hoje, penso que a ajuda, todo ajudar, precisa se basear no ouvir, eu não pude "ouvir" as plantas, assumi o que precisavam e lhes dei salmoura, quanto a água simples do filtro era o que precisavam, e acabei por mata-las. Da mesma maneira, o fiz com muitos amigos, o que lhes oferecia, não ouvia o que precisavam, não ouvia suas condições, e acaba por muitas vezes mais feri-los que ajuda-los. E eu me sentia tão ofendido quando eles se revoltavam comigo... Hoje entendo que estavam em grande dor, e eu acabava por ser um fator que frequentemente só a aumentava ainda mais... e pra se protegerem eles reagiam, marcavam seus limites, e eu perdia acesso...

Estender a mão pra alguém, precisa estar baseado num ouvir das condições do outro, não significa atender todos os pedidos, nem submissão, mas a capacidade de ser empático em relação à dor do outro e respeita-la em seus limites, e procurar pautar nossas ações, por essa percepção, cultivar acolhimento.

Para sermos mais água, e menos salmoura...



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sábado, 20 de setembro de 2014

Obsoleto...

Há muito tempo, comparações sempre foram coisas que me incomodaram muito. Em alguns casos me machucaram demais. Muitas vezes, nem pelo que comparava, mas por quem fazia a comparação.

Desde sempre eu ouço que meu modo de ver e viver estão "errados", de que eu "não tenho o pé no chão", ou sou "sensível demais", de que A Realidade, o Mundo, e outras coisas mais não permitem esses tipos de coisas e quando eles chegarem... "eu vou ver..."

Nem o Mundo, nem A Realidade, nem tantas outras que falaram chegaram até hoje. E sempre me dizem para ficar preparado pois irão chegar, e com eles, meu modo de vida, meu modo de lidar com as coisas não é aceitável.

Ineficiente, obsoleto. Não sou prático, não sei "ver o mundo como ele realmente é".

Me pedem um tipo de roupa, eu prefiro as mais confortáveis, e é verdade que alguns casacos meus estão bem acabados. É muito difícil me ver de jeans, ou preocupado com a camisa, mesmo quando ela está rasgada, as vezes eu gosto de uma certa camisa porque ela me lembra uma certa época, e eu a uso, porque o conforto dela é o conforto da memória. Como as antigas blusas de treino, hoje todas muito velhas e desgastadas já.

O comportamento é incorreto, porque não sou prático, não deixo pra sentir minhas dores nas "horas certas", quando elas veem, em muitos momentos, me arrebatam, e as vezes, eu simplesmente me deixo levar. Quando passam, e sempre passam, eu volto a lidar com as coisas.

Eu frequentemente me pergunto se "tem espaço pra mim nesse mundo?". Se não estou errado, e eventualmente, todos esses Algozes chegarão para cobrar seu tributo em tempo. Eu não sei, sei que não estou preparado, eu simplesmente não quero.

Mesmo no desconforto,

Nessa incerteza de ser meio...

"Obsoleto"...


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quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Quando descobri que era meio de papel...

E naqueles pequenos momentos de correria,

Muitas coisas foram ficando para trás,

E as primeiras coisas que meu coração e minhas mãos buscaram:

-Um dvd de alguma comédia romântica água com açucar.

- Livros e mais livros, algumas paginas de caderno com anotações velhas,

- E os textos de meus alunos...

E descobri que era meio de papel.


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