domingo, 21 de novembro de 2010

Des(sociados)

Coisas que recorrem a minha volta, uma certa ausência nas falas das pessoas a volta.
O crime , a política, a pobreza, pensados como problemas de matrizes morais - a falta de bondade, a falta de honestidade, a falta de perseverança no trabalho. O discurso mais senso comum, e infelizmente, uma das besteiras mais repetidas em nosso país.
Esses julgamentos são compreensíveis, pelo próprio motivo que me leva a critica-los: Faltam com a sociedade. Não pensam as relações do individuo com a cultura, com a sociedade, o isolam dela, esquecem das histórias, esquecem-se dos discursos e das construções - não raro, são fenomeno desse mesmo efeito.
Roubados de nossas Utopias, ao final da Guerra Fria, sobre os fantasmas dos horrores de duas guerras mundiais, crescidos ou envelhecidos sobre um discurso de "atomização social", da desvalorização da política nas ruas, do denegrir do sentido da palavra "Política", de sua subversão em algo simplesmente da "ossada do burocráta do Estado", e ainda algo onde a corrupção é quase como inerente, onde a palavra democracia se esvaziou de sentido, onde o foco no individuo continua subindo as alturas, aliás já foi tanto que já mal podemos ver a sociedade, já mal podemos ver a cultura - e assim a cultura que produzimos.

Sem Utopias , grandes sonhos sobre uma sociedade possivel, vivendo constantemente com medo. A mobilização social foi colocada no campo das coisas complicadas de lidar, ligadas a um século XX que ainda não passou, não o superamos. Tudo isso produziu uma força muito grande no sentido dos individuos a focarem exclusivamente em si mesmos, no pequeno micro-meio a sua volta.
Assim, "fazer a sua parte" e "dar se bem na vida" se tornaram quase que dois bordões inseparaveis da nossa educação - institucional e na cultura - sobre o mundo.
Palavras como "flexibilidade", "empreendorismo", "liderança", ganharam uma conotação puramente mercantil, e "Utopico" é um termo depreciativo para pessoas e idéias "fora do lugar".
O grande medo dos problemas insoluveis como a violência resulta na consolidação cada vez mais forte de que o "crime é um problema moral", do "sujeito vagabundo". Assim sem esperança numa solução "social" para o problema colocamos grades em nossas casas, enquanto assistimos atentamente a TV cada vez mais propensos a aceitar "quaisquer meios" para os fins da obtenção da segurança pública.
O projeto de vida das pessoas passou a ser construído sobre a forte pressão para ser fundamentalmente "autocentrado" - autopreservação e projeção em primeiro lugar - e é um grande esforço construir um projeto de vida, de mundo, baseado no amplo, com uma entrega mais profunda de si.

Não bastasse, a maioria de nós brasileiros, consegue criticar avidamente as nossas instituições políticas, os nossos políticos, a própria política, quer que isso tenha se tornado, mas cuja solução, a grande maioria das vezes repousa na "esperança do aparecimento de um político moral". O que pra mim também representa outro problema: na criação desse tipo quase mitologico do político "moral" estão os genes do próprio autoritarismo, e a demonstração de um profundo "desconhecer de si" por parte do brasileiro em se pensar como agente político, como ser social, ou em sociedade.

A importancia de pensar as coisas no tempo, inseridos em uma cultura e sociedade, é fundamental para termos a possibilidade de reconstituir a percepção do individuo como "ser", como cidadão, como atuante efetivo do Estado, como a própria Base do Estado.

Assim, reinvindico por uma vida, uma história e uma educação a favor da autonomia e da vida.



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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

estender a mão...

Abrir-se.

Dar espaço.
E num abraço silencioso permitir-se abraçar, quem com alguns soluços e algumas lagrimas, que se silencia na calma do encontro, na calma do espaço, da abertura. Do sentimento compartilhado.

Encontrar-se. Tocar-se.

Há vastidões tão vastidões quanto as nossas vastidões. E no indizivel da contradição, e do caos que somos, nos reconhecemos, por coisas muito diferentes, muito parecidas.

Que pouco cabem nas palavras. Quase nada.

Mas sabemos ou sentimos
Mudar mundos em abraços atemporais.


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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sobre uma certa falta de originalidade do mundo...

Tudo tão único e tudo tão parecido.
Dizeres do desespero ou do amor, falar sobre a solidão. Escritos sobre a política e educação, sobre a Universidade, sobre história, quer que seja. Nada do que pensei já não foi pensado antes, e sentimos diferentemente, as mesmas coisas.

E assim me acho na carência de assuntos, o que quero dizer, é que o que há de singular me escapa a palavra. E talvez me falte a arte, que ela talvez esteja justamente nisso, transformar o indizivel em palavras, o único. Ou talvez essa singularidade seja só uma impressão, como é essa minha.
Nos sentimos sós, nos magoamos com amores perdidos, ou a falta de amores, nos sentimos felizes e estasiantes quando apaixonados, cegos, e até usamos muitas vezes essa mesma idéia. Dizemos da guerra além do oceano, da corrupção e da violencia dos nossos dias, dizemos das distancias e dos medos das pessoas. E somos muito diferentemente capaz de nos indignar com a política, com a vida , com o mundo. Falamos sobre nós mesmos, e nossas transformações, e essas leituras tão unicas, tão de cada um me parecem tão absolutamente recorrentes.


Assim, correndo o risco de ser injusto, não sei o que "de novo" teria a dizer a vocês, o que mais me dá vontade, é escrever menos.
E sentar pra conversar hoje seria muito mais agradavel, do que escrever por aqui,
coisas que gostaria de dizer, com casualidade, e ouvintes, pra ouvir também.
Com formas de ser, e de estar, que dizem muito mais, do que todas e quaisquer letras, palavras e expressões eu usar, hoje, ou nesses tempos, poderei dizer por aqui.

Outros modos de outros dizeres.


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num livro lido recentemente...

"amor é loucura, balançando do êxtase para o desespero num segundo insano".

"transforma o sangue em fumaça".

"entendo que é possivel olhar nos olhos de alguem e de súbito saber que a vida será impossivel sem eles."



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De Amares...

algo de nós, pra além dos padrões do mundo.
Longe da racionalidade de aço do nosso tempo.

Algo de irracional, selvagem! Que nos impele, morros abaixo e acima, abismos.
É o que nos faz infinitamente grandes, na nossa infinita pequenez.

Uma celebração feliz ao controverso, uma resistencia da alma.

Que é de amares que somos.

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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Sob(re) um pouco de sombra.

Me sento na fronteira da sombra.
Sem o excesso de luz do mundo, esse brilho multilador, cegante.
Em mim convivem sombras e luz.

E eu cansei de ser ofuscado.



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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

De cair.

As vezes eu queria cair, mas sinto que não posso.
Queria ser acolhido, em fraqueza, e poder contar com isso, mas não posso. Sinto que não posso.
Corro risco de parecer profundamente ingrato, não é isso, é só que não há em mim a segurança para abandonar minhas próprias durezas. Minha força, minha firmeza, também minha maior fraqueza. As vezes anseio que se quebre, que se parta, que não dê mais conta, só pra esperar que alguem estenda a mão.
E para tantas mãos que eu estendo, ou os "conte comigo" eu sinto isso pouco em relaçao a mim.
E sinto falta.

"Se eu cair agora quem é que vai me segurar?"
Eu não sei. E não quero botar essa responsabilidade no colo de ninguem, o que as vezes eu queria, era um ombro, pra deitar a cabeça, fechar os olhos, e ficar quietinho ali. Não depender, mas poder contar, afinal. E cair, de ponta e profundamente, e não ser tachado de fraco, ou ter meu futuro profetizado nas vozes de quem sabe bem estender a mão, mas prefere levantar a voz, para me culpar e dizer das minhas oportunidades perdidas. (Pro inferno com elas.)

- Não peça explicações, só deixa eu ficar aqui um pouquinho...


É um esforço imenso, acordar todos os dias para um mundo novo e renovado, mas um mundo de um homem só.

Sou traído pela minha desconfiança. Me fixo nas minhas forças, e faço todo esforço necessário, para não cair nunca. Porque não acho que realmente eu possa cair. Eu nunca pude realmente não é?

Não que não tenha ocorrido. Não que não tenha inclusive tentado. Mas não.

Poderia cair? Posso cair no mar das minhas angustias? Seria segurado? Ainda não sei nadar bem.

Ainda não caí.



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