quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Esconderijos...

Quando pequeno, bem me lembro, na casa de minha avó, ou em minha propria casa, gostava as vezes, me esconder dos mais velhos, de minha vó, meu avo, minha tia, mãe ou pai, meu esconderijo favorito eram guarda-roupas.. Assim que gritavam meu nome, eu já me punha a procurar logo um bom lugar pra me esconder...


Escondido eu ficava por muito tempo, de me apertar a bexiga e suar as mãos. De ficar até com medo de ficar preso no armário, de até achar que todo mundo tinha ido embora... é... quando paravam de me chamar, a brincadeira perdia a graça...

Nos meus esconderijos, mesmo nos que eu mais me esforçava para inventar, o que eu mais queria mesmo... era ser encontrado.



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segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

fracassos...

"Não conclui o curso, larguei a faculdade."

Frase difícil, agarrada na garganta. Soa como uma vergonha enorme, ou doença, que me tomou por completo. Falo devagar e mansinho, com medo das reações e cheio de vergonha da situação constrangedora...

"E agora, como você vai fazer?" Diz o interlocutor espantado, se afastando alguns centímetros, afinal, vai que é contagioso.

As pessoas procuram por objetivos em mim a cada pergunta que fazem, como se tivesse acabado de matar alguém. Eu mesmo me sinto assim as vezes, como se tivesse cometido algo terrível.

Não, eu simplesmente não consegui. E não quis continuar tentando...

Ser esfolado vivo nunca foi meu modo predileto de morrer e continua não sendo.

À porta de minha casa solitária fixaram a Placa "Fracassado - mantenham distancia".

Como se o peso de minhas próprias duvidas e inseguranças não fosse suficiente.
Resignado, fecho a porta.

Não vou brigar com estes "de Sucesso", essa estirpe de novos-vencedores, que lançam sua sombra sobre o mundo. Quem sou eu, reles desistente, para tentar desafiar-lhes o espírito? Para desafiar seus inumeros sucessos e sacrifícios feitos. Sacrifícios de Afeto, Sangue e Tempo... como eu poderia chegar aos pés de tamanha oferenda?

Sentado em minha cadeira, dentro de meu pequeno lar interior, eu penso, sobre os tantos que "fracassam", sem ter a chance de tentar. Eu penso sobre os meus "fracassos", e me salvo uma fagulha viva ao qual posso acender uma lareira para me aquecer:

Não sacrifiquei ninguém, nem a companhia dos meus queridos, nem meu sangue, nem meus afetos, em nome desse Deus Sucesso.

E me entristeço ao lembrar, dos tantos envergonhados-fracassados como eu, que tomados pela culpa e pela angustia, ofereceram a este deus-glutão, não mais que suas próprias vidas...
E penso comigo mesmo "A este, não vou servir nunca".

E quando as cartas chegam , a se empilhar em minha porta... perguntando acerca de meus objetivos - objetivos - objetivos - como vou fazer agora - o que vou oferecer ao Sucesso? Ao Futuro?

"Não sei, acho que Nada, apenas gostaria de aprender a tratar as pessoas melhor."

E ao fundo... vou ouvindo alguém cantando...

"Qual é a paz que eu não quero aceitar pra tentar ser feliz..."

Olho no espelho, e me vejo, curtindo um som, com 11 anos.

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