quinta-feira, 24 de julho de 2014

Ansiedades...

As mãos escorregam para fora do casaco com dificuldade, há frio, e uma sensação de que comi algo insosso, como uma barra de ferro, ou grãos de areia e por isso, meu estomago se revira e se revira, e de repente, vem a tosse, e todos os cheiros parecem facas...

Todo frio é muito, e também todo calor, não há conforto. E em meus pensamentos não cabem coisas diferentes... Medo de não conseguir, medo de não dar conta, medo de decepcionar, já sentindo que estou decepcionando... E isso é do que ansiedade se alimenta.. do próprio medo de que aumente...

Tento, com algum esforço, soltar de mim essas palavras, para ver se desgarram de mim esses sentimentos e se desfaça esse nó na garganta. Quase todas as palavras, só me relembram das minhas exigências...

E ah! Essas exigências! Quão afiadas elas não podem ser.

A esperança escorre por entre os dedos frenética, buscando alguma paz de espírito, num dizer pro outro...

Num pedido de ajuda...

De quem tenta, errante, acertar a direção...


Sem confiança.


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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Militância e Expectativa - Parte 3

Em 2011, a chapa "Independência ou Marte" assumiu o CACH. Estavamos felizes, embora soubessemos que muitos dos votos que recebemos tinham vindo da repulsa que existia aos grupos organizados no instituto, e isso nos preocupava, ainda assim viamos como uma boa oportunidade para construir um tipo diferente de C.A.

Entretanto, de cara, nossos desafios eram numerosos. Primeiramente, o rechaço dos grupos que compunham a reunião ordinária do C.A. tornaram o espaço insosso, a experiência extremamente desgastante, de ser exposto frequentemente, aos ataques dos grupos, que ora ou outra tivessem coerência , estavam fundamentados em um objetivo: Por inviabilizar o trabalho da gestão, ganhar respaldo político para se elegerem na eleição seguinte. Manter uma forma de operar do espaço de reunião, e assim continuar com o mesmo tipo de lógica política que vigorava no C.A.

Pouco a pouco os espaços em que tínhamos para construir nossas propostas não eram mais os espaços de reunião do C.A., mas os espaços onde nos reuníamos enquanto gestão. O que era uma dificuldade, uma vez que desejávamos que nossas propostas pudessem ser tocadas pelo C.A.enquanto que lá, só encontrávamos grande resistência e enfrentamentos, pouco dispostos ao diálogo.

Para ser bem claro, os grupos políticos organizados, quase que como sintoma, estão mais preocupados em sua própria construção do que em política. Os grupos que existiam em presença no C.A. viam a nós como uma proposta despolitizadora, que no limite, precisava ser "combatida".

Boa parte da minha critica às organizações partidárias, militantes, veio a partir dessa experiência. Da absoluta impossibilidade de sermos ouvidos, porque "essencialmente" estávamos errados, porque partíamos de um pressuposto que os grupos ali presentes não consideravam válido. E como eles, dotados de uma verdade política superior, se sentiam não só no direito, mas no dever de nos rechaçar politicamente.

Porque o objetivo desses grupos é maior, e por esse objetivo, romper o diálogo, criar todo tipo de ambiente hostil e nesse sentido desgastar os membros da chapa, estavam entre as possibilidades válidas para nos invalidar enquanto gestão.

Tenho plena consciência de que sou muito critico à essas organizações presentes no M.E. da Unicamp, ou atuantes no IFCH,  não pretendo aqui isenção, nem estou postulando uma verdade acerca dessas organizações, é uma impressão, baseado em meu limitado leque de experiências.

Nossa construção "por fora" visava escapar essa luta hostil e sem fim, e não nos permitir paralisar. E aí encaramos nosso segundo obstaculo, que, em vários aspectos teve um impacto bem maior que o primeiro.

Mudamos em muito as formas, propusemos espaços alternativos para vivência universitária, corremos atrás de grupos e coletivos, visando possibilidades de encontro que pudessem florescer em iniciativas e que dessem vitalidade ao instituto. Uma organicidade política que não dependesse mais tanto de uma passagem em sala de aula, em sempre ter alguém lembrando de alguma reunião, mas uma participação baseada no reconhecimento no espaço...

Se reconhecer no espaço te torna parte dele, mesmo que você discorde de como ele normalmente funciona. A grande dificuldade para uma construção ampla do movimento estudantil no IFCH é (ainda é) a falta de reconhecimento das pessoas no espaço do instituto. Aquele espaço e aquelas experiências comuns como algo pelo qual possamos nos reconhecer...falta de reconhecimento de si enquanto sujeito político.

Mas criar possibilidades que permitam essa percepção, não faz com que esse reconhecimento ocorra, ele continua como possibilidade. E nossa grande frustração era a pequena participação nos espaços que criávamos, nos nossos esforços de construir esses pontos de encontro que possibilitassem esse "Se reconhecer no espaço" e consequentemente "reconhecer ao outro" que permitisse um reconhecer do "Nós".

A expectativa de que seriamos correspondidos amplamente nos feriu.E em alguns momentos a discussão tomou o rumo de culpabilizar os "ausentes", como já é comum há muito tempo no movimento estudantil...

Hoje, parando para analisar, creio que caminhávamos por um bom caminho, e que esse é um caminho que vale a pena de ser trilhado, mas é fundamental abrir mão das expectativas - que é no fundo, abrir mão da vontade de um resultado, dessa ânsia pela eficiência.

Mas Eficiência e Produtividade (resultados), ainda são capitais políticos muito valorizados nesse movimento estudantil de esquerda.

É difícil abrir mão da vontade de ver os espaços políticos que construímos darem certo (resultado), mas talvez, quanto mais esforço empenhamos, mais somos tentados a culpar os ausentes, posto que nos sentimos sacrificados à causa e temos apenas por resposta o silêncio, assim, mais tendemos a fechar essas possibilidades, partindo para um discurso de culpabilização dos outros e abraçando a mesma lógica política comum do movimento estudantil, a divisão entre lideres e liderados.


Libertário, então, seria se pudêssemos abrir mão dessas expectativas, construirmos esses espaços, sem a necessidade do sacrifício, que seria construir em outra temporalidade, mais lenta, despreocupada com resultados, mais aberta a encontros...

E talvez, do nosso não esforço de trazer as pessoas para a política. Elas pudessem, simplesmente, vir.


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Militancia e Expectativa - parte 2

Essa parte é um relato de impressões, que dá continuação à primeira parte do texto "Militância e Expectativa".

Me lembro que quando eu me envolvi seriamente com a política no IFCH, muitas de minhas experiências anteriores mostravam para mim certas coisas que eram relativamente comuns. Para além da predominancia da participação dos partidos e das organizações, mas sobretudo, a concepção de política.

A política era (e ainda é) tratada de uma maneira geral como conhecimento erudito, livresco e portanto restrito ao domínio de alguns, que possuem uma certa coleção de experiências e outra de leituras. A política nessa concepção se dissocia da vida, conhecer as relações da política envolve estudo e não participação.

Assim havia um modo de estar-ser no movimento estudantil, um modo de agir, e um modo como o próprio movimento estudantil se organizava pronto, aparentemente "desde sempre".A famosa "tradição do movimento estudantil"... a permanência dessa tradição (e o invocar dela em vários espaços de reunião e em várias assembleias) marcava o status do poder, diferenciava aqueles que sabem daqueles que não sabem, aqueles que supostamente deveriam liderar o movimento e os liderados...

Minha participação não veio sozinha, foi nesse ambiente que conheci muitas pessoas que partiam de outros pressupostos de política, ou mesmo não possuiam um definido (como eu mesmo) e foram construindo aquilo que imaginava que seria "política" e o "agir político" nesse próprio processo de questionar o que estava definido enquanto político.

Em um aspecto não nos diferenciávamos de quem questionavam: Procurávamos por ampliar a participação das pessoas, uma questão que bem antes de nós já era uma das principais preocupações do Movimento Estudantil, provavelmente não apenas na Unicamp.

Para nós o problema era da ordem do diálogo, que era falho em muitos aspectos, que de alguma maneira vinha dessa concepção de política, trabalhamos muito em tentar construir "outros espaços",em ampliar as possibilidades de vivência do espaço da Universidade.

De alguma maneira, para alem dos chapas e grupos que fizemos parte, essas noções adiquiridas nessa construção em conjunta, passaram a pautar a maneira como lidavam com política, mesmo depois de não estarmos mais compartilhando dos mesmos espaços políticos. Isso se deu tanto em 2009, quando participei de uma chapa pro DCE da Unicamp que se chamava "Não Sou Massa de Manobra", e em 2011, quando fizemos uma chapa para o CA de história e ciências sociais do IFCH que se chamava "Independência ou Marte".

Passamos um tempo juntos, trabalhos juntos, construímos coisas juntos e depois, mesmo quando não existiam mais essas chapas, as noções, os diálogos, as experiências conjuntas continuavam a nos influenciar (tanto que frequentemente me reencontrei com as pessoas que  compartilharam comigo dessas experiências). 


Durante o ano de 2011, o grupo que fazia parte da "Independência ou Marte assumiu o C.A. de Ciências Sociais e Historia...


segunda-feira, 14 de julho de 2014

Militância e Expectativa - parte 1

Em todo o tempo de minha participação no movimento estudantil, antes da Unicamp e durante o período que estive lá, uma preocupação sempre foi comum: A participação das pessoas.

O movimento estudantil é composto por aqueles que estão dispostos a se envolver com ele, é dependente da participação das pessoas, seu poder de influência dentro dos espaços políticos em que se encontra depende fortemente da participação das pessoas, seja no âmbito de um instituto, de uma universidade, ou de um Estado ou País.

E, desde sempre, faltam pessoas.

Essa carência de pessoas, essa "falta de pernas", é encarada de diversas maneiras, a mais comum imputa àqueles que não participam uma culpa pelas dificuldades que o movimento encara, transformando esses "ausentes" em representações generalizantes.

O problema do estereótipo, lembrando Chimamanda Adichie ( "Os Perigos da História Unica"), é que não são mentirosos, mas sobretudo, incompletos. Pode se dizer que há muito pouco interesse pelo movimento estudantil, mas daí a entender essa falta de interesse como um alinhamento com o status-quo? A incompletude da generalização, propaga a "arrogância esclarecida" dos muito que se intitulam militantes.

A propagação desses tipos incompletos, cria uma barreira de preconceitos, as vezes até uma cara bonitinha: considerando os "outros", os "não-presentes", simplesmente enquanto ingênuos, pessoas enganadas por um "sistema", "cultura", "modo de produção", e não estão conscientes de si mesmas (ora, são alienadas)... mas que não deixa de expressar toda a carga de diferenciação que se cria entre
 1) Aqueles que detêm um certo tipo de conhecimento e estão aptos para fazer acontecer a mudança 2) Aqueles que ainda não compreenderam uma certa verdade que as tornaria pessoas do tipo 1.

Esse pensamento esvazia as pessoas, aqueles que não ouvimos e não conhecemos, fortalece as barreiras que nos impedem de alcança-los. Chegando ao ponto de se tornar um fatalismo, que corrobora para a ideia de que a construção política é do domínio de uns poucos, concepção essa que não se restringe aos aspectos do movimento estudantil.

Mas em seu cerne está centrado na expectativa que existe nessa militância da participação das pessoas. E na realidade aqueles "ausentes", alvos das generalizações bobas à que nos apegamos, são apenas nossa maneira de expressar que na realidade, queríamos apenas que esses ausentes, não fossem assim tão ausentes...