segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Sobre o Ensino de História I

Assisti dois filmes hoje, um que já tinha visto, só que outra versão (em preto e branco) que foi "12 homens e uma sentença" , um filé para discutir a idéia de fato histórico - da incerteza ou possibilidade de imprecisão de um fato. No caso do filme, um fato presente especifico, e daria espaço a um bom debate sobre como seria isso no caso da história, uma vez que lidamos com situações não presentes, é necessário que "já tenha passado", ou "já seja", para que possamos fazer ou dizer qualquer coisa sobre o "tal", assim, poderiamos dar inicio a um diálogo com os alunos que acho fundamental a qualquer um que queira ensinar um pouco sobre as bases para se "pensar a história" - necessária, básica, para se "pensar a história". Temos aí, milhões de brechas para questionamentos, e podemos trabalhar com comparações muito interessantes, se pegarmos a solidez (que me incomoda) da maioria dos nossos livros didaticos (ao menos a maioria dos que usei), com o mar de imprecisão a que podemos nos lançar quando começamos a fazer perguntas sobre a "precisão" da "ciência histórica".
E aqui, após breve chá sobre um filme bom para assistir, caminho para outro lado, que penso ser o fantasma geral que circunda esse longo paragrafo acima, que é justamente o que eu penso ser o "ensino de história", e quais são as bases fundamentais para sua "construção". Bom, gostaria de saudar provocando: Basicamente, ensinamos história "errado".
Uma frase de uma de minhas professoras do primeiro semestre resume meu pensamento: "História é pra pensar, não pra conhecer". Eu acredito nisso, mas acredito também que a forma como nossa sociedade (brasileira, moderna? Não faço idéia) aprendeu a "pensar" a história, está profundamente marcada pela idéia de "ciência positiva", pela "verdade dos fatos". Podemos nos recusar a ver isso da Academia, mas a maioria de nós, alunos, já percebeu que as pessoas o tratam como uma "biblia da verdade sobre a história humana". Tremenda bobagem, sabemos menos do que um pre-vestibulando, e por saber menos, somos mais felizes! "Não-saber" para nós deveria ser encarado como uma dádiva - porque o não saber, nos abre à possibilidade, e a história será para mim, um intenso campo de possibilidade, e nenhuma certeza.

A primeira reflexão necessária a um aluno médio, é a descontrução da idéia da "solidez dos fatos". Ao qual o filme acima é excelente em colocar em questão, e que um professor malicioso, saberia tirar proveito para colocar sua própria ciência numa "saia justa" ainda pior. Embora isso seja somente pelo esforço que este empregar nessa, pois as incertezas ligadas ao direito e ao julgamento de uma pessoa, podem ser tão vastos, ou "vasto de forma diferente", em relação aos "problemas históricos".
E aí abandonar a "hipocrisia", em alguma medida, se faz necessário. A parte dos cabrestos escolares: Como as provas do Estado, e o vestibular, precisamos nos atentar para não cairmos no "conteudismo", coisas a que essas duas maldições do ensino de história, certamente, pesam terrivelmente.
O conteúdo do conhecimento histórico é construido pelo historiador. 4 milhões de históriadores poderiam estudar o mesmo tema, e poderiamos ter 4 milhões de teses (se ouvesse orientador e recursos materiais para tanto), o ponto é que "nunca nos faltara assunto". Podemos dizer, e dizer, e dizer... a pesquisa é em si uma ação subjetiva (embora essa idéia cause calafrios em muitos), o historiador praticamente "cria" o conhecimento, interpreta documentos, e analise séries deles, observando fatos, escolhendo aqui e ali, lapidando aquela pequena preciosa gema, construido no fogo intenso de suas subjetividades e paixões, modelando a matéria bruta dos fatos, suas folhas, palavras, textos, fotografias, imagens, e que quer mais que o historiador poderia buscar sua matéria prima, mas como um anel, foi feito por seu criador, e "não existe em si" a partir da "grande História" (que até escrevemos com H maiusculo).

A "História", não existe. Uma amiga sabiamente disse que acabamos com a palavra história errada. Deveriamos ter só "estórias", e não "História", e eu gosto dessa idéia, especialmente no plural.

E aqui, findo a primeira parte.

Nenhum comentário: