sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sobre as separações...

Recentemente muitos paradigmas vieram ao chão e muita coisa precisou ser reorganizada da minha mente. Esse tem sido um periodo marcado por isso e uma das minhas reflexões , que quero compartilhar nesse texto, é sobre as dicotomias e separações.
Vou começar por uma que eu não acho simples de entender, nem fácil de aceitar e ainda mais complexa para lidar e muita coisa ainda estou organizando, mas algo que me chama bastante atenção é a forma como "separamos-nos" em razão e emoção, ora me diga quem pode agir assim tão separado!
Mas seria leviandade e simplismo meu considerar que para por aí, penso que nossa cultura ultra-valoriza o racional, talvez seja essa cultura "ocidentalizada" (ou "euro-americanizada"?), que impõe de forma velada um ritmo para as coisas: a hora de se estudar, de escolher o que vamos se pro resto da vida, de parar de trabalhar, de trabalhar e estudar, tudo em separado.
Separam-se também as pessoas, as classes, separa-se também a familia e o próprio individuo é separado. Separado de si mesmo por gostar de algo que a sociedade não consegue compreender, por ter um tempo próprio que não corresponde ao tempo imposto, por nem sempre querer trabalhar com algo que o "mercado gosta", por pensar coisas que saem do padrão, e ter uma percepção do mundo bem própria e de uma particularidade incrivel...
Somos separados da "possibilidade", à medida em que somos fechados a determinados meios sociais, ou fechados a um tipo de informação, a uma cultura hegemonica que se expressa em todos os cantos e apesar de ser sufocante, acabamos nos adaptando à asfixia constante, cria-se portanto um padrão de comportamento, um padrão de ser humano, que não comporta ninguem.
Aliás um padrão de comportamento humano desumanizador, fundado simplesmente nessa lógica de uma racionalidade ultra-valorizada, dentro de um pretexto de objetividade que é apenas o suporte para "o produto" , e o produto atende ao mercado, por isso precisa ser "objetivo", sólido e, acima de tudo, Vendavel.
É assim que suprimimos um pedaço de nós para nos adaptarmos às condições sobre as quais estamos, que nos perdemos de uma parte de nós.
A limitação do comportamento humano como produto dessa cultura(?) está estampado, nos abismos sociais, que são também abismos de cultura e letramento, abismos de educação, que serviriam acima de qualquer proposito, para "aumentar possibilidades", e não digo de sucesso, mas aumentar possibilidades DO HUMANO, do SER humano, do ser mais a si mesmo, possibilidade do (re)encontro de si.
Está no que abandomamos de nós, cotidianamente e para a vida , por medo, por vergonha, por culpa, todos os três culturalizados pela nossa sociedade.
Separamos as raças, as cores, os gostos e os sexos, separamos a terra e os nossos pedaços, nos despedaçamos separados por aí.
Será a Terra tão separada assim? Em hemisférios, meridianos, países, estados e cidades?
Será o fogo assim tão separado da água, e eu tão separado assim de meu irmão? De mim mesmo?
Será o branco é tão separado assim do negro? Ou o norte tão separado assim do sul?
Será que o azul é tão assim separado do vermelho, do verde, do amarelo e do marrom? Do roxo?
Será que o Sol é tão assim separado da Lua, ou o Universo de nós?
Seremos tão separados assim da Natureza?
Será a verdade tão separada assim da mentira? Da Dúvida?
Será a razão assim tão separada da emoção? Da loucura?
Serei eu tão separado assim daquilo que quero ser, daquilo que sou? Será o homem assim tão separado da mulher? Ou o homem do próprio homem e a mulher da própria mulher?


O problema não está na diferença visualizada pelo foco do que se separa, do que se distingue, mas da supressão do diferente.
Dificuldade de lidar com a idéia de coexistência.
Ainda é , na sociedade e nas pessoas, porque assim mantemos.

Até quando?




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Um comentário:

Aline Zouvi disse...

Não sei se entendi tudo, mas gostei muito da idéia do texto, de qualquer modo. É mesmo algo a se pensar, a se lamentar também... Talvez só o fato de se pensar sobre isso já é isolá-lo de alguma outra coisa. Sei lá, esses assuntos me confundem.