segunda-feira, 31 de março de 2008

Dona Juliana...

Brasileira vivida, de olhar distante. Quanto cansaço traz nestes olhos?
Falo de mais uma cidadã, de mais um ser humano, que minha memoria e minhas palavras
não permitirão que durma no anonimato, sem que se façam saber lições importantes que
D. Juliana tinha e tem a ensinar.
Oh! Juliana veio de Vitoria, e vezes é possivel encontra-la pelas ruas de minha cidade, seu braço quebrado, seus olhos cansados, seus trajes simples, seu sorriso que mistura a dor e a resignação e uma suplica silenciosa por ajuda, a mão estendida, em busca de um pouco, daquele pouco que não nos faz falta e que para ela, é o de comer e beber, assim como para seus filhos e de uma dignidade rara que conservava na firmeza das palavras, no heroismo diario, na humildade e na fé,
na Alma...
Hoje, ela mora em Antonio Pereira e vez enquando vem a Ouro Preto e podemos encontra-la facimente, perto da ponte dos contos, sentada na porta daquele banco luxuoso proximo a ponte dos contos.
Mulher retrato de muitos do mundo!
Benção foi aquela que me fez retornar e ouvir suas palavras!
D. Juliana está cansada, nunca pode ter um emprego, ou viver pelos seus sonhos, não estudou e aos doze fraturou um braço, que nunca mais se recuperou, na época quase não haviam médicos, você se recuperava por sorte, o povo, dizia ela, passava muita necessidade.
E ainda passa...
Comia pão e bebia leite com uma alegria raraa para algo que nos é tão ensencial e para alguns de nós, comum.
D. Juliana mesmo cansada, vinha para está cidade, buscar um pouco de apoio para o básico de sua familia. D. Juliana tem idade para ser minha avó.
Eu fácilmente a chamaria de vó.
É preciso olhar nos olhos dos seres humanos, permitir sentir a realidade deles, permitir-se enxerga-los como iguais, como outros seres humanos, para ter dimensão de suas vidas, ainda que isso doa por demais.
E é isso a grande lição de D. Juliana.
Cansada, dizia que a vida estava longa demais, e que o mundo pertencia a mim, aos jovens.
E que os velhos, já estavam cansados demais, por tanto terem que trabalhar.
Falava, sem falar diretamente de seus sacrificios, de uma vida de sacrificios, que lhe dera um olhar cansado, um braço quebrado, uma vida humilde.
Mas naquela mulher reside a dignidade de uma nação!
"Não deveriam os jovens cuidar dos mais velhos? Estes já fizeram tanto por nós e tantas coisas têm para nos ensinar"
"É sim meu filho, mas as coisas não tem sido assim."
D. Juliana, filha das desigualdades do mundo, me deu esperanças de que a mudança é possivel, que precisa-se correr atrás dos sonhos, ficou feliz em saber que eu pensava assim.
E me avisou que quando obter sucesso, vou me lembrar dela.
D. Juliana, eu já havia visto antes, com outros olhares, distante.
Apenas como alguem que passa necessidade...
Mas neste dia...
Despindo-me de toda diferença que poderia haver entre nós fui obrigado a
enfrentar o tormento que é sentir as dores de alguem que enfrenta tanto
enquanto eu enfrento tão pouco... a classica pergunta: "Por quê?"
Eu a encarei nos olhos e agora minha alma não quer se calar para isso.
Eu a encarei como um ser humano, único e singular que era,
Me permiti sentir a dimensão de sua vida...
E sangrei por dentro por isso.
D. Juliana não me virá claramente a memoria quando meus sonhos se concretizarem...
Ela me vem a memoria constantemente, com sua imagem que ao mesmo tempo
Me trazia tristeza e esperança.
Grande satisfação tomou conta de mim depois dessa conversa.
É preciso mais que estender um pão, ou dinheiro.
É preciso dar calor, olhar nos olhos, ver da mesma altura,
despir-se de seus preconceitos e de fato por em prática
a ideia de que somos iguais.
Somos Iguais. Todos.
E ao mesmo tempo, únicos.
Ela para mim não é mais alguem que passa necessidade.
É a D. Juliana um retrato de muitos do mundo, uma sobrevivente, uma amiga, uma sábia, uma senhora, um ser humano... Que passa necessidade. Que não possuiu oportunidades na vida.
E que não desistiu, mantém seu olhar a frente, mantem sua fé em Deus, sua dedicação a familia, mantém se firme.
Ela é um ser humano como eu. Somos iguais.

No micro as coisas são maiores... ou talvez, tenham sua dimensão real.

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2 comentários:

Mau e Ana disse...

Acho que agora você entendeu muito bem uma coisa que eu disse sem tanta experiência. Uma teoria minha que descobri certa na sua prática.
No micro, as coisas são maiores.
Por isso, agir no micro é lindo
Quanto maior a escala do mapa,menores os detalhes retratados

Flora disse...

É uma vitória que ela seja assim.
É uma vitória que você seja assim.