segunda-feira, 20 de maio de 2013

Anestesia...

ou [Of course we are free, but don't go spill your guts all over there, bleed outside]

Mundo curioso o nosso;
Tão intolerante assim a dor, tão afobado em não sofrer;

Sofrer se tornou um dos sete pecados capitais, e nossa sociedade, analgésica;

Para toda boa dor, há um bom remédio, se está doente ou seus musculos doem por ter feito exercício,
"Não se preocupe, só tome este comprimido e ficará tudo bem";

Para isso também se fazem remedios para alma;
Os primeiros e até bastante criticados, psicotrópicos,
produzem seu alivio temporario para as mentes e corpos quebrados;
(quebrados, no mundo e no tempo e que agora precisam ser consertados...);
O segundo é o conseho, as normas, um repertório semelhante há uma oração,
incessante e repetitivo; "Não desista", "Siga em frente", "esforce-se mais"...

 Qual proposito desse se esforçar do que continuar no mundo?
Do que continuar fazendo o que se tem que fazer: continuar produzindo?
(E retornar à máquina-do-mundo, que não cessa dia e noite,
que nos toma por completo, que nos quebra em mil pedaços...)

 "A frente" gritam os sacerdotes da modernidade,
o "progresso" é o caminho e a meta o "sucesso";
Nossa promssa de vida eterna - de superar a dor;

E a dor continua fazendo seus estragos,
Alimentada pelo próprio mundo que a tenta suprimir;
Porque o fim da dor não seria lucrativo...

Mas sobretudo, porque a dor se tornou um absurdo,
O sofrimento profundo tem se tornado cada vez mais,
uma espécie de estigma, que te diminui ante o brilho dos alegres e
sorridentes que dão a volta por cima;

Sentimos dor, absurda e paralisante;
E não raro, nos sentimos mal por nos sentimos assim;
E logo, o conselho e as vozes não demorarão a aparecer,

nos dando de bandeja uma resposta óbvia, que teimamos em aceitar;
"Olha, aqui está a receita, é só seguir à risca..."
Um palavreado infinito d vozes a se repetir formulas e soluções;

 A dor é uma realidade do mundo, inescapavel;
Desnecessaria de ser cultuada, perigosa de ser abominada;
Através da dor se fortalece o corpo , nos exercícios;
Se quebra um corpo (e uma alma) através da dor da tortura
E também a dor pode levar alguém a buscar desesperadamente alivio na morte;
Ou é componente essencial, da nossa expressão, ao escrever, pintar, desenhar...
Ao gritar..

Não é maligna a dor;
 E talvez não precise ser resolvida...
 Extraída como um cancer numa operação médica;
Anestesiada e proibida;

Talvez, o entendimento de sua existência;
Aceitação, no sentido de "não-repulsa", 
O entendimento de que abominar sofrimento,
causa sofrimento;

Nos leve por um caminho mais tranquilo;
Onde não é necessário sentir mal por estar mal.
Nem abrir mão da empatia de estar junto,
mas talvez da cobrança por uma resposta, de si ou do outro;
Da incessante e afogada busca por soluções;

Talvez mais a companhia siolenciosa de alguém;
Ao eterno-ruído do mundo no qual vivemos;


Tempo para a dor,  para vive-la e senti-la;
Para entende-la...

O que se faz daí em diante, é diferente;
É caminho de cada um, de cada nós,
uns param, uns gritam, outros correm;


Antes de tudo,  o que preciso é de um espaço para a dor;


[O mesmo mundo que quebra-humanos, é o mesmo que o médica, que o remenda,
e o põe na linha de montagem do mundo; Somos livres, é claro, nessa esteira;
"Somos livres, é claro; Só não vá derramar suas entranhas por todo lado aqui, sangre lá fora..."]







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