domingo, 9 de agosto de 2015

Violência...

Uma das coisas que mais me impressionou a primeira vez que tive contato com Comunicação Não Violenta (CNV) , o que mais me impressionou era como se referiam a nossa linguagem: uma linguagem da violência, do sobrepujar de um sobre o outro, de quem tem mais razão, de quem esta certo...

Nunca havia parado pra pensar, mas assim que ouvi me apercebi da pervasividade da violência no nosso modo de viver, em cada pequena chantagem, em cada indução de culpa, em cada sacrificio (que quase sempre vem com cobrança...). Quase todo esses esforços violentos tem como proposito fazer com que o outro aja ou exista (ou deixe de existir) à nossa maneira... Não é tão diferente da violência física.

Lamentavelmente vivemos em uma sociedade (e a sociedade brasileira tem dado exemplos espantosos disso) que reverencia a adora a violência - em seus métodos educacionais, na prática das forças de segurança, na educação dos filhos, na educação escolar, nos relacionamentos amorosos ou entre amigos, no interior das famílias, nos excessos de propagandas, informações, telefonemas de telemarketing, no transito... são tantos aspectos que me perderia ao cita-los. 

No discurso é fácil se dizer não-violento. Difícil é reconhecer essa adoração a violência, a crença de que a violência de qualquer maneira vai resolver alguma coisa que não gerar outra reação violenta e reconhecer o quão a violência pode ser ampla, e não estar apenas nos punhos... mas em quase qualquer modo de se relacionar com o outro. Passados de longa violência entre povos geram conflitos até hoje e são comuns assassinatos por revanches, "reações" a uma violência passada real ou imaginada... Nesse sentido, ouvi de um amigo  e instrutor algo que é muito bem orientado: "O melhor modo de evitar a violência é não criar um ciclo de violência, porque é muito difícil sair de um ciclo de violência".

Me pesa um pouco o coração quando vejo pessoas quando procuram a arte marcial, a primeira pergunta que fazem é "Você já teve que lutar?", tristemente, minha resposta é sim. Mas eu com frequência digo que não, porque não é uma história que gosto de compartilhar e não nutro nenhum tipo de orgulho em relação. Algumas pessoas acreditam que as circunstâncias fazem da ação justificável, mas creio aí estar o maior perigo: é a justificação da violência que a sustenta, e permite que se torne ainda mais aguda... todo genocídio, todo massacre, carrega por trás de si a construção de uma argumentação, de uma justificação para aquilo...

Crer que uma situação de violência individual tem menos peso porque não se trata de um genocídio em massa é esquecer do principio criador: violência justificada. Violência enquanto caminho, ou método possível. Cair aí, pode ser seguir por uma via perigosa...

Sobre aquilo que vivi, tenho para mim claro que foi uma escolha, e lamento que tenha seguido por este caminho. Embora muitas fatores influenciassem a escolha, foi ainda assim uma escolha, e se faz necessário estar consciente do potencial de violência que existe em mim.

Não se trata de culpa, não se trata de auto-punição, se trata de refletir sobre o ocorrido e tomar uma decisão: ter atenção... cuidar, para que não torne a acontecer, reconhecer o potencial para violência, evitar a violência... e só...



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