sábado, 9 de junho de 2012

Deixar ser...

Dor é rio que nos corta a alma inteira.
Sempre correrá por dentro de nós, as vezes, tentamos impedir.
E como quando se tenta parar o fluxo de um rio, nossa alma se inunda.
Assim é com a dor, assim é com muitas outras coisas que sentimos ou lidamos.

Muitas doutrinas religiosas, muitas doutrinas políticas, muitas pessoas
se valem cotidianamente de uma vontade profunda da superação da dor.
Fui espírita por muito tempo, e como no budismo, o ciclo de reencarnação é doloroso.
Viver e sentir dor estão profundamente associados. A dor é coisa do mundo.
Os sagrados em geral negam a dor - não há dor no Paraíso, nem dor para os espíritos perfeitos,
não há dor para os que transcendem.
Muitas coisas no mundo dizem que felicidade é algo parecido à ausencia de dor. Compramos e esquecemos a dor, ou se não compramos um analgésico e aí ela obrigada a se retirar. Para os que doem da alma, há calmantes e anti-depressivos à vontade. Os comerciais estão repletos de pessoas sorrindo, e é de bom grado responder "tudo bem" quando alguém lhe pergunta "Como está?".

Conheci muitas pessoas aqui, e lá em Ouro Preto, e por tantos outros cantos, que associam aproximar-se das pessoas com dor. Não se tocar, porque tocar pode se machucar - o apego é algo feio, que deve ficar guardado num canto escuro das coisas que não nos admitimos (o fato de nos apegarmos às pessoas).

Quantas vezes não ouvi depois de um dia de treino, com o corpo doído: "Toma um remédio pra dor menino".

Remédio pra dor?

Será que existe alguma religião, doutrina ou filosofia que não precisem lidar com a dor dessa maneira?

Não sei sabe? Mas to fazendo minha própria. Roubando palavras de Confucio e Lao Tsé, de pessoas que conversei em viagens de onibus, ou encontrie no mercado, de meus irmãos, pais e amigos e até de umas pessoas que eu inventei.

Despreendimento é diferente de supressão...
Quero colocar os pés em cada rio, atravessa-los, a nado, andando, ou pulando entre as pedras.
Sentir cada pedacinho de dentro de mim e só.

Não endurecer para não sentir, mas esvaziar pra me sentir inteiro.

Assim também com a ansiedade, a tristeza, a felicidade ou o amor...


As vezes, pra passar, é importante deixar ser...
As vezes pra viver é importante deixar ser...

Em que medida viver não é passar?
 
Até que não ser mais, até nada mais seja,

No mar das águas passadas...



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