sábado, 7 de dezembro de 2013

A Desconfiança é um sentimento solitário...

Não desconfiamos de quem não faz diferença, de pessoas cotidianas cujos vínculos que formamos não extrapolam sua formalidade diária. Podemos até assumir para nós mesmos comportamentos desconfiados em relação ao mundo, crendo não valer à pena dar chance a ninguém, uma vez que toda e qualquer pessoa está sujeita a nos decepcionar.

Mas não raro isso é uma extensão, da desconfiança que nos importa, a desconfiança causa dessa desconfiança do mundo - e sobretudo a que mais nos fere - é aquela que nutrimos sobre quem amamos. E nem é necessário que tenham nos enganado, as vezes apenas a  frustração com algumas poucas pessoas amadas, frustrações que fazem parte da existência de qualquer um de nós, nos machuca profundamente, nos enche de dúvida.

E nesse lugar em nós das pessoas que importam, das pessoas que extrapolam a monotonia do convencional, aqui, a desconfiança é uma faca muito afiada.

Especialmente afiada, porque o engano não é antagônica ao amor, mas muitas vezes nele justificada.
 Daí sua angustia mais profunda: Justamente por sermos amados, fomos "enganados".
Essa vinculação sinistra entre Amor e Engano, nos leva facilmente a associar que todo amor pode estar maculado por essa terrível sombra do "engano justificado"... Esse medo tende a se estender e permear cada novo vinculo que criamos.

Talvez daí venha boa parte dessa desconfiança geral em relação ao mundo, afinal, uma vez que, se aqueles que mais amamos e desprendemos de nós para estar por perto, não conseguimos (ou não podemos) confiar, em quem mais poderíamos?

Os sacerdotes modernos do Desapego saúdam três, quatro, cinco vezes, a desconfiança em relação ao mundo, esse culto ao afastamento, ao "Estado Mínimo" de vínculos e pessoas à nossa volta. E boa parte de nós acredita ser profundamente sábia e racional tal atitude em relação à nós mesmos, em relação às pessoas que encontramos e que aos poucos tornamos "inextrapoláveis"...

Absolutamente presas ao cotidiano nas quais às congelamos, de nada permitimos que faça que possa nos alcançar, nos tocar, nos desequilibrar. Mais do que a elas, não nos permitimos extrapolar, arriscar não mantê-las no convencional - nos congelamos.

Esse sentimento que parece liberdade, é uma solitária. É um bloco de gelo ao qual nos encerramos na expectativa de nos "imunizar" ou repelir a dor, evitar sofrer, que acaba se tornando "evitar viver".

Essa desconfiança surgida primeiro em relação a quem amamos. Nos toma e nos devasta por dentro. Nunca estando aqui em questão, se os outros são confiáveis ou não. A partir dessa experiência frustrante, criamos fórmulas, teorias e máximas para definir a humanidade segundo as nossas aflições e passamos a suspeitar de todos, nos fechamos à possibilidade de entrega, à possibilidade do dizer francamente e do acreditar no que ouvimos e, em algum tempo, no que nós mesmos dizemos..


A Desconfiança é, deveras, um sentimento terrivelmente solitário.




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