segunda-feira, 14 de julho de 2014

Militância e Expectativa - parte 1

Em todo o tempo de minha participação no movimento estudantil, antes da Unicamp e durante o período que estive lá, uma preocupação sempre foi comum: A participação das pessoas.

O movimento estudantil é composto por aqueles que estão dispostos a se envolver com ele, é dependente da participação das pessoas, seu poder de influência dentro dos espaços políticos em que se encontra depende fortemente da participação das pessoas, seja no âmbito de um instituto, de uma universidade, ou de um Estado ou País.

E, desde sempre, faltam pessoas.

Essa carência de pessoas, essa "falta de pernas", é encarada de diversas maneiras, a mais comum imputa àqueles que não participam uma culpa pelas dificuldades que o movimento encara, transformando esses "ausentes" em representações generalizantes.

O problema do estereótipo, lembrando Chimamanda Adichie ( "Os Perigos da História Unica"), é que não são mentirosos, mas sobretudo, incompletos. Pode se dizer que há muito pouco interesse pelo movimento estudantil, mas daí a entender essa falta de interesse como um alinhamento com o status-quo? A incompletude da generalização, propaga a "arrogância esclarecida" dos muito que se intitulam militantes.

A propagação desses tipos incompletos, cria uma barreira de preconceitos, as vezes até uma cara bonitinha: considerando os "outros", os "não-presentes", simplesmente enquanto ingênuos, pessoas enganadas por um "sistema", "cultura", "modo de produção", e não estão conscientes de si mesmas (ora, são alienadas)... mas que não deixa de expressar toda a carga de diferenciação que se cria entre
 1) Aqueles que detêm um certo tipo de conhecimento e estão aptos para fazer acontecer a mudança 2) Aqueles que ainda não compreenderam uma certa verdade que as tornaria pessoas do tipo 1.

Esse pensamento esvazia as pessoas, aqueles que não ouvimos e não conhecemos, fortalece as barreiras que nos impedem de alcança-los. Chegando ao ponto de se tornar um fatalismo, que corrobora para a ideia de que a construção política é do domínio de uns poucos, concepção essa que não se restringe aos aspectos do movimento estudantil.

Mas em seu cerne está centrado na expectativa que existe nessa militância da participação das pessoas. E na realidade aqueles "ausentes", alvos das generalizações bobas à que nos apegamos, são apenas nossa maneira de expressar que na realidade, queríamos apenas que esses ausentes, não fossem assim tão ausentes...







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