sexta-feira, 18 de julho de 2014

Militância e Expectativa - Parte 3

Em 2011, a chapa "Independência ou Marte" assumiu o CACH. Estavamos felizes, embora soubessemos que muitos dos votos que recebemos tinham vindo da repulsa que existia aos grupos organizados no instituto, e isso nos preocupava, ainda assim viamos como uma boa oportunidade para construir um tipo diferente de C.A.

Entretanto, de cara, nossos desafios eram numerosos. Primeiramente, o rechaço dos grupos que compunham a reunião ordinária do C.A. tornaram o espaço insosso, a experiência extremamente desgastante, de ser exposto frequentemente, aos ataques dos grupos, que ora ou outra tivessem coerência , estavam fundamentados em um objetivo: Por inviabilizar o trabalho da gestão, ganhar respaldo político para se elegerem na eleição seguinte. Manter uma forma de operar do espaço de reunião, e assim continuar com o mesmo tipo de lógica política que vigorava no C.A.

Pouco a pouco os espaços em que tínhamos para construir nossas propostas não eram mais os espaços de reunião do C.A., mas os espaços onde nos reuníamos enquanto gestão. O que era uma dificuldade, uma vez que desejávamos que nossas propostas pudessem ser tocadas pelo C.A.enquanto que lá, só encontrávamos grande resistência e enfrentamentos, pouco dispostos ao diálogo.

Para ser bem claro, os grupos políticos organizados, quase que como sintoma, estão mais preocupados em sua própria construção do que em política. Os grupos que existiam em presença no C.A. viam a nós como uma proposta despolitizadora, que no limite, precisava ser "combatida".

Boa parte da minha critica às organizações partidárias, militantes, veio a partir dessa experiência. Da absoluta impossibilidade de sermos ouvidos, porque "essencialmente" estávamos errados, porque partíamos de um pressuposto que os grupos ali presentes não consideravam válido. E como eles, dotados de uma verdade política superior, se sentiam não só no direito, mas no dever de nos rechaçar politicamente.

Porque o objetivo desses grupos é maior, e por esse objetivo, romper o diálogo, criar todo tipo de ambiente hostil e nesse sentido desgastar os membros da chapa, estavam entre as possibilidades válidas para nos invalidar enquanto gestão.

Tenho plena consciência de que sou muito critico à essas organizações presentes no M.E. da Unicamp, ou atuantes no IFCH,  não pretendo aqui isenção, nem estou postulando uma verdade acerca dessas organizações, é uma impressão, baseado em meu limitado leque de experiências.

Nossa construção "por fora" visava escapar essa luta hostil e sem fim, e não nos permitir paralisar. E aí encaramos nosso segundo obstaculo, que, em vários aspectos teve um impacto bem maior que o primeiro.

Mudamos em muito as formas, propusemos espaços alternativos para vivência universitária, corremos atrás de grupos e coletivos, visando possibilidades de encontro que pudessem florescer em iniciativas e que dessem vitalidade ao instituto. Uma organicidade política que não dependesse mais tanto de uma passagem em sala de aula, em sempre ter alguém lembrando de alguma reunião, mas uma participação baseada no reconhecimento no espaço...

Se reconhecer no espaço te torna parte dele, mesmo que você discorde de como ele normalmente funciona. A grande dificuldade para uma construção ampla do movimento estudantil no IFCH é (ainda é) a falta de reconhecimento das pessoas no espaço do instituto. Aquele espaço e aquelas experiências comuns como algo pelo qual possamos nos reconhecer...falta de reconhecimento de si enquanto sujeito político.

Mas criar possibilidades que permitam essa percepção, não faz com que esse reconhecimento ocorra, ele continua como possibilidade. E nossa grande frustração era a pequena participação nos espaços que criávamos, nos nossos esforços de construir esses pontos de encontro que possibilitassem esse "Se reconhecer no espaço" e consequentemente "reconhecer ao outro" que permitisse um reconhecer do "Nós".

A expectativa de que seriamos correspondidos amplamente nos feriu.E em alguns momentos a discussão tomou o rumo de culpabilizar os "ausentes", como já é comum há muito tempo no movimento estudantil...

Hoje, parando para analisar, creio que caminhávamos por um bom caminho, e que esse é um caminho que vale a pena de ser trilhado, mas é fundamental abrir mão das expectativas - que é no fundo, abrir mão da vontade de um resultado, dessa ânsia pela eficiência.

Mas Eficiência e Produtividade (resultados), ainda são capitais políticos muito valorizados nesse movimento estudantil de esquerda.

É difícil abrir mão da vontade de ver os espaços políticos que construímos darem certo (resultado), mas talvez, quanto mais esforço empenhamos, mais somos tentados a culpar os ausentes, posto que nos sentimos sacrificados à causa e temos apenas por resposta o silêncio, assim, mais tendemos a fechar essas possibilidades, partindo para um discurso de culpabilização dos outros e abraçando a mesma lógica política comum do movimento estudantil, a divisão entre lideres e liderados.


Libertário, então, seria se pudêssemos abrir mão dessas expectativas, construirmos esses espaços, sem a necessidade do sacrifício, que seria construir em outra temporalidade, mais lenta, despreocupada com resultados, mais aberta a encontros...

E talvez, do nosso não esforço de trazer as pessoas para a política. Elas pudessem, simplesmente, vir.


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