terça-feira, 13 de abril de 2010

Sobre o poder... [1]

Me dizem que "O Sistema" é responsável pelas mortes, que é intransigente.
É assim também "o Mercado" que fica de mau humor, aquecido e tem até depressão.
Assim é o "Governo", "a humanidade", e a maior parte das generalizações, dos modelos que criamos: personificados. Matam, pensam, são crueis, caem, entram em depressão, crise, quer que seja.
Criticamos o "sistema de educação" que "não pensa", sobre isso, ou sobre aquilo, negando coisas fundamentais para o desenvolvimento do educando, mas teremos refletido o suficente sobre: O que é afinal o sistema de educação? Onde está, ou seria estão? E quem são?.
No limite, "o sistema" mata mesmo?

Apesar disso, inegavelmente, pessoas sofrem acidentes, caem na miséria (me permitam o desvio) pela fragilidade de nossa classe média. Inegavelmente muitos morrem de fome ou carecem de uma educação que lhes possibilite uma plenitude de si mesmos, que não os embote, e lhes mate a curiosidade nos primeiros anos de vida.
Ocorrem desorganizações economicas, crises que atribuimos ao Mercado, e que este, só fica "feliz" denovo se voltarmos a consumir ou consumir ainda mais, ainda que grande parte de nós tenha perdido seus empregos.
Mas se não quero pensar a partir desses modelos, por onde posso pensa-los?

Não espero mais que o "sistema pense", "que o mercado fique feliz", que coisa que seja. Penso, muito, que a personificação desses modelos para justificar acontecimentos que, dentro do que citei, são negativos, seja uma possivel construção de um "outro", esse "outro externo", que me permite ser indiferente pela transferência do "mal" a uma "esfera de responsabilidade", a qual não o individuo sente capaz de modificar.

Somado a isso e por outro lado, temos um discurso que assume para si uma culpa pesada, pelo menos aqui da classe média, que é de onde escrevo: uma culpa por ter, uma culpa de impotencia, mas acima de tudo, e muito perigosamente, uma culpa-vitima - que novamente, me desobriga do agir, do fazer, incute uma perspectiva pessimista sobre as coisas. Acredito que essa perspectiva não se restrinja a classe média, mas que seja mais um discurso que permeia a cultura "ocidental" (?) em si. E certamente não há ninguem que "viva" nisso, mas esse discurso, certamente, influencia a muitos e compõe muitas formas de se pensar o mundo.

Penso que a construção de um poder "macro", um poder (intencionamenete) fora do alcance das nossas dimensões, um poder "dos poderosos", é , acima de tudo falseadora de uma outra natureza do poder, e ao mesmo tempo justificadora de uma estrutura de poder: Ela falseia, e falseando justifica, porque o poder se legitima sobre a crença e sobre a obediência das pessoas ao poder, a forma como este organiza as pessoas e a sociedade, bem como suas relações, tanto entre individuos, como de produção - mas para que haja poder é preciso que as pessoas tangidas por ele acreditem nele - e acreditando atuem dentro de sua lógica.
É de sua natureza que necessite "fazer sentido para alguem", para que exista de maneira funcional em uma relação, espaço ou sociedade.
Porém nossas vidas são marcadas por poderes que se formam como reais, grandes, e nos jogam em uma malha de relações marcada pela presença do poder. O que penso é que os poderes "grandes", não passam de uma expressão dos poderes nos micros nessa malha de relações, estabeleceidos dentro do tempo, marcados pelas especificidades culturais e de formação de onde ocorreram e ocorrem, até mesmo sua forma de concebe-lo e pensa-lo.

Penso, portanto, que as relações ocorrem no "micro", só que este micro dialoga, dialoga não só com outros micros, mas os micros que já existiram, essa teia de relações e as formas como o poder se organiza por ela são construidas ao longo do tempo e "transportadas" pela cultura.
Assim é possivel a impressão de um poder massisso, grande, e sua auto-justificação constante, necessidade para sua existência e sua temporalidade que, sim , pode ultrapassar a vida de várias gerações lhe conferem certo aspecto de distancia e intangibilidade para a dimensão da vida humana.
Mas a manutenção de qualquer poder depende profundamente de uma postura de continuidade do poder, pelas gerações seguintes, por quem o reproduz, responsáveis por continua-lo, propaga-lo como discurso e prática em suas vidas, e que nelas o modificarão, podendo ou não alterar as bases de suas concepções, assim ele se transforma e se modifica, se estabelece em outros campos e outras relações, deixa de existir noutras, cada poder dentro das especificidades históricas e culturais em que é ou foi concebido.

Acho necessário pensar sobre os poderes que interferem sobre nossas vidas. Sobre a perspectiva de que para muda-los, precisamos em nossas atitudes não reproduzi-los, romper, e criar outra forma de concebe-los. Mas acima reinventar como construimos assim, nossas relações e nossas perspectivas sobre o mundo e as coisas.







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