quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"Seu Luiz"

Voltando de Onibus BH-Ouro Preto , comecei a conversar, como de costume, com o senhor que vinha sentado ao meu lado, estava voltando pra casa depois de entregar um documento a um moço que precisava mas não vinha busca-los.
Seu Luiz disse-me que construiu suas coisas de pequeno, começou a trabalhar com quatro anos, vendendo leite pro pai, que não pegava o dinheiro dos garotos e deixava eles tomarem guaraná e comprar o que mais interessasse, o pai de seu Luiz, fazia com que ele e seus irmãos acordassem sempre cedo, e era indignado com o fato de estudarmos por tanto tempo, e da lei proibir o trabalho para "menores de idade", dizia: "18 Anos, só estudando? É isso que faz as más companhias se aproximarem: o menino vai pra casa, não tem nada pra fazer, acaba indo pra essas drogaiada que existe por aí, e se perde.".
Estudou muito pouco, mal letrado era, quando novo ainda veio pra Ouro Preto, não me lembro mas acho que trabalhava de cozinheiro, sei que mandava boa parte de sua renda pro seu pai e sua mãe "pra que eles não me mandasse voltar pra casa, mas ainda sim eu tinha um dinheirim pra tomar um guaraná".
Quando novo ainda quis ir pro exercito, mas logo desanimou e escapuliu-se para Sampa, trabalhar, primeiro com transporte e depois na area de Metalurgia, ele contava que toda semana morria um no serviço dele: "O ferro quente espirrava e pegava no peito dos peão, era preciso cortar rápido pra que o ferro não saisse enrolando dentro do homem", disse sempre tinham dois com um tesourão, pronto pra cortar o metal muito quente que de vez enquando respingava do alto forno - falava que quando não conseguiam fazer isso rápido o homem morria na hora, e mesmo quando conseguiam a maioria acabava morrendo, "o ferro furava tudo, e ficava aquele cheiro de carvão e carne queimada".
Disse que do dinheiro que juntou compro umas casas aqui em Ouro Preto, e lá em São Paulo Capital, construiu num terreno desses um prédio que dava pra umas 23 familias, cedeu o prédio pra umas familias que vinham do Nordeste, dentre as 23 familias que moravam no prédio morava uma filha dele, casada e com três ou quatro filhos, ele disse que por ele tudo bem, que não fazia falta, "negar seria pecado!". Disse que é ruim demais passar fome, que ele já tinha passado, no comecinho da mudança pra São Paulo: trabalhava de carregador, andando pra lá e pra cá em São Paulo, quando o caminhão falhava, ficavam na estrada, sem nada pra comer, e tinham que arrumar tudo, e também ganhava pouco e no final do mês sempre tinha que "apertar um pouco mais".
Seus filhos foram criados de um jeito parecido que ele, ele os pôs pra trabalhar novo, mas também estudavam, diferente dele, e ele não mechia no dinheiro dos filhos : "é bom que eles podiam comprar um guaraná, ter as coisas deles, bom que aprende a valorizar."
"Criei todos meus filhos assim e nunca tive problema com a lei".
Seus filhos são muitos, quatorze? Quinze? Tem um número muito grande de netos e bisnetos, tem parentes por toda Ouro Preto, e São Paulo também.
Ele agora , disse estava terminando de construiur um Hotel em Ouro Preto, Ouro Verde chama o Hotel, me chamou para ir lá depois que for inaugurado, acho que fica em um bairro que não conheço chamado Vila Itacolomy, ou algo parecido.
Falava-me que nossa vida, agora era muito fácil, que ele gastava três dias de São Paulo a Ouro Preto - de Maria Fumaça.
Cedeu várias casas que conseguiu, a parentes, amigos e aos que precisavam, falava que tudo o que tinha era porque respeitava isso: aquilo que não lhe fazia falta, repartia, e conseguia o que conseguia, para , além de garantir seu necessário, garantir o "necessário dos próximos."




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