terça-feira, 4 de maio de 2010

Por uma política não-combativa.

Quando penso na atual política estudantil - "de luta" -, gostaria poder reinvindicar uma política não-combativa.
Quero me apropriar dos termos nas dimensões que tomaram em nosso instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Hoje, faz parte ouvir um discurso específico de que precisamos de um "movimento estudantil combativo", que significa um movimento comprometido com certa ligadas à uma parte da esquerda brasileira.
Reinvindica-se "na ordem do discurso", uma Universidade pública, gratuita e de qualidade para todos, uma série de questões são levantadas e criticadas. Muitas delas da qual compartilho da mesma opinião.
O que me preocupa aqui são as formas que assumiram o dito movimento estudantil hoje, até mesmo porque penso ser díficil dizer do movimento estudantil, sendo nós, tantos e de tantas formas diferentes.
Esse "movimento estudantil" é hoje caracterizado pelas minorias e dentro de um universo de questões muito amplas.
As ausências nos espaços dizem muito sobre as formas que esse discurso assumiu: Os espaços das Assembléias se tornaram fechados, duros, à medida em que o CACH constroí previamente suas pautas predeterminadas por orientações políticas, ligadas sim, muitas vezes as posturas de certos partidos, nas quais mais ou menos se alinham a maioria dos militantes do CACH. O debate, em "tom de convencimento", é marcado pelos diversos artificios na construção do "melhor discurso", aí vale apresentar "dados", invocar a "autoridade da história", e o apelo retórico também é usado com certa frequência. O discurso "do outro", "diferente", é, em geral, construido em oposição, como "discurso a ser combatido".
Cria-se assim um combate, com discursos vencedores, cria-se assim uma "escala de valor" para os diversos discurso, onde o melhor é o discurso que se alinha com a causa "da luta".

Mas para muito além do IFCH. Quem faz parte do "movimento estudantil"? Quantos estudantes se pensam dentro desse "movimento", quem são os estudantes que constroem esse movimento, a partir de que pressupostos? Em que medida, nós estudantes, conseguimos nos reconhecer?
Pra mim o "movimento estudantil" é espaço de disputa política entre partidos. Os estudantes, são conjunto, diverso demais e grande demais para se dizer sobre, o interesante é que, no geral, não há independentes nos foruns "nacionais" desse tal movimento, como a UNE, ou a recém constiuída, ANEL.
Essa forma de política, herdada de uma tradição partidaria se transpõe para cá, para o IFCH.

Assim as preocupações com as defesas de "causas históricas", todo o discurso de "Educação pública gratuita e de qualidade para todos", se reduzem apenas à esfera do discurso, quando as práticas que hoje fundamentam nossa organização se mantem e se (re)afirmam.
Uma organização que criou uma relação de forças opressora e excludente - na Assembléia, e em vários outros espaços, tantos são os que tem "medo" de se pronunciar, e tantos outros que se consideram "pouco aptos" a falar sobre o assunto, ou sequer a se envolver - Existe a idéia de que a política é construida por certos agentes, dotados de certas verdades, que se reproduz tanto no espaço da Assembléia como nas falas dos que se afastaram ou não se sentem a vontade para ir ao espaço. O discurso que organiza as relações dentro desses parâmetros é reproduzida de dentro do espaço, que se torna excludente, e no discurso dos excluidos.
E isso tudo, nos leva a constituição final de um movimento estudantil feito de minorias.

Em que medida isso é transformador?
Penso ser transformador uma política que se construa das experiências das pessoas em sua vida e nos espaços.
Para que, nessa micro-dimensão, no compartilhar das idéias e das experiências possamos "nos pensar no espaço" e pensar sobre "o espaço em que estamos" e daí como transforma-lo.
E nos dar o direito a vir com mais dúvidas e incertezas do que respostas para tudo.
Abrir mão dos grandes modelos, e das teorias da realidade, porque elas percentem, muitas vezes, mais a esfera da fé, do que da construção política, assim, mais dividem que congregam nossa ampla diversidade.
Abrir mão dos nossos textos um pouco, dar espaço pra outras expressões da gente, pra abrir um pouco mão desse "pensar-sem-sentir", e voltarmos a sentir um pouco mais, e principalmente , a "nos sentir um pouco mais".
Construir política de dentro para fora. Uma construção de identidade de "estudantes do IFCH", fundamentada no "compartilhar das experiências", a partir do "sentir" igual e não do "dizer" igual, e assim , pensar e subverter todo o necessário ou não do que foi pensado, do que já existe, criar nossas próprias formas, pensar nossas questões.
Quem somos? Quais são nossos métodos? Como nos organizamos dentro do nosso instituto? E quantas mais questões puderem surgir.

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