segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

sacrifício...

Conheço um lugar, onde todos fazem grandes sacrifícios.
Todo sacrifício envolve assumir uma dor, aceitar sua presença, mas essa aceitação é condicional, e aí reside o problema do sacrifício: Criamos expectativas em torno daquilo ou de quem nos sacrificamos. E pelas mesmas expectativas, sustentando sofrimentos por longos períodos, os sacrifícios costumam cobrar caro.

Assim se afastam os amigos, que sentem que se sacrificaram muito um pelo outro, e não obtiveram resposta. Assim se tornam violentas as pessoas que se amam, porque sentem que se doam demais e não são reconhecidos. Assim acabam-se namoros e tantas outras relações...

Porque, o sacrifício tem outra tendência - ao ensurdecimento. À medida em que vamos tolerando diversas dores, na expectativa de que "as coisas melhorem", o "outro mude", "a pessoa veja", entre tantas outras expectativas possíveis. Nos tornamos incapazes de ver para onde a pessoa está realmente indo, que caminhos esta trilhando. Somos incapazes de reconhecer os sacrifícios que ela faz por nós, e quando nos tornamos incapazes de perceber isso, as duas partes sentirão esse não reconhecimento, que é um sentimento que nos faz sentir solitários, desvalorizados, como se o outro não enxergasse nosso esforço - o problema é - nossa própria expectativa nos impede de ver o esforço dos outros.

Esse outro por quem nos sacrificamos, provavelmente se sentirá , exatamente da mesma maneira..,embora por razões (e sacrifícios) diferentes.

Vivo em meio há um monte de altruístas. Desse tipo de altruísmo, que sabe muito bem se mutilar (supostamente) em nome dos outros, e cobra caro, e com juros (e juras).

Tenho tentado então evitar essa tendência ao sacrifício. Especialmente dessa natureza... até mesmo porque acredito que essa história de "ajudar o outro", ajudar e estar presente para quem amamos, não precisa envolver perder alguns pedaços de nós... até mesmo porque esse outro que dizemos amar, provavelmente nos quer bem e não nos deseja ver mutilados.

Então, como querer o bem ao outro, sem cuidar de si?
Não se encontram em diversos caminhos, o cuidar de si e o cuidar de outro?

Essa noção de sacrifício, que se mutila em nome de um proposito maior, parte da ideia de que existe uma separação clara entre eu e o outro, por isso a dor e a mutilação de nós mesmos, seriam aceitaveis para o "bem-maior" do outro, embora, muitas vezes se esqueça de perguntar a esse outro, o que ele gostaria...

E por essas e outras, me desagradam esses tantos sacrifícios.



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