segunda-feira, 16 de agosto de 2010

escritos sobre histórias, memórias e identidades.

(Quando eu descobrir como posta o video aqui, eu posto, no mais, boa leitura)


Post baseado no trailer do Documentário: Era das Utopias

"somos aquilo que lembramos, agora, além disso, costumo acrescentar que também somos aquilo que escolhemos esquecer."

"We are told what we are to think about, and then we are told that these are our memories. In fact, we are taught to remember"
(Nos dizem o que devemos pensar, e então nos dizem que estas são nossas memórias. De fato, somos ensinados a lembrar...)

As duas frases da abertura desse documentário me chamaram atenção.
A História dos fatos não existe "por si", historiadores a buscam, um trabalho tremendo é feito nesse sentido, mas estamos, inexoravelmente, separados do nosso passado. Outro ponto é a infinitude do passado, como exemplifica Valery em seu livro Variéte que se escolhermos um ano especifico, como 1789, dá pra pensar a quantidade de informação que existe nesse ano específico?
Quantas histórias possiveis? Existe "A História"? De fato, esses acontecimentos todos do ano de 1789 aconteceram, mas tornar isso em totalidade conhecimento é possivel? Só pra esse ano? Para qualquer ano? Todos?
Se pegarmos só pelo viez mais "senso-comum" da história, que é o político, militar e economico, poderemos dizer sim, muito sobre a efervescência política na Europa ocidental na épocao, mas e a Asia, o Oriente Médio, que poderiamos dizer sobre o "Novo Mundo", ou o Japão? Que poderiamos dizer sobre a Oceania e a Africa? Quantos tratados, correspondências, quantas movimentações de cunho político/militar ou economico podemos registrar e o que poderemos registrar de e sobre cada uma? Esse vortex de imagens e idéias é apenas para jogar a impressão de algo realmente vasto, Infinito no sentido de interminavel, que torna o trabalho do historiador, Infinito, no sentido de incompleto (e no sentido de que "nunca nos faltará assunto", como bem diria Prof. Chalhoub).
As histórias são feitas de escolhas. As memórias são construídas a partir das escolhas.
"Somos ensinados a lembrar". Quem nos ensinou a lembrar? O que?
Quem nos ensina a memória na nossa sociedade? Quais são os elementos dessa educação?
Como nos pensamos a partir daquilo que nos ensinaram que é a nossa memória?
Como se constroí a identidade do individuo a partir da relação que ele estabelece entre sua memória pessoal e sua memória histórica?
Não diz a memória, respeito ao futuro?

Nossas instituições escolares nos ensinam a construir um tipo de memória. A memória nos vem através das letras de canções, nos romances e nos livros de história escritos, nas novelas, nas conversas cotidianas, enfim, produzimos memória nas nossas vidas.
As memórias social e individual não se dissociam, assim essa memória do que foi a humanidade, da "nossa história", diz respeito a "quem somos" e portanto a cada um de nós. Pensamos e mesmo sem perceber produzimos uma memória social, não só do "tempo presente", do "tempo que somos", mas do nosso passado, de como nos relacionamos com aquilo que construiram que somos enquanto gênero humano, ou seja de nossa relação com o "conjunto social" que chamamos de "Humanidade."
Assim fiamos uma teia de relações através dos discursos produzidos pelos infintezimais pontos que nela existem, nós, os indivíduos, despojados de qualquer agrupamento que não o das moléculas e átomos de cada um (quiçá!).
E se a memória diz respeito ao futuro é porque , como você pensa o passado diz respeito ao presente e não ao passado em si (afinal eles já passado, nós não), reflete assim as nossa questões sobre "o mundo e as coisas", e sobre "nós", sobre nossa indivudualidade e sua inserção no mundo. Assim, elas acabam influenciando nas escolhas que tomamos, nas práticas que estabelecemos nas nossas vidas, como nos relacionamos inclusive com a forma como nos ensinaram a nos relacionar, a pensar e construir a memória.
A memória também é anterior a nós, produzimos a nossa já sendo "ensinados a lembrar",
nos relacionamos com o mundo mesmo antes de pensar como pensamos, somos "apresentados ao mundo", e a memória na qual somos educados nos ensina sobre ele, a memória dos pontos de encontro que esbarramos: Nossos livros, professores, televisões, musicas, principalmente, as pessoas a nossa volta. Nossa experiência no mundo e as relações que estabelecemos com a memória "apresentada", é que nos provoca a produzir nossa própria memória - o que escolhemos lembrar e esquecer - como indivíduo e sociedade (inclusive indissociaveis aqui).
Nesse ponto é bem díficil dizer que escolhemos. E até que ponto, o fato é que "mais ou menos" escolhendo e sendo escolhimos, criamos. E criamos, modificamos.
Nessa teia, de infinitezimais pontos, é onde se produz a sociedade. E a memória social serve em grande medida de "entendimento-justificativa" para o que existe no tempo presente - seja para afirmar algo como "legítimo", seja para sua "deslegitimação".

A fragmentalidade da História nos lançou sobre um mar de dúvidas, mas boa parte das memórias produzidas que me esbarram , vejo, carregam em si o tom do "discurso de verdade".
Por que ainda nos apegamos a essa disputa? Pra quê?
Em um campo onde quase tudo pode ser justificado, a verdade não passe de ser reduzir a história a um meio para se atingir a verdade desejada, verdade-querida. Logo, quase "qualquer verdade" é possivel. E fazemos isso exaustivamente, academicos ou não, insistimos na busca de respostas e de justificações das nossas teorias favoritas. E conseguimos claro, todos. E disputamos nossas verdades a tapas, quando não nas guerras.


"Nossas convicções são secretamente assassinas." Paul Valery





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