quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Quebrar do ser.

Não cabemos nesses caixotes que nos forçamos adentro. Somos fatiadores, educados para multilar, auto-multilar e sermos multilados. Assim funciona a máquina, dizendo o que devemos cortar - em nós mesmos e nos outros. E assim, somos muito bons nisso. Cortamos.
Aquilo que não se pode ver. Aquilo que não se pode ouvir. Aquilo que não se pode dizer.
Nos cortamos. E a nós mesmos.
Pedaços que não cabem, que não produzem, que não levam-a-lugar-nenhum.
Convencidos pelo medo da existencia ameaçada de que precisamos nos valorizar mais para nos vender. E que para nos valorizar precisamos "estar nos conformes", fazemos isso com uma precisão incrivel, começando pelos primeiros anos de vida de nossos mais jovens semelhantes.
Os ensinamos a fazerem eles próprios. Se cortar é mais que um dever, uma necessidade. e embora horrenda, cultuada como arte.
Sob a alcunha da flexibilidade, o fio de uma lâmina, "você é radical demais" "você precisa ser mais flexivel", "desse jeito você não vai a lugar nenhum" , "você precisa ser mais..." "você não pode ser assim..."
É , precisamos, antes de qualquer outra coisa SER Mais. mas não ser mais qualquer outra coisa.
Mas fracassamos crassamente. Foi o mais belo fracasso da humanidade - multilar-se. Sim, nos retalhamos aos pedaços, e assim também produzimos todo o tipo de reação: Homens encaixotados, cortados e furiosos. Mulheres, encaixotadas , cortadas, revoltadas.
Há em nós, cada gota de revolta, contra essa grande faca que nós mesmos fazemos e reproduzimos, que cabe a nós dar fim.

É uma faca cega , surda e muda. Que diz que seus pensamentos não valem nada. Que você não está do "modo certo". Essa faca, surda, sem alteridade. Que retalhou nosso tempo. Nossas relações. Nosso mundo. Nossos corpos. Que só existe, porque amolamos ela todo dia - nas nossas palavras, no nosso modo de pensar, ensinados a ser, multiladores. A reproduzimos.
Mas nos revoltamos, fracassamos. E assim, em cada um de nós a resistencia: A resistencia daqueles que fogem, que se entristecem, que lutam, que morrem.

A resistencia do corpo que grita contra a indiferença de si mesmo.
Que grita destruindo tudo por dentro do eu que se desconhece.

Nossa profunda revolução semeada.

Que há de se aflorar!



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