quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Beleza...

Quando era pequeno, comentei noutro post, fiz parte da casta dos feios.
E fiz mesmo (aliás, faço e assino embaixo), eu era um garotinho, que sempre cortava o cabelo no mesmo corte-cuia de sempre, um timido e medroso, e ainda por cima arrogante, brigão - e bem sabia - apanhar.
Eu era ridicularizado frequentemente, tentava compensar com desempenho escolar, mas na terceira série uma professora me desacreditou que valia realmente apena aquilo, aquela dedicação cega, aos mestres e aos pais - fruto da educação familiar , principalmente do meu pai.
Isso piorou um pouco as coisas, porque além de ser um derrotado na escolinha, era um derrotado em casa, e minha primeira recuperação foi o inicio de um longo ciclo de crises ansiosas de dar diarréias terriveis - que inclusive, em tempos de grande ansiedade, tenho até hoje.
Como goleiro do time "dos fracassados", eu era risivel, porém, e eu nunca baixei a cabeça.
Talvez fosse o amor de minha mãe, ou simples petulancia, orgulho ou arrogância da minha parte.
Eu era um goleiro, ruim, e brigão, "raçudo" (e no futebol sou o primeiro e o ultimo até hoje) - aos poucos no gol eu melhorei um pouco, mas foi fruto de uma irritação que eu já tinha começado a pegar desse "grupo dos melhores".
Esse "melhor" sempre existiu em quase todos os lugares - no RPG, na escola, no futsal, no Kumon, exceto no Kung Fu.
E ali foi meu templo.
De um garoto desorientado, sem auto-estima, com problemas de timidez , com angustias muito mal resolvidas, com um estranho circulo de amigos, com incertezas a respeito de tudo, com o mesmo cabelo de cuia, sem óculos apesar da miopia, com os dentes amarelados, pelos mals hábitos de escovação - que existem - não tão ruims como na época, até hoje - sem coragem, curvado, como que querendo se esconder.
Foi assim que eu cheguei ali.
No lugar onde, pela primeira vez, o esforço era a palavra de ordem, o mais velho era o mais respeitado, não por ser o melhor, mas por estar dentro do Kung Fu a mais tempo, como alguem que teria mais experiência a falar, por vivência e não por "sucesso ou fracasso", onde, aos poucos, eu entendi a dimensão pessoal do Kung Fu - e exatamente por isso a inexistencia dos melhores e piores - e o mais interessante foi perceber isso justamente na época em que acusavam: "você não vai dar conta, você não serve para isso, desista".
Sabe, eu demorei dois meses para aprender a "andar em arqueiro", eu paguei mais flexões do que a maioria dos novatos que ajudei, e ainda por indisciplina, eu cochilei no trieno algumas vezes, e me machuquei nas lutas dos meus olhos encherem d'agua, eu não sou o talentoso, e eu me orgulho disso.
Esse tempo me ensinou, foi a criar uma nova concepção de beleza na minha cabeça.
"Até quando você vai abaixar a cabeça pro mundo e deixar que ele pise em você?"
"Levanta a cabeça!" - Eu duvido que vou me esquecer dessas palavras.
O belo pra mim, não está relacionado a uma gama de valores puritanos que definem os "melhores da sociedade", longe disso, está marcado pelo suor na testa e pelo sorriso no rosto, está marcado pelas lagrimas de esforço e pelas horas despreendidas no trabalho sincero - Kung Fu - Trabalho Árduo, passou a ser, minha visão da beleza.
Eu acho belo quando vejo o espirito das pessoas nas coisas, quando eu vejo que há um fragmento delas ali, é uma expressão da própria identidade dela.
Eu me encanto, e assim como os olhos delas brilham quando estão nesse estado, eu também brilho e me maravilho, poucas coisas, pra mim são tão bonitas quanto isso - especialmente quando envolvem uma superação pessoal que a pessoa não se acreditava capaz - eu acabo vendo um pouco de mim, talvez presunsão, mas o bom é poder sentir também, ou achar sentir, um pouco do que sentem.
As vezes, nem sabe, mas eu fico ali de longe - só olhando e rindo.
Seja um jogo de volei, ou um poema, seja um texto, um livro, ou um personagem de rpg, seja um kati que conseguiu concluir, ou uma base que conseguiu fazer, seja um inglês que não acreditava saber.
E nessa beleza cabem, lágrimas, sangue, riso e suor.
Cabe o fedor dos vencedores de uma competição esportiva, cabe o sangue do nascimento de uma criança, cabe as lágrimas de uma conquista frente a um mar de descrença e pressão, cabe nela a vitória dos tristes sobre uma de suas tristezas, inclusive cabe eles além de serem tristes serem também outras coisas, inclusive eles mesmos e não "os tristes".
Cabe uma sinceridade da qual eu sinto falta.

Cabe um mundo que almejo com os olhinhos brilhantes de uma criança de seis anos.


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Um comentário:

Nadia Stabile disse...

BOA NOITE THIAGO!!! como vai? olhe te agradeço a excelente mensagem lá no blog de Educação democrática!! REPASSEI PARA O GRUPO!!! tá? volte sempre!! e tudo de bom!! Adoro Ouro Preto, vc mora lá ne? abraço