quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Feiura...

Universidade e sono não combinam. Estou aqui, a terminar um download de algo nem tão importante assim, porém que já está no final e o barulho do computador ligado me tirou da cama.
Então prefiro terminar isso logo, a ter que suportar o barulhinho incomodo.
Acho que as coisas por aqui estão limpas demais, minhas palavras estão sendo filtradas pela ditadura daquilo que é "belo".
É um vício, se escreve de uma forma que agrade à leitura, se escreve pra cima, de forma otimista, o que muitas vezes tolhe a sinceridade.
Eu detesto meu tom mais amargo, mas não sou feito de água com açucar.
Cabe aqui um exercício (para mim?) de sinceridade e uma reflexão.
Os espaços de mim, dos quais falei nas ultimas palavras que escrevi por aqui, foram forjadas no duro aço do tempo e da história, vários são frutos de cicatrizes.
Eu não compreendo o mundo da fantasia, de um belo quadro ou conto de fadas, eu sempre o entendi a partir do chão, a partir das coisas feias e sujas.
Essa é a minha representação no mundo, eu fui o garoto sujo, o menino feio, o desorganizado, o bagunceiro e o indisciplinado.
Quando mais velho, fui também, o monstro, o pessimista, o idealisa, o sonhador...
Hoje, se dependesse dos outros, eu já não saberia mais quem eu sou.
Da direita ou da esquerda? Um fascistinha autoritário? Um homem já formado?
Um idealista necessário? Um imaturo? Um fracassado? Um doente? "etecetera"? (seja lá o que for...)
O meu lado da moeda, é o lado dos camponeses, e não o lado da aristocracia, com seus principes, e princesas.
Nada do que fiz de primeira deu exatamente certo, nada, e eu não me sinto nessa hipócrita necessidade social de "dar certo de primeira", apesar de ainda sentir um pouco de vontade de "dar certo" - apesar de quando paro pra pensar - também acabo não querendo "dar certo".
Acho que a dimensão humana da vida comporta coisas que esse conceito de beleza, que eu "sinto" sem certeza se existe, não comporta.
Tudo é muito fechado dentro desse mundo de coisas belas.
No limite, acho que não existe moeda, mas esse mundo de fantasia, é mais real do que eu imagino para uns (com seus helicopteros por aí), é "realizado" na cabeça de outros, ainda que só na cabeça.
O que me irrita, além disso, é a dimensão desumana desse mundo.
Nele não cabem os doentes, os tristes e os pobres, não cabe a própria sujeira da vida, os bichos de pé, as noites sem banho, a roupa suja acumulada, não cabe a sujeira das unhas, tampouco os pés descalços pisando na lama.
Tudo é tão angustiantemente limitante, e o pior, tudo é tão hipocritamente colocado e contaminante, que várias das minhas próprias palavras, sobre as passagens humanas da minha vida, e que exatamente por isso tinham sua "sujeira", são floreadas ou amenizadas, de uma forma que hoje, me incomodou profundamente.
Se eu almejo a plenitude, não posso negar um pedaço de mim.
Minha postura e classe social, talvez deem a impressão de que eu sou mais um dos eupatridas da modernidade, porem, que bem lembro de minha infancia, não - eu detesto o mundo belo.
Que bem lembre do tempo todo, uma das coisas que mais me irrita é a estima das pessoas que eu gostava destruidas, por serem colocadas "no saco dos feios e derrotados" e um massacre pessoal diário recaia sobre os ombros delas.
E eu suspeito, que isso seja um trauma social com o qual vivemos - afinal, até hoje, pouquissimos são os que eu conheci com uma estrutura interna forte o suficiente para que tivessem uma auto estima, que fosse sustentavel.
Culturalizamos o culto à beleza, criamos os padrões, do tempo certo, do emprego certo, da vida certa, de consumo, de emprego, do corpo certo - o padrão das pessoas que são belas.
É uma xenofobia social - aquilo que é externo à classe dos belos, é repudiavel.
A questão é que a loucura mora aí:
Somos nós mesmos que criamos esses valores, os reproduzimos sem refletir.
Somos os que mais sofrem com isso.
Por que, no limite,

somos todos uns feios.






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Um comentário:

Aline Zouvi disse...

Cara, gostei muito desse texto. Precisamos sempre repensar esses valores... Chega a dar nojo, ironicamente, olhar à volta e só perceber perfeições forçadas. Não é só você que está "farto de semi-deuses", felizmente. Essa coisa de autoestima pega muito na gente. Desperdício de energia e tempo.